O ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, detalhou, em depoimentos de delação premiada, que repassou mais de 100 milhões de reais em propina para políticos do PMDB entre 2003 e 2014. Segundo ele, o dinheiro era recolhido das empresas que mantinham contratos com a subsidiária da Petrobras. "Durante a gestão do depoente na Transpetro foram repassados ao PMDB pouco mais de 100 milhões de reais, cuja origem eram comissões pagas ilicitamente por empresas contratadas", diz trecho do depoimento de delação premiada. "Quando era o caso de doações oficiais, o depoente acertava com a empresa o montante, a semana que iria ser feita e comunicava a empresa para qual partido e político a doação deveria ser feita", explicou. No pedido de prisão contra a cúpula do PMDB encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já havia apontado o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebeu 32,2 milhões de reais em propinas e subornos recolhidos a partir de contratos com a subsidiária da Petrobras; o senador Romero Jucá embolsou 21 milhões de reais; e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), 18,5 milhões de reais em dinheiro desviado de contratos da Transpetro. O primeiro repasse, segundo Machado, foi feito ou em 2004 ou em 2005, no valor de 300.000 reais aos senadores. Os pagamentos não tinham periodicidade inicialmente, mas passaram a ser anuais a partir de 2008, quando eram pagos 300.000 reais por mês a Renan e 200.000 reais mensais a Jucá, durante dez ou onze meses por ano. A entrega do dinheiro a Renan Calheiros era feita na empresa do filho de Machado, Daniel, por meio do advogado cearense Felipe Parente, até 2007. Depois desse período, o presidente do Senado passou a receber diretamente do dono ou do presidente da empresa que iria fazer o pagamento o codinome de seu intermediário, o endereço, a data e o intervalo de hora na qual o pagamento deveria ser feito. Caso Sergio Machado não pudesse ir a Brasília para acertar os repasses com Renan, o senador enviava um representante à Transpetro, no Rio de Janeiro, para obter as informações. Em relação a Jucá, os pagamentos eram acertados sem intermediários e em reuniões a cada trinta ou sessenta dias. Dos 32 milhões de reais pagos a Renan, 8,2 milhões de reais foram repassados por meio de doações oficiais. Já em relação à propina paga a Jucá, 4,2 milhões de reais foram por meio de doações de campanha oficiais. Conforme relato do procurador-geral, nos dias 23 e 24 de fevereiro e nos dias 10 e 11 de março, Sergio Machado, que guardou por anos detalhes da contabilidade que irrigava os cofres peemedebistas, manteve conversas confidenciais com caciques políticos em Brasília. Queria alertar Renan, Sarney e Jucá que não pretendia ser submetido ao rigor do juiz Sergio Moro, que conduz com mão de ferro a Operação Lava Jato em Curitiba. Desde que foi alvo de busca e apreensão no dia 15 de dezembro, durante a Operação Catilinárias, braço da Lava Jato voltada a autoridades com foro privilegiado, Sergio Machado começou a discutir com o filho Expedito, conhecido como Did e também agora delator da Lava Jato, como gravar conversas com políticos. Nesta quarta-feira, por decisão do ministro Teori Zavascki, todas as revelações do ex-presidente da Transpetro vieram à tona. Segundo Machado, por ser ministro das Minas e Energia e, portanto, responsável pela Transpetro, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) cobrou a maior quantia de propina mensal que era paga a ele e aos senadores Renan Calheiros e Romero Jucá. Segundo Machado, o então ministro disse que tinha a expectativa de receber 500.000 reais por mês. Como resposta, o ex-presidente da subsidiária da Petrobras disse que poderia pagar 300.000 reais mensais com algum benefício extra, em função dos recebimentos pelas empresas que tinham contratos com a Transpetro. Dos 100 milhões de reais que Machado afirma ter repassado ao PMDB, 24 milhões de reais foram para Lobão, entre 2008 e 2014, de acordo com o delator. Machado também contou aos investigadores que Lobão queria receber os pagamentos de propina em dinheiro e no Rio de Janeiro, por meio de seu filho Marcio Lobão. A partir de então, Machado se reunia com o então ministro a cada vinte ou trinta dias para definir a data e o valor da próxima parcela de propina. Dos 24 milhões de reais repassados a Lobão, 2,7 milhões de reais foram repassados por meio de doações legais pela Camargo Correa e Galvão Queiroz. Segundo o delator, essas empresas doaram 1 milhão de reais cada, em 2010. Em 2012, a Galvão fez mais um repasse de 750.000 reais a Lobão. Outro cacique peemedebista contemplado pelas propinas extraídas por Sérgio Machado em contratos da Transpetro é Jader Barbalho (PA). Segundo o delator, o senador paraense recebeu cerca de três milhões de reais em propina, "sempre em espécie", entre 2004 e 2007, período em que também passou a ser um dos pilares que sustentavam politicamente Sérgio Machado em sua cadeira. No oitavo termo do acordo de delação de Machado, o advogado cearense Felipe Parente é apontado pelo delator como o responsável por coletar a propina em dinheiro vivo junto às fornecedoras da Transpetro e entregar os valores a Jader Barbalho. Parente entrou na mira dos investigadores da Lava Jato por sua atuação na Transpetro. Sérgio Machado também afirma ter sido cobrado por Barbalho para quitar uma dívida dele junto ao banco BVA, o que o delator nega ter feito. Ele admite, no entanto, ter coletado propina junto a uma empresa francesa para quitar parte de uma dívida de Barbalho com um advogado. Os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Edison Lobão (PMDB-MA) também teriam ajudado o paraense.
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