O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, e mais três diretores da mineradora apresentaram no sábado cartas ao Conselho de Administração da empresa solicitando o afastamento temporário do comando da companhia. O conselho se reuniu por teleconferência e aceitou os pedidos. A decisão foi tomada por causa das pressões de integrantes da força-tarefa que investiga o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que deixou 186 mortos e outras 122 pessoas que estão desaparecidas. Um documento com o pedido de afastamento deles da direção da empresa, assinado por representantes do Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual de Minas Gerais e Polícia Federal foi entregue ainda na sexta-feira a advogados da empresa. A força-tarefa pedia ainda que empregados não compartilhassem nenhuma informação profissional com as pessoas cuja saída da Vale foi recomendada. Também integram o grupo, além do presidente, o diretor executivo de ferrosos e carvão, Gerd Peter Poppinga, o diretor de planejamento, Lúcio Flavio Gallon Cavalli, e o diretor de operações do corredor sudeste, Silmar Magalhães Silva.
Na carta, Fabio Schvartsman, afirma: "Tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e suas famílias, de solicitar a esse Conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor presidente da Vale”. A pressão dos integrantes da força-tarefa foi motivada pela ação de executivos da empresa com empregados, o que estaria, segundo eles, atrapalhando as investigações. Além disso, a divulgação pela empresa do acordo para pagamento do auxílio emergencial para os atingidos como uma iniciativa da empresa causou forte desconforto. De acordo com o promotor André Sperling, a empresa pretendia pagar o auxílio apenas aos moradores das duas localidades mais atingidas – Parque da Cachoeira e de Córrego do Feijão –, mas foi obrigada a estender a indenização para todos os moradores de Brumadinho. “Não foi bem uma questão de aceitação da Vale. A Vale viu-se compelida a fazer isso. Ela queria pagar para os moradores do Parque da Cachoeira e Córrego do Feijão”, disse o procurador.
Com a saída do grupo, a Vale deve ser conduzida, temporariamente, pelos diretores remanescentes, sob o comando interino do diretor executivo de Metais Básicos, Eduardo Bartolomeo. A mudança definitiva só deve ocorrer em abril, após a Assembleia Geral Ordinária de acionistas, quando também são esperadas mudanças no conselho de administração, com a redução do peso da Previ, que hoje ocupa quatro assentos no conselho e o aumento da presença de conselheiros mais ligados ao setor de mineração. Na última semana, com a perda do grau de investimento pela agência Moody’s, a situação da mineradora também começou a causar apreensão entre investidores brasileiros. Desde o acidente, analistas de casas estrangeiras observavam o descolamento das expectativas dos investidores domésticos, que pareciam mais otimistas. Um segundo rebaixamento, que pode vir da S&P, pode obrigar muitos fundos estrangeiros a se desfazerem de suas posições em ações da empresa, pressionando negativamente o papel, que já perdeu cerca 25% de seu valor desde 25 de janeiro, quando aconteceu a tragédia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário