Em novas gravações entregues à Procuradoria-Geral da República, o açougueiro bucaneiro Joesley Batista, dono da JBS, maior processadora de carne do mundo, promete repassar dinheiro para o senador piauiense Ciro Nogueira, presidente do PP. “Agora vai dar para começar…E vamos fazer de 500 em 500”, disse ele, numa conversa realizada em sua casa em São Paulo. “Você me ajudou muito na eleição. Ajudou o meu partido. Eu quero lhe ajudar”, respondeu o parlamentar. Em setembro, ao prestarem depoimento na Polícia Federal, Joesley e o executivo Ricardo Saud afirmaram que pagaram propina a Ciro Nogueira tanto por meio de uma mala de dinheiro como por doações de campanha não contabilizadas. Enquanto tomava whisky e comia costela, Joesley quis saber mais detalhes da influência de Ciro na Caixa Econômica Federal. “Como você está lá com o Occhi?”, questionou o empresário, referindo-se ao presidente do banco estatal, Gilberto Occhi. O senador do PP respondeu, sem rodeios: “Nós temos lá o presidente…o de operações, o de varejo, que é contratação do Occhi (…) A de habitação é minha. Um cara do Piauí”. O parlamentar ainda demonstra que o seu partido tem influência na Funcef, fundo de pensões dos funcionários da Caixa, e na CaixaPar, braço de investimentos do banco estatal. Tanto uma como a outra controlam um caixa bilionário. Pelo contexto da conversa, não fica claro se Joesley solicitou uma ajuda específica para destravar um negócio na Caixa e se de fato houve pagamento de propina. Em outro trecho da conversa, o parlamentar ainda diz que estava atendendo a um pedido do empresário. “Aquele negócio do seu amigo…Está lá…Só para você saber. Ele montou uma empresa. Na licitação, a empresa que ele montou identificou a proposta (…) Estou vendo se consigo ajudar com outras coisas lá…”
Em outro momento do diálogo, Ciro Nogueira ainda discute com Joesley uma estratégia para exercer influência nas decisões do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão regulador da concorrência de mercado, outra dor de cabeça do empresário. “No que você puder ajudar, até botar…somar…Porque vai nomear mais um e mais um também. Aí, com isso aí, se botar gente nossa, ele pode perder na maioria. Agora é melhor colocar outra pessoa para somar com o Alexandre (Cordeiro de Macedo, conselheiro do Cade indicado pelo PP). Então, botar alguém de vocês. Tem um cara lá que quero ver se o Eunício (Oliveira, presidente do Senado) apadrinha (…) Se eu conseguir botar esse cara, resolvo. Ou então eles botam alguém para somar com o meu. Quero ter a maioria”, disse Ciro. “O que interessa é resolver, né? Vou ver esse negócio do Cade, então”, respondeu o empresário. Naquele momento, a JBS estava em pé de guerra com a Petrobras no Cade para resolver uma disputa envolvendo o preço do gás fornecido pela estatal a uma companhia de Joesley. O imbróglio acarretava perdas de um milhão de reais para uma termelétrica do grupo J&F, dono da JBS.
Na conversa gravada, entre Ricardo Saud e o senador Ciro Nogueira, os dois também comentam os rumos da Operação Lava-Jato e casos de prisões específicas como a do ex-bilionário Eike Batista. “A prisão do Eike? Qual o motivo da prisão, cara? (…) O cara voltou, denunciou que não tava querendo fugir e qual o motivo?”, questionou o parlamentar. Na sequência, Joesley Batista analisa o riscos de ele próprio e de políticos acabarem atrás das grades.
“A Lava-Jato comemorou três anos, né? Três anos que nós tá vendo esse circo de braço cruzado ainda. Três anos barbarizando, barbarizando (…) mesmo comboio (…) uma conversa com Eduardo Cunha, ele no auge. Eu lembro lé em casa em Brasília ‘Eduardo, c…, nós vai tudo pra cadeia, nós vai preso, Eduardo’. ‘Não, não vamo’. Já passou 2015, 2016 e eu abri o jornal e três anos de Lava-Jato. (…) Essa turma lá só trabalhando”, diz.
No primeiro conjunto de áudios, os delatores premiados Joesley Batista e Ricardo Saud já haviam afirmado que detinham um áudio em que o senador Ciro Nogueira falava em “derrubar a Lava-Jato”. Nogueira é um dos investigados na Operação Lava-Jato – e já foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela Procuradoria-Geral da República.
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