sexta-feira, 15 de junho de 2018

Preso aponta envolvimento de ex-ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, em fraudes sindicais


Preso preventivamente na Operação Registro Espúrio, apontado como um dos principais operadores do PTB e da União Geral dos Trabalhadores (UGT) no Ministério do Trabalho, o ex-servidor da pasta Renato Araújo Júnior disse, em depoimento à Polícia Federal, que era mero “cumpridor de ordens” no esquema de fraudes na concessão de registros sindicais. Araújo Júnior apontou que trará informações sobre o “envolvimento” do ex-ministro Ronaldo Nogueira (PTB-RS), desligado em dezembro para reassumir mandato de deputado federal. Nogueira não foi alvo da operação. A menção a Ronaldo Nogueira ocorreu em um contexto em que Renato falava que recebeu diversos pedidos da UGT para registros de entidades vinculadas à central sindical, “muitas vezes sem os requisitos necessários para tanto” e que esses “pedidos eram, na verdade, ordens veladas”, vindas do presidente da UGT, Ricardo Patah, e de outros nomes relacionados à central sindical. Renato afirma que Patah é ligado a Ronaldo Nogueira e que fazia pedidos ao ex-ministro, sobre quem indicou que trará mais informações.

Renato Araújo Júnior declarou que “futuramente, depois de tomar conhecimento acerca do teor dos autos, pretende prestar informações sobre o envolvimento de Ronaldo Nogueira nos fatos; que esclarece que os ‘pedidos’ (da UGT) eram direcionados não somente ao declarante, mas também a Renata Frias Pimentel, Leonardo Cabral, Carlos Lacerda e ao próprio ministro Ronaldo Nogueira; que futuramente pode declinar a participação de alguns deles nas fraudes sindicais”. O depoimento é do dia 31 de maio e foi o segundo a ser prestado pelo ex-servidor do Ministério do Trabalho, que está preso no Complexo Penitenciário da Papuda. Ele encerrou o depoimento afirmando que “deseja que fique consignado o seu interesse em colaborar amplamente no curso da investigação, prestando novos depoimentos se necessário”. A Operação Registro Espúrio investiga uma organização criminosa, formada por políticos, lobistas, dirigentes de sindicatos e funcionários públicos, que praticou fraudes e corrupção para a liberação e o veto de registros sindicais dentro da Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho de acordo com interesses privados.

Deflagrada em 30 de maio, a Operação Registro Espúrio mirou em deputados federais como Paulinho da Força (SD-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e Wilson Filho (PTB-PB) e o suplente de deputado federal Ademir Camilo (MDB-MG), além do presidente do PTB, Roberto Jefferson. A segunda fase da operação foi realizada na terça-feira, 12, quando a Polícia Federal vasculhou o gabinete da deputada federal Cristiane Brasil e dois endereços residenciais dela, diante de novos indícios de que ela teria feito parte do esquema. 

Renato Araújo Júnior afirmou que também pretende prestar informações sobre outras pessoas e sobre as centrais sindicais UGT e Força Sindical. Segundo Renato, elas “exercem fortíssima influência dentro do Ministério do Trabalho” e “frequentemente são feitos pedidos para direcionar o resultado ou burlar a ordem cronológica de análise dos processos de registro sindical, nos quais tais entidades possuem interesse direto”. Sobre o presidente do partido, Roberto Jefferson, e o secretário Norberto, disse que nunca recebeu propina deles, mas disse que em um caso, envolvendo um sindicato em São Paulo, houve fraudes cometidas por integrantes do ministério e que “a contrapartida para a atuação de Roberto Jefferson e Norberto é apenas capital político”. 

Embora não tenha citado Jovair Arantes, Renato Araújo comprometeu o sobrinho dele Leonardo Arantes, que era secretário-executivo do Ministério do Trabalho até ser preso na operação. Renato disse que “já atendeu diversos pedidos de Leonardo Arantes e Maurício para favorecimento de entidades sindicais” e que “”não eram meros ‘pedidos’, encarando-os como verdadeiras ‘ordens'” e que “se vê obrigado a atender”.

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