Os episódios de corrupção que se espalharam pela América Latina colocaram as instituições da região em xeque, desiludiram a população e devem pautar o ciclo eleitoral pelo qual passa a maioria dos países latino-americanos, concluíram os participantes do painel sobre o ciclo eleitoral e seus efeitos sobre a dinâmica regional do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, que ocorre nesta quarta (14), em São Paulo. Há uma onda de movimentos que contestam a democracia porque se deram conta de que ela funciona mal, distorcida pela corrupção, disse Denise Dresser, analista política do Instituto Tecnológico Autônomo do México.
O fato é que a Odebrecht conseguiu unir a região, disse Denise Dresser, em referência aos escândalos de corrupção nos quais a empreiteira está envolvida e que alcançam diversos países latino-americanos, do Peru ao Brasil. Além da corrupção, disse Denise Dresser, reformas estruturais como as empreendidas no México sem a necessária inclusão dos mais pobres aumentaram a insatisfação.
Único brasileiro presente ao debate, Ricardo Villela Marinho, vice-presidente executivo do Itaú Unibanco, afirmou que as instituições democráticas estão sendo questionadas e que o eleitor repele políticos de tradição. "O elefante branco no centro do salão é a corrupção, disse Villela. É um momento de muita turbulência. O que salva é que estamos num contexto de crescimento sincronizado global de mais de 4%. Segundo Villela, os poderes para combater a corrupção precisam ser fortalecidos e ressaltou que onde existe corrupção há o corruptor também. Na empresa que represento temos uma postura firme com relação à corrupção, disse.
A vice-presidente do Panamá, Isabel de Saint Malo de Alvarado, disse que a indignação das pessoas força uma resposta das instituições. Diria que o fato de casos de corrupção terem vindo a público é boa notícia. Tomara que isso influencie o ciclo eleitoral, afirmou Alvarado. Daniel Zovatto, diretor do Instituto Internacional para a Democracia, disse que é prematuro afirmar que a região se move toda para a centro-direita, como já visto nas eleições no Chile ou na Argentina. Acho que a discussão entre esquerda e direita é reducionista, disse.
Ricardo Villela, do Itaú, disse que, para além da esquerda ou da direita, o debate é se vamos para adiante ou para trás. Para isso, disse, é preciso uma nova geração de políticos, que entrem no Estado para servir o país e façam reformas como a tributária, evitando que os pobres continuem, proporcionalmente, pagando mais impostos do que os ricos.
Alicia Bárcena Ibarra, secretaria-executiva da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina, disse que Trump mudou o paradigma ao propor o "América primeiro", e questionou quais serão as propostas para a América Latina. Em resposta, Zovatto disse que é preciso ter primeiro uma América Latina para depois pensar numa "América Latina primeiro".
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