segunda-feira, 29 de outubro de 2018

João Doria Jr. derrota o socialista França, é eleito governador e mantém hegemonia do PSDB em São Paulo

O ex-prefeito João Doria (PSDB), 60, foi eleito neste domingo (28) governador de São Paulo. A vitória, sétima seguida do PSDB na eleição para o Palácio dos Bandeirantes, confirmou a hegemonia do partido no Estado. Com 100% das urnas apuradas, o tucano obteve 51,75% dos votos válidos, ante 48,25% do atual governador paulista, o socialista Márcio França (PSB). O segundo turno foi responsável por elevar a temperatura da campanha - desde 2006 a disputa no Estado sempre havia sido liquidada em uma só etapa. Uma vitória apertada já se desenhava nas últimas semanas, conforme as pesquisas de intenção de voto, no que se provou um teste para a força política do tucano, em sua segunda aventura eleitoral. No primeiro turno, ele obteve 31,77% dos votos, e o segundo colocado conseguiu 21,53%.

Doria fez carreira no setor privado e se tornou conhecido pela atuação no Lide (Grupo de Líderes Empresariais), uma organização com mais de 1.700 associados que promove encontros com líderes empresariais e políticos. Ficou famoso também como apresentador de televisão. Empresário, casado com a artista plástica Bia Doria, com quem tem três filhos, o paulistano declarou ter patrimônio de R$ 189 milhões ao registrar sua candidatura, em agosto. Seu vice será o deputado federal Rodrigo Garcia (DEM-SP), de 44 anos. Além da sigla do vice, a coligação AceleraSP reuniu PSD, PRB, PP e PTC. Politicamente ligados ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), os dois finalistas tiveram forte embate sobre passado político e alianças, com troca de acusações e provocações nos debates de TV. Ambos buscaram também embarcar na onda de apoio ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Doria anunciou apoio ao capitão reformado no dia da votação do primeiro turno, passando a pregar publicamente o voto "BolsoDoria". França passou a contar com o reforço do do senador eleito Major Olímpio (PSL), coordenador da campanha do capitão reformado no estado, também eleito presidente da República neste domingo.

Em 2016, em sua estreia na política, o empresário saiu vencedor para a prefeitura já na primeira fase da eleição --fato que que não acontecia na cidade desde 1988. Contou na ocasião com a ajuda de seu padrinho político, o então governador Alckmin, que bancou a indicação do novato a contragosto de outras lideranças da legenda. Em abril deste ano, ele largou o mandato de prefeito depois de 15 meses para concorrer ao governo, fato exaustivamente explorado por detratores ao longo da campanha. Quebrou a promessa que fez ao menos 43 vezes de não deixar o comando municipal para participar de eleições. Também em abril, França chegou ao atual cargo após a renúncia de Alckmin, de quem era vice, para disputar a Presidência da República. Alckmin acabou derrotado ainda no primeiro turno do pleito nacional. Desconhecido até o início da campanha estadual, o socialista impôs uma disputa acirrada ao ex-prefeito, na qual o ex-governador foi também personagem importante.

Logo que virou prefeito, Doria atravessou o caminho de Alckmin e passou a se movimentar para que fosse ele o presidenciável do PSDB. Frustrado o plano, virou candidato ao governo, mas sofreria mais tarde com críticas de que não se empenhou o suficiente na campanha alckmista no Estado. Tanto Doria quanto França deram palanque ao presidenciável, mas a divisão de forças foi apontada como uma das causas do resultado pífio de Alckmin em seu território.

A campanha de Doria a prefeito da cidade onde nasceu em 16 de dezembro de 1957 foi ancorada no discurso de que não era um político, mas um gestor --mote repetido agora na disputa estadual.

Surfou no antipetismo que dominava aquele pleito. A Operação Lava Jato já havia atingido o coração do partido do então candidato à reeleição, Fernando Haddad. A imagem que projetou, explorando o rótulo de novidade e a rejeição à política tradicional, deu ao então estreante uma vitória arrebatadora: 53,29% dos votos válidos, contra 16,7% do petista. Os primeiros dias de governo deram o tom do que se seguiria. No primeiro dia de mandato, Doria vestiu uniforme de gari e foi varrer a rua com seus secretários às 6h --tudo registrado em tempo real pela imprensa e pelas próprias câmeras do tucano. Em clima de reality show, o prefeito compartilhava todas as suas ações nas redes sociais. A aprovação da gestão, que em fevereiro de 2017 somava 44% de ótimo e bom, caiu ao longo dos meses seguintes. Em novembro daquele ano, diminuiu para 29%, segundo pesquisa do Datafolha.

Ao deixar a cadeira, em abril deste ano, Doria atingiu o nível mais alto de reprovação a sua administração. Só 18% dos paulistanos consideravam sua gestão ótima ou boa. Para 47%, era ruim ou péssima. Dois em cada três moradores da cidade rejeitavam, em abril, a saída do tucano do cargo para concorrer ao governo estadual, conforme o instituto. Doria perdeu para França na capital -- teve 41,9% dos votos, ante 58,1% do governador. Ao longo da campanha rumo ao Bandeirantes, o ex-prefeito lançou mão do discurso de que se candidatou para evitar que um "esquerdista, um aliado do PT" pudesse ser eleito, em referência a França. O tucano adotou inflamada retórica antipetista na busca de colar em seu oponente a pecha de "vermelho" e "integrante da turma do Lula". Com sua liderança ameaçada no primeiro turno por Paulo Skaf (MDB), com quem empatava tecnicamente nas pesquisas, Doria viu França crescer já perto do dia 7 de outubro e ser confirmado nas urnas como seu rival na segunda etapa do pleito.

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