Até o momento, não é possível saber todos os prejuízos causados pela paralisação de 11 dias, que desabasteceu mercados e fábricas, resultou num pacote de R$ 13,5 bilhões em benefícios aos motoristas e levou Pedro Parente a deixar o cargo de presidente da Petrobras. De acordo com a nota técnica do Ipea, “será confirmado nos próximos dias se houve algum processo de desorganização da cadeia produtiva”, além de ser possível mensurar no detalhe o que houve com fornecimento de insumos e problemas fitossanitários, avalia a nota, assinada pelo diretor de Macroeconomia do instituto, José Ronaldo de Castro Souza Júnior. Com a regularização na distribuição de alimentos, combustíveis e produtos regularizada, o governo reduzirá benefícios para levantar cerca de 4 bilhões de reais para manter a saúde das contas públicas ao mesmo tempo em que reduz impostos sobre o óleo diesel. Outras medidas, como o tabelamento do frete e direcionamento de cargas da Conab, também geram críticas sobre seus impactos adversos na economia.
A análise do Ipea mostra que nas próximas semanas o consumidor vai arcar com os prejuízos absorvidos até o momento pelos produtores agrícolas, com pequeno impacto de alta na inflação que deve ser revertido ao longo dos próximos meses. No front inflacionário, o IPCA está abaixo dos 3% no acumulado em 12 meses desde maio do ano passado, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, não acredita que a crise mude os rumos da política monetária. Os produtores de leite descartaram 280 milhões de litros do alimento, ao mesmo tempo em que reduziram a quantidade de ração para as vacas, o que vai exigir de um a dois meses para normalização, diz o texto do Ipea. “Esse manejo implicará problemas para a retomada da produção nos mesmos patamares anteriores à paralisação”, diz o documento, citando a retirada da produção de animais com mais de 200 dias pós-parto. “Dentro da indústria, o processo de fabricação de derivados lácteos pode ser comprometido por um tempo maior”, afirma o Ipea, ressaltando que o cenário “deverá afetar diretamente os preços do leite e derivados no mercado doméstico”.
O setor de aves e suínos registrou prejuízo direto de R$ 3 bilhões com a morte de 64 milhões de aves adultas e pintinhos — valor que já engloba perdas de 350 milhões de dólares com 120 mil toneladas que não foram exportadas. “Em relação ao preço do frango no mercado doméstico, o que se observa é que ele já vinha apresentando queda desde janeiro, acumulando cerca de 20% nos primeiros quatro meses do ano. O aumento de 30% no preço nas gôndolas irá recuperar essa queda”, diz o documento. Os prejuízos de frutas e hortaliças totalizam 920 milhões de reais, com o descarte de mercadorias. “Como o ciclo das hortaliças é curto, em termos de abastecimento, já na próxima semana o consumidor terá o produto nos mercados na maior parte das cidades". As frutas mais atingidas foram mamão, uva, manga, goiaba e acerola. O setor de carne bovina, por outro lado, deixou de embarcar 170 milhões de dólares, segundo o Ipea.
Nenhum comentário:
Postar um comentário