terça-feira, 28 de agosto de 2018

Santuário de elefantes em fazenda na Chapada dos Guimarães completa dois anos


Elefantes que eram maltratados em circos e zoológicos completaram dois anos vivendo no primeiro santuário sul-americano que acolhe exemplares da espécie e que fica no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, ecossistema similar aos das savanas africanas e asiáticas. "Somos o primeiro da América do Sul com o objetivo de proporcionar bem-estar aos elefantes que passaram sua vida em pequenos recintos de cativeiro", afirmou Junia Machado, que presidiu a ONG encarregada do Santuário de Elefantes Brasil (SEB) até julho deste ano. O Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, na cidade homônima de Mato Grosso, oferece aos elefantes "um amplo espaço em ambiente natural, a companhia de outros animais e cuidados veterinários". "Aqui eles podem voltar a se comportar como elefantes, depois de terem sido retirados das suas famílias quando eram filhotes na Ásia e na África e trazidos para o nosso continente, para viver em espaços totalmente inadequados para essas espécies", relatou Junia. O SEB começou a funcionar em uma antiga fazenda criadora de gado de mais de 1,1 mil hectares de colinas e pequenos vales, com savanas e encostas que contam ainda com o pasto que foi plantado para alimentar o rebanho bovino que era criado nesse lugar. Além disso, o santuário tem nascentes de água, um riacho, vegetação diversificada e um clima ideal, com temperaturas mínimas e máximas similares aos seus lugares de origem e propícias para acolher os elefantes. O santuário, dividido em cinco setores, tem seu perímetro cercado com tubos de aço, sem sistema elétrico ou arame farpado que possam ferir os animais e permitem que outras espécies silvestres possam interagir no mesmo ecossistema. 

Maia e Guida, as primeiras elefantas que chegaram ao santuário, são de origem asiática e têm, respectivamente, 46 e 44 anos. As duas elefantas completarão em outubro dois anos no SEB depois de quase quatro décadas de trabalho forçado em circos e, de acordo com Junia, sua "transformação física e emocional" durante a sua estadia na nova morada é "notável". "Elas abraçaram suas novas vidas, deixando o passado para trás, e agora poderão receber e dar apoio aos novos residentes", comentou a especialista em alusão aos sete elefantes que são esperados no santuário. Depois de Maia e Guida, o SEB espera por Ramba, de 50 anos de idade, que virá do Parque Safári, em Rancagua, no Chile, aonde chegou depois de ser resgatada. Ramba já recebeu a autorização das autoridades brasileiras e deverá ser transportada de avião até Brasília e depois por via terrestre até o SEB. Outros seis animais esperam as respectivas autorizações na Argentina. A fase final de construção do SEB, que se sustenta com doações de voluntários e patrocinadores internacionais sob a condução da Global Sanctuary for Elephants (GSE) e ElephantVoices, será destinada aos machos africanos, os maiores mamíferos terrestres do planeta. 

Essas organizações mundiais lutam para preservar a espécie e diminuir os riscos de extinção, depois de a população de elefantes africanos cair 96%, e alertar sobre o desequilíbrio ambiental, como consequência da busca do cobiçado marfim de suas presas. 

As duas elefantas pioneiras na fazenda, Maia e Guida, foram confiscadas de um circo na Bahia e viviam, há seis anos, em Paraguaçu, cidade ao sul de Minas Gerais. O Santuário terá estrutura para receber até 50 elefantes provenientes de toda a América do Sul. Inicialmente, a estrutura abrigará até seis elefantes. O custo mensal é estimado em até R$ 20 mil, nesta primeira fase. Todo os gastos do santuário são mantidos por doações e organizações não governamentais internacionais.

“Há 5 mil elefantes vivendo em locais de risco, como zoológicos e circos. Por melhor que seja um zoológico, em geral, ele isola o animal e causa um sofrimento agudo. Os elefantes são animais extremamente inteligentes, que vivem em grandes clãs, têm sociedades organizadas. Em alguns deles que encontramos em situações críticas, é possível perceber, a olho nu, o abalo emocional, por meio de movimentos repetitivos da cabeça e do corpo, e comportamento diferente dos elefantes que vivem na natureza. O santuário é um local criado e estruturado para dar proteção a esses animais”, explica Junia Machado.


A iniciativa recebeu o licenciamento ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso para começar a funcionar. A primeira etapa do santuário envolve um centro de cuidados veterinários e piquetes para abrigar os elefantes, que serão separados por espécie (asiáticos e africanos) e sexo (machos e fêmeas).  O Santuário não será aberto para visitação pública, mas será mais do que um espaço de reabilitação dos elefantes. Segundo Junia Machado, a instituição terá, futuramente, um centro de visitantes na cidade, com dados sobre aspectos biológicos, físicos e comportamentais dos elefantes. Além de fornecer informações para pesquisas e estudos, ocorrerão palestras e acesso à imagens das câmeras, que transmitirão ao vivo, das áreas internas do santuário. Essas imagens estarão também disponíveis na internet.


O formato do santuário é inspirado em um exemplo criado há 20 anos, no Tennesse, nos Estados Unidos. O cofundador do The Elephant Sanctuary ins Tennesse, Scott Blais, é também um dos administradores e idealizadores do santuário brasileiro. O Santuário de Elefantes Brasil é um projeto conduzido pelo Global Sanctuary for Elephants (GSF) e pela ElephantVoices, organizações internacionais dirigidas por especialistas em elefantes. (Ag. Br)

Nenhum comentário: