Projeções apontam que o candidato independente Alexander Van der Bellen, apoiado pelo partido Verde, venceu as eleições presidenciais da Áustria neste domingo (4). O resultado contradiz as expectativas. Van der Bellen recebeu 53,3% dos votos, contra os 46.7% do candidato da extrema-direita Norbert Hofer, que representava o Partido da Liberdade (FPÖ). Os números ainda não são finais. Herbert Kickl, chefe de campanha de Hofer, admitiu a derrota. "Neste caso, o 'establishment' venceu", Kickl disse. A vitória de Van der Bellen surpreende na Europa em meio ao avanço de partidos de extrema-direita, como a Frente Nacional na França e a Alternativa para a Alemanha. O resultado foi recebido com alívio no bloco. Caso tivesse vencido o pleito, Hofer seria o primeiro chefe de Estado europeu vindo da extrema-direita. Sua vitória teria dado mais fôlego a outros movimentos críticos à integração européia. Sigmar Gabriel, vice-chanceler alemão, afirmou à mídia local que "um peso foi tirado da mente de toda a Europa": "Essa é uma vitória clara do bom senso contra o populismo de direita". Frank-Walter Steinmeier, ministro do Exterior da Alemanha, disse que "a Europa soltou um suspiro de alívio". As eleições austríacas já tinham sido realizadas há seis meses. Eleitores tiveram que voltar às urnas neste domingo devido a irregularidades na contagem dos votos, que levaram à anulação do resultado. Van der Bellen havia vencido por uma vantagem de apenas 31 mil votos. Entre as eleições originais e sua reprise houve, no entanto, dois eventos globais que poderiam ter impactado o resultado na Áustria. Em junho, britânicos decidiram deixar a União Europeia (o chamado "brexit"). Em novembro, americanos elegeram Donald Trump. O pleito austríaco vinha sendo esperado como uma medida da aversão ao "establishment" político. A vitória de Hofer indicaria maior rejeição aos governos e maior risco, portanto, do sucesso de movimentos populistas. Outra preocupação global era o futuro do bloco. Van der Bellen alertou, durante sua campanha, para os possíveis planos de Hofer convocar uma versão local do "brexit", pedindo a saída da Áustria da União Europeia. Hofer não descartava a possibilidade de realizar um voto popular sobre a permanência do país no bloco. Outra razão para a ansiedade era o fato de a eleição austríaca coincidir com um importante referendo constitucional na Itália. Em ambos os votos eleitores foram em parte motivados pela insatisfação com a globalização. A própria disputa entre o FPÖ e os Verdes pela Presidência era um sinal do desgosto popular em relação aos partidos tradicionais. A Áustria foi governada por décadas por duas siglas de centro, ausentes dessa disputa. Em um contexto mais amplo, a centro-esquerda na Europa tem perdido território para as siglas populistas. Na Espanha, o bipartidarismo entre Partido Popular (centro-direita) e PSOE (centro-esquerda) foi rompido no último ano, com o surgimento de partidos como Podemos (esquerda) e Cidadãos (centro-direita). O PSOE passa por uma crise histórica. A França é outro importante exemplo. O presidente François Hollande anunciou, na quinta-feira (1º), que não vai concorrer às eleições de 2017. Seu cargo deve ser disputado por François Fillon (centro-direita) e por Marine Le Pen (extrema-direita). Tanto Marine Le Pen quanto o partido Alternativa para a Alemanha apoiavam a candidatura de Hofer. O posto de presidente é cerimonial na Áustria, com poderes mais limitados do que o de premiê. Mas Hofer ameaçou, durante a campanha, dissolver governos que elevassem impostos e convocar referendos. O cargo também tem um papel relevante na formação de coalizões. Hofer tinha um discurso especialmente agressivo a respeito da crise migratória, uma das questões centrais das eleições de domingo. Cerca de 90 mil pessoas pediram asilo na Áustria em 2015. Foram quase 900 mil na Alemanha, onde também haverá impacto eleitoral. A aversão a migrantes soma-se às acusações de que o partido FPÖ fortaleceria o antissemitismo no país. O FPÖ foi fundado durante os anos 1950 por ex-nazistas. Assim como o partido francês Frente Nacional, de Marine Le Pen, o FPÖ tem amenizado o discurso radical para ampliar a base eleitoral. A sigla manteve, no entanto, a retórica agressiva a migrantes e muçulmanos.
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