Um montante de R$ 200 mil foi pago via caixa 2 pelo Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht — conhecido como setor de propinas da empresa — ao ex-deputado federal Paulo Ferreira, segundo o delator Alexandrino de Alencar. Em acordo de delação premiada, o ex-diretor da empreiteira no Rio Grande do Sul detalhou a boa relação que mantinha com a esposa de Ferreira, a petista Tereza Campello, e o encontro em que o ex-tesoureiro do PT pede contribuição para sua campanha eleitoral de 2010. Alexandrino inicia seu depoimento à Procuradoria Geral da República, no início de dezembro de 2016, explicando que ficou próximo de Tereza nos anos 1990, quando tentava convencer a bancada do PT na Assembleia Legislativa gaúcha sobre os benefícios de construir o pólo petroquímico de Triunfo. A relação se intensificou durante o governo estadual de Olívio Dutra e, mesmo depois de a esposa de Ferreira mudar-se para Brasília e virar ministra do Desenvolvimento Social do governo Dilma, os dois mantinham contato. O delator lembra que foi procurado por Tereza para auxiliar no desenvolvimento e implementação de cisternas de plástico no Nordeste. "Depois eu me afastei, o programa (das cisternas) continuou, e nesse meio tempo tive contato com o marido dela, Paulo Ferreira, que foi tesoureiro do PT entre 2005 e 2010. Depois ele se lançou candidato a deputado federal no Rio Grande do Sul e nós (Odebrecht) ajudamos ele em 2010, e depois em 2014, em doações nas campanhas sendo, aí sim, via caixa 2". "Não teve doação oficial ao senhor Paulo Ferreira?" — questiona o procurador que interroga Alencar. "Não me lembro, não me recordo, acho que não", diz o delator. Segundo o ex-diretor da empreiteira, ele se encontrou com o então candidato em 2010 no comitê eleitoral no Bairro Menino Deus, em Porto Alegre, e Ferreira pediu uma doação para sua campanha. "Eu fui lá falar com ele: "Como tá a campanha?". (Ele disse) "To precisando de recurso, você sabe, conhece", os projetos todos dele. E eu disse: "Infelizmente, não vou me recordar se o nosso limite oficial dá. Aí, vou ter que dar via caixa 2", e ele falou: "Ó, tudo bem" — relata Alencar. "O senhor deixou ele ciente naquele momento de que a doação teria que ser extra-oficial?" — questiona o procurador. "Sim". Alencar afirma, então, que o montante foi de R$ 200 mil, pagos em espécie em três parcelas "via setor de operações estruturadas", conforme uma planilha que entregou à Procuradoria Geral da República. Ele também detalha que o apelido de Ferreira era contador, possivelmente por ter sido tesoureiro do PT, e que não houve nenhuma ocasião específica em que a Odebrecht pediu a ele que intercedesse pela empresa. Questionado se a empreiteira teve algum controle sobre a destinação do repasse ou se cobrava uma prestação de contas do candidato, o ex-diretor da Odebrecht negou: "Não, isso não existe". O delator também disse não saber se Tereza Campello sabia dos repasses, uma vez que tratou do assunto diretamente com Paulo Ferreira.
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