sábado, 25 de junho de 2016

Ex-petista Delcídio do Amaral diz em juízo que "algumas CPIs só aparecem em eleição", ou seja, são elementos de extorsão


Delator da Operação Lava Jato, o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) relatou em audiência ao juiz Sergio Moro nesta sexta-feira (24) que algumas CPIs só "aparecem em época de eleição", para que seja feito "algum tipo de negociação". Ou seja, extorsão de pessoas, em geral empresários, ameaçados de convocação para depor. "O que se negociava eram doações", afirmou o antigo parlamentar. "Trocavam doações para as eleições, em se convocando ou não para depor determinadas pessoas. Isso não é um fato isolado". Delcídio, que foi líder do governo de Dilma Rousseff (PT) até ser preso, em novembro do ano passado, depôs como testemunha de acusação em um processo contra Gim Argello (ex-PTB-DF). Ex-senador e preso pela Lava Jato, Argello é acusado de cobrar propina de empresários para não convocá-los para a CPI da Petrobras, em 2014, da qual foi vice-presidente. Ele nega irregularidades. "Isso não é um fato isolado. Existem antecedentes de CPIs em que houve algum tipo de negociação", disse Delcídio. Ele lembrou que, em 2010, o Congresso já havia realizado uma CPI da Petrobras: "Engraçado: coincidentemente, em ano de eleição". Delcidio também presidiu a CPI dos Correios, em 2005, que investigou o mensalão. Sobre essa comissão, porém, que concluiu pela existência do pagamento de propina pelo PT, ele não fez referência. Disse que o relatório foi concluído e votado "de uma forma extremamente difícil, com xingamento". Delcídio confirmou a tese de acusação contra Argello e os outros réus. Disse que ouviu dos empresários Júlio Camargo e Ricardo Pessoa, ambos delatores da Operação Lava Jato, que eles receberam cobrança de propina de parlamentares para não serem convocados a depor. Para o ex-senador, "todo empresário tem preocupação com uma CPI". "A CPI, por mais que não dê em nada, só o fato de ser convocado, ouvindo perguntas as mais estapafúrdias... Claro que todo empresário tem preocupação, é natural", afirmou ele. No depoimento, ele ainda mencionou que Pessoa e Camargo estavam "indignados" e "muito injuriados" com a cobrança. Posteriormente, ficou sabendo que ambos acabaram pagando para evitar a convocação. Segundo o ex-senador, as cobranças vinham, além de Argello, também do deputado Marco Maia (PT-RS) e do então senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), hoje ministro do Tribunal de Contas da União. Ambos são alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal. Delcídio afirmou que toda CPI é "um processo político": "Uma CPI normalmente leva a uma negociação de temas, da condução dos trabalhos". É aí que reside o "poder de negociação", na verdade, da chantagem e da extorsão. O ex-senador, que cumpre prisão domiciliar, entrou pela garagem na Justiça Federal no Paraná e não conversou com a imprensa. O ex-senador Gim Argello, que se desfiliou do PTB no início do mês e anunciou que deixaria a vida pública, afirma que foi envolvido "numa situação que jamais existiu" com o objetivo de "macular seu nome".

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