terça-feira, 10 de outubro de 2017

Nuzman tentou usar R$ 5,5 milhões da Rio-2016 para pagar advogado



Ao pedir a prisão preventiva do presidente afastado do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, o Ministério Público Federal afirma que ele tentou usar a estrutura da instituição “em benefício próprio”, ao propor que os honorários do escritório do advogado criminalista que o defende fossem pagos com dinheiro do Comitê Organizador das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Nuzman foi preso temporariamente na segunda fase da Operação Unfair Play, que investiga compra de votos para fazer do Rio a sede dos Jogos de 2016.

Entre os documentos apresentados pelos procuradores a Bretas, estão e-mails trocados entre Carlos Nuzman e Mário Andrada, diretor de comunicação do comitê Rio-2016, nos quais o dirigente pediu que fosse paga uma nota fiscal no valor de 5,5 milhões de reais emitida pelo escritório do advogado Nelio Machado. O comitê da Rio-2016 deve cerca de 120 milhões de reais a fornecedores.

Apreendidos na primeira fase da Unfair Play, os e-mails foram enviados entre os dias 25 e 29 de setembro, cerca de vinte dias depois da deflagração da operação. Na ocasião, Nuzman foi conduzido coercitivamente a depor à Polícia Federal.

Na primeira mensagem enviada a Andrada, no dia 25 de setembro, o dirigente orienta que “face a urgência”, a nota fiscal deveria ser paga. A ordem foi dada antes da aprovação da despesa no conselho do comitê. “Esse assunto será levado a deliberação do Conselho Diretor Rio 2016 no dia 27 de setembro de 2017”, completou o dirigente.

Quatro dias depois, já no dia 29, Nuzman informa o subordinado sobre a autorização do pagamento. “A Diretoria Estatutária do Comitê Rio 2016 deliberou, em reunião realizada no dia 27 de setembro passado, aprovar o contrato de prestação de serviços advocatícios com o escritório Nelio Machado Advogados. O pagamento da quantia contratada, no valor de R$ 5.500.000,00, está autorizado e deve ser realizado e efetivado”, diz Carlos Nuzman.


No pedido de prisão preventiva de Carlos Arthur Nuzman, os procuradores do MPF afirmam que o e-mail “demonstra o poder que Carlos Nuzman ainda exercia junto ao Comitê Olímpico Brasileiro” e que ele “continua a atuar em benefício próprio, usando os instrumentos do Comitê Olímpico Brasileiro, bem como sua influência sobre as pessoas que lá trabalham”.

Ao decretar a prisão preventiva do dirigente, o juiz Marcelo Bretas diz que, aparentemente, Nuzman está usando recursos do COB “para fazer face a despesas pessoais” e indaga: “qual seria a urgência mencionada pelo investigado em seu e-mail que não a sua defesa em possíveis medidas cautelares pessoais no futuro?”

Apesar da informação, pelo próprio Nuzman, de que o pagamento estava autorizado e deveria ser efetuado, o comitê Rio-2016 disse que os conselheiros voltaram atrás na decisão diante da desaprovação da área de governança e que a nota fiscal foi cancelada. O escritório de Nelio Machado informa que não recebeu o valor e cancelou a nota porque a decisão do conselho do comitê sobre o pagamento não foi unânime. A banca ainda afirma que os honorários seriam pagos em relação a serviços prestados ao COB e ao comitê Rio-2016, e não a Carlos Nuzman.

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