quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Pesquisa Embrapa revela que alga associada à soja geneticamente modificada previne a Aids



Um estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, com a Universidade de Londres e com o Conselho de Pesquisa Científica e Industrial da África do Sul, descobriu que sementes de soja geneticamente modificadas podem contribuir para evitar o contágio da Aids. O resultado da pesquisa mostra que a cianovirina, presente nas algas, ao juntar-se às sementes, é capaz de impedir a multiplicação do vírus HIV no corpo humano. A descoberta permitirá o desenvolvimento de um gel para ser utilizado antes da relação sexual. A pesquisa representa um avanço enorme para o enfrentamento da Aids, principalmente nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, que apresentam altos índices de infecção pelo vírus HIV, como várias localidades da África. A essas nações será assegurada a licença de produção e de uso interno, sem a necessidade de pagamento de royalties. A concessão da comunidade científica visa dar uma resposta eficaz e eficiente a um problema gravíssimo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a cada cinco óbitos na África Subsaariana, um é causado pela Aids.

O trabalho da Embrapa recebeu o prêmio nacional na área de saúde e serviços humanos do Consórcio Federal de Laboratórios dos Estados Unidos em 2018. A entidade reúne cerca de 300 laboratórios de renomadas instituições de pesquisa e ensino americanas, como o Departamento de Agricultura e as Universidades de Cornell, da Carolina do Norte e de Maryland, entre outras. A investigação já tinha sido reconhecida, em 2017, como um trabalho de excelência na transferência de tecnologia na área, em nível regional. 

As pesquisas sobre o tema são antigas. Em 2000, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos descobriu a cianovirina, uma proteína extraída das algas azul-verde que inibe a replicação do HIV. A entidade montou um laboratório para a prospecção da alga no oceano Atlântico e patenteou a tecnologia. Testes foram realizados com diversas biofábricas, unidades de produtos geneticamente aperfeiçoados, como a levedura, plantas de tabaco e bactérias, mas somente a semente de soja transgênica se mostrou eficaz, permitindo que a proteína seja largamente escalonada até a quantidade adequada.

Foi a cooperação técnica entre a Embrapa e as entidades dos Estados Unidos, Inglaterra e África do Sul que proporcionou o avanço das pesquisas na área de biotecnologia. A empresa brasileira, que tem a patente da engenharia genética da soja, teve participação fundamental no estudo. "Faltava descobrir uma forma eficiente e econômica para produzir a proteína em alta escala. Agora será possível a produção desse tipo de semente de soja direcionada para o setor farmacêutico", explica o engenheiro agrônomo Elíbio Rech, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e que coordenou a participação brasileira na pesquisa.

As sementes geneticamente modificadas inoculadas com proteína cianovirina não podem ser utilizadas como alimento. Tampouco serão plantadas no campo. Elas serão cultivadas em áreas controladas, como estufas, sob monitoramento de cientistas. "As condições de plantio serão definidas pela CNTBio", alerta Rech.

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