A família do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo, “utilizaram-se da mesma sistemática na abertura de contas no Exterior”, mediante a utilização de um mesmo escritório em Liechtenstein, afirma relatório técnico do Ministério Público Federal. O documento foi anexado aos autos de um inquérito em tramitação no Supremo Tribunal Federal que apura a suspeita de envolvimento do tucano em esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em Furnas, estatal do setor energético. Para o vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, há no caso “indícios de práticas criminosas que necessitam de esclarecimento”. A Procuradoria-Geral da República pede que a investigação seja prorrogada por mais 60 dias. Em junho do ano passado, o ministro Gilmar Mendes, do STF, determinou o arquivamento do caso, mas a Segunda Turma do STF, no entanto, acabou decidindo em novembro que a apuração deveria ser prosseguida e concluída dentro de um prazo de 60 dias.
Uma nova linha de investigação foi aberta no inquérito com o envio de informações bancárias obtidas por meio de acordo de cooperação internacional firmado com Liechtenstein. No relatório do Ministério Público Federal, foi feita uma análise preliminar dos extratos bancários de contas no exterior vinculadas à família de Aécio Neves e a Dimas Toledo. De acordo com o relatório, a documentação bancária enviada pelas autoridades estrangeiras revelou a existência de contas bancárias mantidas no Exterior por Inês Maria Neves Faria, mãe do senador, pelo ex-diretor de Furnas, Dimas Fabiano Toledo, e pelo casal de doleiros Norbert Muller e Christine Puschmann. A Fundação Bogart & Taylor – cuja beneficiária principal é a mãe do senador – foi constituída em Liechtenstein em abril de 2001, tendo Aécio Neves como segundo beneficiário em caso de falecimento da mãe, diz o relatório. Tanto na criação da fundação quanto na abertura de uma conta vinculada a ela foram usados os serviços do casal de doleiros e de um escritório de administração, aponta o relatório. O mesmo escritório prestou serviços ao ex-diretor de Furnas na abertura de uma outra conta. O relatório também informa que, ao abrir a conta da Fundação Bogart & Taylor, da mãe de Aécio Neves, foi informado o endereço do doleiro Norbert Muller no Rio de Janeiro para receber as comunicações da fundação – e que as comunicações só deveriam ser feitas em “casos de extrema necessidade”.
O relatório do Ministério Público Federal ainda ressalta que “chama atenção” nos extratos bancários da conta da Fundação Bogart & Taylor que não consta o registro de US$ 21,8 mil dólares em junho de 2001 que teriam sido recebidos de uma empresa sediada no Panamá chamada Hornbeam Corporation. “O curioso é que na ordem de pagamento houve instrução especial para que não fosse informado o nome do cliente na transação, o que foi prontamente atendido pelo LGT Bank Liechtenstein”, destaca o relatório. “A offshore Hornbeam Corporation (…) aparece na relação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos no caso conhecido como Panamá Papers, investigação sobre a indústria de empresas offshores utilizadas para ocultar dinheiro e dificultar o rastreamento de seus verdadeiros donos”, ressalta o documento.
Segundo o relatório, a mãe de Aécio Neves possui outras duas contas bancárias mantidas no LGT Bank Liechtenstein, “cujos extratos bancários com as movimentações financeiras não constam no material disponibilizado” pelas autoridades estrangeiras. Já a conta da fundação Boca da Serra – de Dimas Toledo – alcançou a cifra de US$ 10,1 milhões no dia 31 de dezembro de 2012, de acordo com o documento. O relatório ressalta que há “diversas contas bancárias vinculadas” ao casal de doleiros que possuem “quantidade significativa de movimentações financeiras”, “que poderão ser analisadas oportunamente”.
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