Enquanto o irmão Geddel Viera Lima (PMDB) foi atropelado por um candidato aliado ao PT na disputa pela única vaga da Bahia para o Senado, o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB) ganhou projeção nestas eleições, justamente pelo posicionamento combativo que tem adotado contra o governo federal. Candidato da Bahia mais votado para a Câmara dos Deputados, Vieira Lima integra a ala rebelde do PMDB – e chegou a sugerir o fim da aliança com a presidente Dilma Rousseff no pleito deste ano. Agora, defende que o partido não ocupe nenhum ministério da petista para não tornar incoerente a bandeira de lançar candidatura própria na disputa presidencial de 2018. Para o parlamentar baiano, a primeira semana pós-eleições evidencia que a presidente Dilma terá de cumprir a promessa de abrir espaço para o diálogo – o que não fez nos quatro primeiros anos de governo. “A presidente não foi eleita pela maioria do povo brasileiro. Quando se tem uma diferença tão pequena, as urnas sinalizam que o País não quer esse governo centralizador e totalitário. Sinalizam, sim, que quer um governo do diálogo”, afirma o deputado. “Não há mais espaço para o governo tratorar”, continua. Leia a entrevista concedida por ele ao site de VEJA.
De onde vem a insatisfação do PMDB com o governo? Quando Michel Temer defendia a reedição da aliança com Dilma, ele reconhecia que o PMDB não era valorizado. Mas dizia pretender que nesse segundo governo as coisas mudassem, que o PMDB começasse a ser ouvido e participasse efetivamente da construção de políticas públicas e da execução delas. Execução, aliás, que nunca foi possível porque o PMDB sempre ocupou ministérios periféricos. Então, no primeiro mandato, o PT ficava com o bônus, e o PMDB, com o ônus. Nós éramos chamados apenas para aprovar projetos, e, depois, eventuais bônus das políticas públicas eram atribuídos ao PT. Foi alertado ao Temer que a aliança estava trazendo prejuízos, e isso foi refletido nas eleições. Apesar de o partido ter eleito sete governadores, efetivamente saiu prejudicado: diminuiu a bancada na Câmara e importantes candidatos a governador da cúpula do partido perderam a eleição, como o Eduardo Braga (AM), o Henrique Alves (RN) e o Eunício Oliveira (CE). O PMDB estava apoiando um projeto hegemônico do PT, um projeto que só cuidava do crescimento deles.
Qual ministério o PMDB gostaria de ganhar agora? Eu defendo que o PMDB não tenha ministérios, embora quem vá conduzir esse processo seja o Temer. Hoje o PMDB já anuncia que terá candidatura própria para a Presidência em 2018. Só existe uma candidatura de situação ou de oposição. Se nós estivermos ocupando cargos no governo, não poderemos ter uma candidatura de oposição. A única opção que teria é uma candidatura do governo, mas o PT não costuma abrir mão para outros partidos. Então já começa aí o contrassenso. Para sinalizar para as bases que nós teremos candidatura própria em 2018, a primeira coisa que se tinha de fazer é não ter cargos no governo. Se não, é um projeto que já nasce morto, em que ninguém vai acreditar.
Nesse ano, o PMDB encabeçou um ‘blocão’, ao lado de partidos da base e de oposição. Para o novo mandato da Dilma, há ideia da reedição do ‘blocão’? O objetivo do blocão, assim como o da apresentação de candidatura própria para a presidência da Casa, é preservar a autonomia do Legislativo. E, se necessário for para que o Legislativo se valorize sem estar à reboque do Palácio do Planalto, eu acho que é uma opção fazer blocão ou tomar qualquer atitude para ter independência. A Dilma prometeu dialogar, mas não fez mudança alguma. A sinalização dada agora nesse início de governo é para a mesma prática. Não é à toa que a Câmara já retomou os trabalhos com a derrubada do decreto da criação de conselhos, que não é em absoluto nada contra a presidente Dilma ou o Planalto. Mas, já que está querendo começar um governo novo com ideias novas, e como isso é fruto de um governo velho e criado sem qualquer diálogo com o Parlamento, o bom senso recomenda retirar a matéria. Aí seria uma boa sinalização de disposição para o diálogo.
As eleições deste ano foram marcadas pelos votos em branco e nulos, além de um grande apoio à oposição. Esse resultado muda o comportamento do Congresso? Claro. Agora nós temos mais legitimidade. A presidente não foi eleita pela maioria do povo brasileiro. Ela não teve grande aprovação e logicamente isso é uma sinalização clara de que se quer uma oposição firme e forte. O PMDB sempre conversa com a oposição, tanto pelo seu tamanho quanto pela história que representa, e da mesma forma dialoga com o PT. Quando se tem uma diferença tão pequena para a presidente Dilma, as urnas sinalizam que o país não quer esse governo centralizador e totalitário. Sinalizam, sim, que quer um governo do diálogo, com uma coalizão efetiva, e quer a execução das políticas públicas. Sinalizam, ainda, que não há mais espaço para o governo tratorar. Agora é preciso espaço para conversar. O PT saiu da eleição declarando que vai mudar e dialogar. Cabe a ele cumprir o que está dizendo.
O PMDB é criticado pelo fisiologismo e pelo interesse por cargos. Como fazer acreditar que por trás desse posicionamento não está o interesse na reforma ministerial? O PMDB é tido como símbolo do fisiologismo por ser o maior partido. Não estou dizendo que não pratique isso, mas que todos os partidos praticam igualmente. Isso não é do PMDB, e sim da vida partidária do país, até porque os governos querem que isso continue porque é interessante para eles. Mensalão e petrolão nada mais são do que uma prática fisiológica de tentar ter o Congresso sob controle via cargos ou por vantagens. Mas as atitudes vão fazer a diferença. Por isso que eu defendo que o PMDB não tenha nenhum cargo e que não use a presidência da Casa para indicar ministros.
O senhor foi o deputado mais votado da Bahia. O resultado pode ser atribuído ao estilo combativo? É um mosaico, um conjunto de fatores. O jeito combativo ajuda, sim, porque a população identifica que tem alguém para lutar por ela. Eu também busco dar uma atenção especial ao eleitorado. Eu usei muito as redes sociais para interagir com as pessoas. Eu tenho um jeito que é muito acessível e os eleitores se sentem à vontade para me abordar. Eu procuro me comportar como um cidadão comum, então eles me veem efetivamente como um representante deles.
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