Homem que começou servindo à ditadura militar e terminou como esbirro no PT tem a cara de pau de defender a sua herança, que jogou a política externa brasileira no lixo
Por Reinaldo Azevedo - Celso Amorim, ministro das Relações do governo Lula, escreveu um artigo abjeto na Folha deste domingo, atacando o discurso de José Serra, hoje titular da pasta. O texto se chama “Guinada à direita no Itamaraty”. Não há ali um só argumento que pare em pé. O petista tardio evidencia que aprendeu direitinho a lição. Responde a fatos com mistificações e retórica mixuruca. Não foi por outra razão que o apelidei, quando ministro das Relações Exteriores, de “Megalonanico”. Referiu-se à dura e necessária resposta que Serra deu a alguns brucutus do bolivarianismo, que acusaram um golpe no Brasil, como “comunicados” que lembram “os tempos da ditadura”. Pois é… O único dos dois que serviu a uma ditadura foi o próprio Amorim. Quando assumiu a Embrafilme, em 1979, Serra, que havia fugido de dois golpes militares, o brasileiro e a chileno, estava no Brasil havia apenas dois anos. Amorim, poucos se lembram, foi chanceler no governo Itamar Franco e assumiu postos de alta relevância no governo FHC. Procurem lá. E não se tem sinal de inconformismo com a então política externa do Brasil. Guindado por Lula ao Itamaraty, em 2003, fez uma súbita conversão à esquerda e passou a comandar, então, a petização das Relações Exteriores, tendo Marco Aurélio Garcia como o braço interventor do próprio Babalorixá e Samuel Pinheiro Guimarães Neto como a referência teórica da esquerdização. A diplomacia brasileira mergulhou na ineficiência e no lixo moral. Não houve ditador do mundo ao qual Lula não tenha se abraçado e não houve democracia que não tenha sido hostilizada. Um trecho de seu artigo é particularmente patético. Escreve ele: “Há muito que ‘especialistas’, cujos discursos são ecoados pela grande mídia, acusam de “partidária” a política externa dos governos Lula e Dilma, esquecendo-se que muitas de suas iniciativas foram objeto de respeito e admiração pelo mundo afora, como a própria Unasul — aparentemente desprezada pelos ocupantes atuais do poder — os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul; sem os quais não teria havido a primeira reforma real, ainda que modesta, do sistema de cotas do FMI e do Banco Mundial) e o G-20 da OMC (Organização Mundial do Comércio), que mudou de forma definitiva o padrão das negociações em nível global". Responda-se: a Unasul é uma patacoada que apenas buscava tirar o relevo da OEA, e as demais iniciativas pouco devem, de fato, ao Brasil. Não foi só na política de direitos humanos e no apoio asqueroso a ditadores e assassinos que a política do senhor Amorim se destacou. Ele também é o principal responsável por ter feito o país apostar todas as suas fichas na chamada Roda Doha, que, segundo o gênio, levaria a Organização Mundial do Comércio a promover uma verdadeira revolução em benefício do Hemisfério Sul, com ganhos expressivos para o Brasil. O Itamaraty insistiu nessa patacoada quando já não havia esperança de resultado. Enquanto isso, o mundo ia celebrando acordos bilaterais, e nós continuávamos atados ao Mercosul, com, atenção, apenas três acordos bilaterais em vigência: com Israel, Egito e Autoridade Palestina. Essa é a eficiência do sr. Amorim. Disso é feita a sua altivez. Alguns ditadores com os quais Lula apareceu abraçado já estão comendo capim pela raiz, depostos por seu próprio povo. Abusando da demagogia, escreve o Megalonanico: “A África, de onde provém metade da população brasileira e onde os negócios do Brasil cresceram exponencialmente — sem falar na importância estratégica do continente africano para a segurança do Atlântico Sul — ficará em segundo plano, sob a ótica de um pragmatismo imediatista. Sobre os Brics, o Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), as relações com os árabes, uma menção en passant. Esqueça-se a multipolaridade, viva a hegemonia unipolar do pós-Guerra Fria. Nada de atitudes independentes". É um lixo moral. A lembrança de que metade da população provém da África é só demagogia. Tratar o continente como uma unidade faz tanto sentido como alguém se referir ao continente americano como uma coisa só. Seja com países africanos, seja com países árabes, seja com qualquer outro, as relações têm, sim, de levar em conta os interesses do Brasil, o que não quer dizer que, nos fóruns adequados, o país não deva e não possa defender os bons valores. Sob o pretexto de cavar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, a “multipolaridade” da política externa brasileira se resumiu ao antiamericanismo xucro e à adulação de tiranias mundo afora. Celso Amorim não passa de um faroleiro. Despontou para o mundo servindo a uma ditadura e termina seus dias como esbirro do PT. Entre uma ponta e outra, cospe no prato que comeu, depois de ter levado a diplomacia brasileira ao ponto mais baixo de sua história. Ah, sim: as escolhas que fez, mantidas por seus sucessores, deixaram um rombo de R$ 800 milhões na pasta. Nisso, ao menos, o Megalonanico foi mesmo gigantesco.
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