Entre os efeitos das restrições eles listam taxas de vacinação infantil mais baixas, piora nos desfechos de doenças cardiovasculares, queda em exames de câncer e deterioração da saúde mental. Segundo os cientistas, esse impacto levará a um maior excesso de mortalidade nos próximos anos, com os mais pobres e mais jovens carregando o fardo mais pesado. "Manter os alunos fora da escola é uma grave injustiça", diz o texto.
Os pesquisadores dizem que o conhecimento sobre o novo coronavírus avançou, e hoje já se sabe que a vulnerabilidade à morte por Covid-19 "é mais de mil vezes maior em idosos e enfermos do que em jovens": "Na verdade, para as crianças, Covid-19 é menos perigoso do que muitos outros danos, incluindo a gripe".
A chamada imunidade de rebanho é atingida quando a porcentagem de imunes é grande o suficiente para bloquear a transmissão. Para o coronavírus, estima-se que ela esteja entre 60% e 70% da população, bem acima dos 10% que já contraíram o coronavírus até hoje, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Segundo os cientistas que assinam a carta, a vacina é uma forma de atingir a imunidade de rebanho, mas não é indispensável. Como a maioria da população não corre o risco de morrer se for infectada, essa parcela deve continuar suas vidas normalmente, argumentam os cientistas.
Complicações de longo prazo provocadas pela Covid-19 não são mencionadas pela carta, batizada de Declaração do Grande Barrington, em referência à cidade em que foi escrita, no Estado de Massachusetts (EUA). Os autores sugerem que escolas e universidades devem adotar ensino presencial e retomar atividades extracurriculares, como esportes. "Os jovens adultos de baixo risco devem trabalhar normalmente, e não em casa. Restaurantes e lojas devem ficar abertos. Artes, música, jogos e outras atividades públicas devem ser retomadas".
A proposta ressalta que a proteção dos vulneráveis deve ser a prioridade de saúde pública. Entre possíveis medidas eles citam garantir que funcionários de casas de repouso estejam imunes ou façam testes frequentes e que todos os visitantes sejam testados. Um sistema de apoio deve ser organizado para fornecer alimentos, medicamentos e outros itens essenciais a idosos, para que eles não deixem suas casas. Quando possível, idosos devem encontrar os membros da família ao ar livre, e não dentro de sua casa, sugerem.
A carta diz também que todos, jovens ou idosos, devem adotar medidas como lavar as mãos e ficar em casa quando doentes, porque isso reduz o liminar necessário para propiciar a imunidade de rebanho.
Publicado em inglês, alemão, espanhol, português e sueco, ele é coassinado por professores e cientistas de dezenas de universidades do mundo, entre elas as britânicas de Londres, Cambridge, Leicester, Edimburgo, York e Glasgow (Reino Unido), Yale (EUA), de Mainz (Alemanha), Tel-Aviv (Israel), Canterbury e Auckland (Nova Zelândia), Queens (Canadá), Instituto Karolinska (Suécia) e o Instituto Estatístico da Ìndia, e já recebeu apoio de mais de 57 mil pessoas.
A carta surge em um momento em que o número de novos casos bate recordes e já começa a pressionar os sistemas de saúde. Na última semana, registrou-se 1 milhão de mortes desde o começo da pandemia. Sob o impacto da segunda onda, governos de vários países europeus retomam restrições de mobilidade e estudam a possibilidade de reimpor confinamentos. Um deles é o próprio Reino Unido, que pode retomar o confinamento no norte da Inglaterra ainda nesta semana. O governo britânico chegou a adotar a estratégia de imunidade de rebanho, mas a abandonou ao longo de março.
Pesquisa realizada nesta quarta-feira no país pelo instituto YouGov, porém, mostra que 56% são contra a estratégia de "proteção forçada" sugerida pelos cientistas, enquanto 32% se dizem a favor. Entre os idosos, 65% são contra. A discussão sobre retomar a vida normal dos mais novos surge também no momento em que o governo brasileiro permitiu que escolas mantenham aulas remotas até o final de 2021. (O Tempo)
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