sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Ana Amélia aceita ser vice de Alckmin em um inacreditável salto tripo carpado político


A senadora Ana Amélia (PP-RS) aceitou compor a chapa presidencial com Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano já havia escolhido pelo nome da senadora e só aguardava a decisão dela. Ana Amélia ponderava rearranjos regionais e alegou que primeiro queria ouvir seu médico. O nome dela estava entre os preferidos da lista entregue pelo presidente do DEM, ACM Neto. Uma pesquisa qualitativa encomendada pelo tucano também apontou Ana Amélia Lemos como favorita ao posto. Mais cedo, nesta quinta-feira, durante a Convenção Nacional do PP, em Brasília, Ana Amélia disse que o vice não é mais “uma figura decorativa”. Citando José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer, a senadora contou estar avaliando se tem condições para assumir o posto de vice e, eventualmente, a Presidência da República, se for necessário. Ela já havia sinalizado que, na política, “não se pode dizer não”. Disse ainda que, para tomar uma decisão final, conversaria também com seu médico. Essa semana, Ana Amélia foi internada após um pico de pressão alta. 


Cuidadosa nas declarações, Ana Amélia evitou declarar que aceita o convite do tucano. "A decisão caberá a Alckmin e ao presidente do partido (PP)", desconversou, dizendo que "entre hoje e amanhã" deve ser feito o anúncio oficial. Tudo ainda depende de decisões sobre coligações para disputas de governos estaduais, segundo ela. Uma das questões é a situação no Rio Grande do Sul. Com os novos arranjos, estaria em jogo o candidato Luis Carlos Heinze (PP) deixar de concorrer ao governo do Rio Grande do Sul para apoiar o candidato tucano ao cargo, Eduardo Leite. Neste cenário, Heinze sairia para senador. Há outras questões também para serem resolvidas entre os dois partidos. “Se for definido em todos os seus detalhes, então vou me posicionar em relação ao convite que Geraldo Alckmin fez a mim”, disse Ana Amélia. “Vou aguardar para que eu possa tomar uma decisão com segurança”, disse.

Segundo a senadora, Alckmin esteve em sua casa na quarta-feira, 1º, às 18h, e eles conversaram por cerca de 40 minutos. “Ele fez várias ponderações a mim e tivemos uma conversa muito franca”, disse. Ela admitiu que também houve um apelo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para que ela aceitasse ser vice, e também do senador Tasso Jereissati (PSDB). “Tive problema com a minha pressão arterial, mas a política foi muito maior para que eu aceitasse”, disse a senadora. Mais cedo ela disse que falaria com seu médico para tomar a decisão já que teve um problema de hipertensão em viagem ao Rio Grande do Sul na semana passada e chegou ficar internada por uma noite. Sobre as divergências internas do PP, Ana Amélia disse que o presidente do PP, Ciro Nogueira, deu a liberdade a Geraldo Alckmin para ele tomasse sua decisão.  Ana Amélia destacou-se como opositora de Dilma Rousseff e por defender a Operação Lava Jato. 

Ana Amélia Lemos tem 73 anos e é gaúcha de Lagoa Vermelha. Jornalista, trabalhou por mais de 30 anos para o Grupo RBS, afiliado da Rede Globo no Rio Grande do Sul. Na maior parte da carreira, ela atuou diretamente de Brasília, tratando principalmente sobre política. Em 2010, se afastou do jornalismo para concorrer ao Senado pelo Partido Progressista. No mesmo ano, foi eleita com 29,54% dos votos, ficando com a segunda vaga. No Senado, votou a favor da PEC do Teto de Gastos e pela reforma trabalhista. Ela se diz contra “regalias” a políticos e magistrados e defende mudanças na forma de indicação de ministros do STF e redução do mandato na Corte para dez anos. Ela também é co-autora de PEC que propõe o voto facultativo. Sobre o aborto, Ana Amélia diz ser a favor nos atuais termos da Constituição.

Ana Amélia Lemos ganhou visibilidade nacional por ter sido uma das vozes mais ativas de oposição ao governo Dilma Rousseff (PT) e por defender o impeachment da ex-presidente. Atualmente, ela se mantém como uma das principais críticas ao PT e ao ex-presidente Lula – condenado e preso na Operação Lava Jato – no Senado. Em abril, trocou acusações com a senadora Gleisi Hoffmann (PT) após a petista gravar um vídeo para a emissora de TV do Catar, Al-Jazeera, pedindo uma campanha pela liberdade de Lula. Na ocasião, Ana Amélia disse que “esperava que essa convocação não fosse um pedido para o Exército islâmico atuar no Brasil". A declaração gerou críticas do PT e de organizações de cultura árabe. Ainda este ano, Ana Amélia elogiou cidades gaúchas “que botaram para correr” a caravana de Lula promovida pelo petista. A senadora também é conhecida por defender a Operação Lava Jato e a prisão após condenação em segunda instância.

Em 2014, se candidatou ao governo gaúcho despontando como favorita nas pesquisas. No entanto, acusações de que, na década de 1980, a senadora teria exercido cargo de comissão sem efetivamente trabalhar no gabinete do seu marido, o senador biônico Octávio Cardoso (que morreu em 2011), e de ter omitido uma fazenda em Goiás de sua declaração de bens minaram sua campanha na reta final. Terminou em terceiro. 

Apesar de ter sido uma das principais apoiadoras do presidenciável Aécio Neves (PSDB), em 2014, Ana Amélia votou pelo afastamento do senador. Em quase oito anos no Senado, apresentou 91 projetos de lei e 14 Propostas de Emenda Constitucional. Ela também presidiu a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária e foi relatora de 509 matérias. Para as eleições 2018, Ana Amélia Lemos é favorita à reeleição.

No video abaixo você ouve a opinião do editor de Videversus, jornalista Vitor Vieira, sobre este episódio insólito de última hora da inacreditável política brasileira do momento. 

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