O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao falar em um evento sobre corrupção, afirmou que a solução para a crise do País está na política. A declaração foi feita durante palestra nesta segunda-feira (23), na faculdade Ibemec, em Belo Horizonte, no primeiro evento público desde que ele deixou o cargo.
"Um outro reflexo gravíssimo da corrupção é o obstáculo ao desenvolvimento político. A solução para o Brasil hoje, para a crise política que o Brasil vive, só pode acontecer através da política", afirmou. "Não há outra opção possível para a solução desse problema político que passa o País".
Janot não respondeu a perguntas da platéia e saiu pelo estacionamento para evitar a imprensa. Procurador-geral até 17 de setembro e responsável pelas duas denúncias oferecidas contra o presidente Michel Temer, ele afirmou que a corrupção captura as estruturas do Estado e impede o aperfeiçoamento do processo político, já que não há incentivo para mudança. "Isso ameaça diretamente um valor muito caro pra todos nós, que é a democracia, e assegura cada vez mais, a partir do momento em que embaraça a democracia, privilégios à oligarquia dominante que não tem interesse em mudar o status quo".
Janot também defendeu o instrumento da delação premiada. O acordo que firmou com executivos da JBS foi revisto por ele mesmo após suspeitas de que um ex-procurador de sua equipe teria negociado a delação ainda antes de se desligar do Ministério Público Federal. Ele afirmou que as delações se tornaram no País o principal instrumento de investigação de "corrupção estruturada e sistêmica", já que as organizações criminosas são fechadas. "Através desse instrumento a gente consegue penetrar nessa estrutura hermeticamente fechada e obter a ideia e o desenho da organização criminosa e seus integrantes. São 120 acordos de delação premiada na Lava Jato que nos permitiram mergulhar nessas estruturas de organização criminosa", disse.
Segundo Janot, a perda com corrupção no País em 2016 chega a algo entre 2% e 3% do PIB, ou seja, cerca de R$ 100 bilhões -- quase o valor do deficit de R$ 158 bilhões. O número é uma projeção a partir de um estudo da Fiesp de 2008. A Fiesp tem realmente know how para fazer esse cálculo, porque o déficit fiscal brasileiro e integralmente causado pelo amaldiçoado capitalismo pára-estatal, essa nefanda aliança entre capital e Estado nacional.
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