domingo, 25 de novembro de 2018

Carceragem da Polícia Federal fica sem cama para receber tantos presos da Lava Jato

A carceragem da Superintendência da Polícia Federal no Paraná não tem colchões e nem celas para acomodar todos os presos da 56ª fase da Operação Lava Jato, que teve como alvos ex-dirigentes da Petros (Fundo de Pensão da Petrobras), petistas e executivos da OAS, incluindo César Mata Pires Filho, um dos donos da companhia. Ao todo foram 22 mandados de prisão por desvios na construção da sede da Petrobras na Bahia, conhecida como Torre Pituba. Pelo menos cinco dos alvos foram encaminhados para a carceragem da Polícia Federal no Paraná já na própria sexta-feira (23). O empreiteiro César Mata Pires Filho está no exterior e seu advogado disse que ele se apresentaria à Polícia Federal neste domingo (25). Advogados estão levando colchões, roupas de cama, travesseiros e toalhas para seus clientes. Nos finais de semana não é permitida a entrada de material de fora para os presos, mas a direção da Polícia Federal no Paraná abriu exceção neste sábado (24).

A carceragem da Polícia Federal tem duas alas com três celas em cada uma. Uma ala está destinada a acomodar os delatores da Lava Jato e de outras operações que correm na Justiça Federal paranaense e outros réus que negociam colaboração premiada. Neste espaço estão o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro. A ala onde ficarão os presos da nova fase da operação tem três cubículos equipados com beliche. Além dos presos da Lava Jato, essa área recebe suspeitos detidos por contrabando, tráfico de drogas, falsificação e outros crimes. Em caso de superlotação, as celas ficam abertas e os presos dormem em colchões espalhados pelo chão. É o que ocorrerá caso os 22 alvos da operação da sexta-feira tenham que se acomodar naquele espaço.

Além dos 22 mandados de prisão a Justiça determinou também o bloqueio de bens de acusados. Segundo o Ministério Público Federal, a finalidade da construção do prédio, apelidado de Torre Pituba, era ser alugado para a companhia. O custo estimado do projeto foi de R$ 1,3 bilhão - dos quais pelo menos R$ 68 milhões foram desviados em pagamento de propina, segundo a Procuradoria. Os ex-presidentes da Petros com mandados de prisão preventiva foram Luís Carlos Fernandes Afonso e Carlos Fernando Costa. Um terceiro ex-presidente do fundo, Wagner Pinheiro, foi alvo de buscas, suspeito de ter recebido cerca de R$ 2,5 milhões em vantagens indevidas por meio de uma empresa de fachada. A investigação em relação a ele ainda está em andamento. Também foi alvo da operação Valdemir Garreta, ex-dirigente petista e responsável pelo marketing de campanhas eleitorais do partido. Ele foi preso temporariamente (com duração de cinco dias), em São Paulo, suspeito de intermediar pagamentos em prol do PT.

Entre os presos está também o sindicalista Armando Ramos Tripodi, que foi chefe de gabinete da presidência da Petrobras nas gestões de José Eduardo Dutra e José Sérgio Gabrielli, entre 2003 e 2012. Conhecido pelo apelido Bacalhau, Tripodi foi diretor da FUP (Federação Única dos Petroleiro) e fundador do Departamento Nacional dos Petroleiros da CUT (Central Unica dos Trabalhadores) e tem relação estreita com dirigentes e deputados do PT da Bahia. Ele já havia sido alvo de condução coercitiva em 2016 na 23ª fase da lava jato, batizada Operação Acarajé, por suspeita de receber dinheiro irregular da Odebrecht por meio de uma reforma em sua casa. É a primeira fase da Lava Jato autorizada pela juíza Gabriela Hardt, que substituiu Sergio Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba - e uma das que tem o maior número de presos da operação.

Construída sob medida pela Petros para abrigar os escritórios da Petrobras em Salvador, a Torre Pituba estava orçada inicialmente em R$ 320 milhões. Ao final, só a construção custou cerca de R$ 747 milhões. O projeto final, que incluiu contratos de gerenciamento e projetos executivos, consumiu R$ 1,3 bilhão. Os desvios apurados até aqui chegam a R$ 68 milhões, em valores corrigidos, de acordo com o Ministério Público Federal. Isso representa cerca de 10% do valor da obra de construção. É o maior percentual de propinas já identificado na Lava Jato. 

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