terça-feira, 24 de setembro de 2024

Milei denuncia na Assembléia Geral que a ONU tenta impor modelo coletivista ao mundo inteiro


Em sua primeira participação na Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU), o presidente da Argentina, o libertário Javier Milei, apresentou um discurso carregado de críticas ao fórum multilateral, além de denunciar que a entidade perdeu de vista seus princípios fundamentais para se transformar em um organismo que busca “impor uma agenda ideológica global”, especialmente sob a chamada Agenda 2030, o qual foi qualificado como um “programa de governo supranacional de corte socialista”. A poucos metros do Presidente, na zona diplomática designada para a Argentina, posicionaram-se Karina Milei -secretária Geral da Presidência da Argentina, a chanceler Diana Mondino e o ministro da Economia, Luis Caputo. E uma fila atrás, Gerardo Werthein -embaixador argentino nos Estados Unidos-, a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, e o representante anterior na ONU, Ricardo Lagorio. Antes de iniciar sua crítica pontual à involução da ONU, Milei reconheceu seu passado histórico baseado na difícil convivência multilateral em um mundo que atravessou a Guerra Fria, a implosão da União Soviética e o surgimento do nacionalismo europeu. “A Organização das Nações Unidas nasce do horror da guerra mais cruenta da história global, com o objetivo principal de que nunca voltaria a ocorrer”, sinalizou ao início de seu discurso. E continuou questionando sua atualidade geopolítica ambivalente: “Em algum momento, esta organização deixou de velar pelos princípios esboçados em sua declaração fundamental e começou a mudar”. “A organização agarrou em pedra seus princípios fundamentais na declaração universal de direitos humanos. Aqui foi consignado um acordo básico em torno de uma máxima: que todos os seres humanos nascem ‘livres, e iguais em dignidade e direitos’. Sob a tutela desta organização, e a adoção dessas ideias, durante os últimos 70 anos a humanidade viveu o período de paz global mais longo da história, que coincidiu também com o período de maior crescimento econômico da história. Se criou um Fórum Internacional onde as nações puderam dirimir seus conflitos através da cooperação, em vez de recorrer instantaneamente às armas e se logrou algo impensável: sentar, de maneira permanente, as cinco potências maiores do mundo em uma mesma mesa, cada uma com o mesmo poder de veto, a pesar de ter interesses totalmente contrapostos”. E concluiu: “Tudo isso não fez com que o flagelo da guerra desaparecesse, mas se logrou, por agora, que nenhum conflito escalara em proporções mundiais”. Após esta descrição do papel da ONU durante as últimas décadas do século XX, o presidente plantou seu questionamento ideológico em um fórum multilateral que busca uma nova identidade global. De fato, o chamado Pato do Futuro -que Milei critica- propõe reformar sua arquitetura institucional. O presidente argentino afirmou que a ONU se transformou em um “leviatán de múltiplos tentáculos que pretende decidir não só o que deve fazer cada Estado-nação, mas também como devem viver todos os cidadãos do mundo”. Esta transformação, conforme Milei, levou a ONU para impor uma agenda ideológica em múltiplos aspectos da vida social e econômica dos países membros. Neste contexto, Milei foi explícito: as Nações Unidas buscam “impor um modelo de governo supranacional de burócratas internacionais”. Ao concluir seu questionamento para a atual conjuntura da ONU, o chefe de Estado avançou sobre a Agenda 2030 e o Pacto do Futuro, que será apresentado como a próxima jornada do organismo multilateral. Para Milei, este programa não é mais do que uma intenção de impor um modelo coletivista a nível global. “A Agenda 2030, com boas intenções em suas metas, não é outra coisa que um programa de governo supranacional que atenta contra a soberania dos Estados-nação e violenta o direito à vida, a liberdade e a propriedade das pessoas”, sustentou. o presidente argentino. E acrescentou: “É uma agenda que pretende solucionar a pobreza, a desigualdade e a discriminação, com uma legislação que aprofunde. A história do mundo demonstra que a única maneira de garantir a prosperidade é limitar o poder da monarca, garantindo a igualdade diante da lei; e defendendo o direito à vida, à liberdade e à propriedade dos indivíduos”. Milei, apoiado em sua mirada libertária do mundo, completou um conceito pessoal que nunca havia sido apresentado no recinto da Assembléia General:  “Vemos como uma organização, que nasceu para defender os direitos do homem, foi um dos principais propulsores da violação sistemática da liberdade, como por exemplo com as quadras de nível global durante o ano de 2020, que deveria ser considerado delitos de Lesa Humanidade”. "O que está sendo discutido esta semana aqui, em Nova York, não é outra coisa que a profundidade desse rumo trágico que esta instituição adotou”, sinalizou Milei, ao aludir às discussões sobre o Pato do Futuro, um documento que promete mais compromissos rigorosos sobre a Agenda 2030. Milei ampliou sua crítica ao que considera uma falta de coerência na ONU. Um dos seus sinais mais duros relacionados com a composição do Conselho de Direitos Humanos da ONU. “Nesta mesma casa, que diz defender os direitos humanos, permitiu-se o ingresso ao Conselho de Direitos Humanos a ditaduras sangrentas como Cuba e Venezuela, sem a mínima reprovação”. Milei também desestabilizou o que considerava como um duplo padrão na defesa dos direitos das mulheres, questionando a inclusão de países que castigam as mulheres para mostrar a pele no Comitê para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher. “Nesta mesma casa, que diz defender os direitos das mulheres, permite-se o ingresso no comité de países que castigam suas mulheres por mostrar a pele”. A referência, óbvia, foi ao Irã. Outro aspecto chave no discurso de Milei foi uma crítica às políticas econômicas impulsionadas pela ONU, às quais foram acusadas de serem intervencionistas e de prejudicar os países em desenvolvimento: “Foram promovidas políticas coletivistas que contrariam o crescimento económico, violentaram os direitos de propriedade e entorpeceram o processo económico natural”. “Regulações e proibições impostas precisamente pelos países que se desenvolveram graças a fazer o mesmo que hoje condenam”, acrescentou, e falou de uma relação “tóxica” entre as políticas de governança global e os organismos de crédito internacional, que segundo ele, impõem restrições às nações menos desenvolvidas, convertendo-as em “deuses perpétuos” das elites globais. No final de seu discurso, Milei fez um apelo político a todos os membros da ONU: “Todavía estamos a tiempo de apartarnos deste rumo. Quero ser claro com algo para que não haja más interpretações: a Argentina, que está vivendo um profundo processo de mudança na atualidade, decidiu abraçar as ideias da liberdade. Essas ideias que dizem que todos os cidadãos nascemos livres e iguais antes da lei, que temos direitos inalienáveis ​ouotorgados pelo criador, entre aqueles que se encontram o direito à vida, à liberdade e à propriedade”, expressou. E acrescentou: “A partir deste dia, embora a República Argentina tenha abandonado a posição de neutralidade histórica que nos caracterizou, estará na vanguarda da luta em defesa da liberdade”, concluiu. O presidente Javier Milei ouviu seu colega de El Salvador, Nayib Bukele, que teve o gesto de mudar seu lugar na lista de oradores para evitar que Milei não se cruzasse com o mandatário iraniano Masoud Pezeshkian. O Irã é responsável pelos ataques à AMIA, pela embaixada israelense em Buenos Aires e pelos ataques a Israel cometidos em 7 de outubro de 2023. 

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