Fernando Ribas Carli Filho, ex-deputado estadual do Paraná, de 35, foi condenado na tarde desta quarta-feira (28) a nove anos e quatro meses de prisão, em regime inicialmente fechado, por duplo homicídio com dolo eventual. Em 2009, ele se envolveu em um acidente de trânsito que resultou na morte de dois jovens em Curitiba (PR). Carli poderá recorrer em liberdade. O júri, formado por cinco mulheres e dois homens, entendeu que o ex-deputado assumiu o risco de matar na ocasião. Segundo laudos periciais, Carli havia ingerido álcool antes do acidente e dirigia em alta velocidade. A dosimetria da pena ficou a cargo do juiz Daniel Avelar.
Os jurados responderam quatro questões formuladas pelo juiz: se houve morte, se a ação do réu foi causa da morte, se o réu agiu de forma culposa (por imprudência) e se o acusado deveria ser absolvido. Eles julgaram que o ex-deputado agiu de forma dolosa e votaram contra a absolvição. A deputada federal Christiane Yared (PR), mãe de uma das vítimas, disse acreditar que o julgamento representará uma mudança de comportamento no trânsito. "A Justiça está compreendendo que essas mortes no trânsito, quando envolvem bebida e alta velocidade, precisam ser encaradas como dolo", disse. Christiane também disse que a sentença de Carli tem "tempo de validade". "A nossa não tem. Vamos para o túmulo com a nossa pena". Como deputada, ela já assumiu o discurso político, A condenação do assassino do filho dela é irrisória e ele pegará muito pouco tempo de cadeia, se chegar a pegar. O trânsito ainda é o maior assassino no Brasil, mata mais de 65 mil pessoas por ano, mais do que aquelas mortas por tiro ou facada.
O assistente de acusação, advogado Elias Assad, afirmou que não recorrerá pelo aumento da pena do ex-deputado. Ele disse considerar que este caso criará jurisprudência em torno do tema, podendo servir como exemplo em processos semelhantes. Ao ser interrogado no julgamento, Carli assumiu parcela de culpa, mas disse que não teve a intenção de matar. O ex-deputado disse estar arrependido e pensar no acidente todos os dias. Ele pediu desculpas às mães das vítimas. "Quero hoje poder pedir desculpas pelo que causei. Eu quase morri. O filho de vocês morreu e eu quero, do fundo do coração, pedir desculpas". Carli afirmou que "jamais poderia imaginar" que um carro passaria na frente do seu na via preferencial, argumentação utilizada pela defesa.
Ele voava na avenida, a mais de 160 quilômetros de velocidade, seu carro rasgou o veículo em que estavam os dois jovens mortos, como se fosse um abridor de latas. Eles foram degolados. Seus advogados sustentaram que as vítimas também erraram ao invadir a preferência do acusado. A defesa argumentou que o ex-deputado deveria ser condenado por homicídio culposo, quando não há a intenção de causar dano. Os advogados defenderam que Carli não assumiu o risco de matar, da mesma forma que não assumiu o risco de morrer. Uma prova disto seria que o próprio acusado quase morreu - situação que não teria sido prevista por ele. No caso de homicídio culposo, a pena seria de 2 a 4 anos. Para homicídio doloso, de 6 a 20 anos.
O julgamento já havia sido agendado outras duas vezes, mas foi cancelado após cortes superiores aceitarem recursos da defesa do ex-parlamentar. O acidente que matou Gilmar Rafael Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20 anos, ocorreu na madrugada de 7 de maio de 2009. Os amigos morreram na hora e o ex-deputado ficou internado por um mês. O carro dos jovens foi completamente destruído. Exame do IML apontou que Carli tinha quatro vezes o limite permitido de álcool no sangue, e laudo do Instituto de Criminalística do Estado constatou que ele dirigia a uma velocidade entre 167 e 173 km/h, numa via em que o limite era de 60 km/h.
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