domingo, 29 de abril de 2018

Quarenta minutos antes da queda os pilotos do avião da Chapecoense sabiam que estavam em situação de emergência por falta de combustível


A Aeronáutica Civil da Colômbia apresentou na sexta-feira (27) relatório final sobre o acidente aéreo envolvendo a delegação da Chapecoense, time de futebol brasileiro que ia de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia) para Medellín (Colômbia), onde disputaria a final da Copa Sulamericana contra o Atlético Nacional. O acidente ocorreu no dia 29 de novembro de 2016 e resultou na morte de 71 das 77 pessoas a bordo – a maioria, integrantes da equipe brasileira. De acordo com o documento, a tripulação sabia que a aeronave da empresa boliviana LaMia viajava com pouca quantidade de combustível, fator determinante para a tragédia. Informes preliminares da Aeronáutica Civil colombiana já apontavam que o avião estava com excesso de peso quando caiu, mas que a causa do acidente foi a falta de combustível. Pilotos falaram sobre risco de combustível acabar mais de duas horas antes de avião da Chapecoense cair.

O relatório apresentado na sexta-feira contou com a participação de investigadores, autoridades e instituições de cinco países: Brasil, Bolívia, Estados Unidos e Inglaterra, além da Colômbia. Entre as conclusões apontadas como “determinantes para a apresentação deste infeliz acontecimento”, o relatório afirma que a empresa LaMia, “planejou sem escalas este vôo charter (transporte não regular de passageiros) entre Santa Cruz (Bolívia) e Rionegro (Colômbia); não cumpriu os requisitos de quantidade mínima de combustível exigidos nas normas internacionais, uma vez que não teve em conta o combustível necessário para voar para um aeroporto alternativo”. 

Ainda segundo o relatório, a aeronave tinha um déficit de 2,3 mil kg de combustível, cálculo feito levando em conta que havia 9,3 mil kg, quando seriam necessários 11,6 mil kg de combustível para percorrer a rota Santa Cruz - Rionegro. “Nem a empresa nem a tripulação, apesar de conscientes da pouca quantidade de gasolina, tomaram a decisão de pousar em outro aeroporto”, diz o relatório ao afirmar que a tripulação descartou o pouso em Bogotá, ou outro aeroporto, para reabastecimento. O relatório conclui que a empresa boliviana LaMia tinha deficiências organizacionais, uma difícil situação econômica, além de problemas no sistema de gestão de segurança operacional e para o cumprimento das políticas de combustível. As tomadas de decisões inadequadas foram, segundo a Aeronáutica Civil colombiana, “em consequência da falta de gestão da segurança operacional nos seus processos, da perda da consciência situacional, e da tomada errada de decisões por parte da tripulação”.

Até hoje continua sendo impressionante que um vôo charter, com tantos jornalistas a bordo, ninguém tenha se dado ao trabalho de consultar o Google antes de embarcar, para se inteirar das características da aeronave e suas necessidades básicas para um vôo seguro. E tampouco dirigentes da Chapecoense, contratante do vôo, se deram a esse trabalho. O desastre era plenamente evitável se alguém tivesse sido previdente. Foi uma demência absoluta tanta gente embarcar em uma aeronave privada sem ao menos se certificar um mínimo a respeito do plano de vôo, do aeroporto alternativo na rota em caso de necessidade, e da quantidade de combustível necessário para o vôo. É mais incrível ainda saber que poucas semanas antes esse mesmo avião, com a mesma tripulação, tinha conduzido a bordo o jogador mais caro do futebol mundial, o espanhol Messi. 

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