No segundo dia de audiências da ação contra o ex-presidente Lula em Curitiba, a defesa voltou a debater com o juiz Sergio Moro, pediu novamente sua suspeição e levantou questionamentos como foram feitas as delações da Operação Lava Jato. As três testemunhas que depuseram nesta quarta-feira (23) são delatores ou negociam delação: o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, o ex-gerente da estatal, Pedro Barusco, e o ex-deputado Pedro Corrêa, cujo acordo ainda não foi homologado pela Justiça. Em todos os depoimentos, os advogados de Lula pediram a suspeição das testemunhas, que não teriam a isenção necessária e estariam agindo em seu próprio interesse, em busca de benefícios. Os advogados também tentaram esmiuçar, nas perguntas, a forma como foram feitos os acordos. Essa tem sido uma das estratégias de defesa do ex-presidente. Ao ex-deputado Pedro Corrêa, que era do PP e integrou a base de apoio ao governo Lula, foi perguntado como foi o contato do Ministério Público Federal, por que ele havia dado o depoimento que integra a denúncia contra Lula e de que forma ele havia ocorrido. Os advogados perguntavam constantemente se as testemunhas "estavam atrás de benefícios". Moro negou a suspeição, com base no compromisso assumido pelo colaborador e previsto em lei em dizer a verdade. As práticas adotadas em governos anteriores ao de Lula, especialmente o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), também foram tema dos questionamentos da defesa do petista. "Em todo governo sempre existiu barganha política", disse o ex-deputado Pedro Corrêa, que também afirmou que o governo de coalizão "não foi uma invenção do governo Lula". Já Paulo Roberto Costa foi questionado sobre o conhecimento de denúncias de corrupção contra a Petrobras na época do governo FHC, e sobre a trajetória do ex-senador Delcídio do Amaral, também delator da Lava Jato, na Petrobras - ele foi diretor durante o governo tucano. A defesa também voltou a perguntar sobre acordos com o governo americano, como fez na primeira audiência. Os advogados tentam levantar a tese de que a Lava Jato tem colaborado informalmente com os Estados Unidos. Paulo Roberto Costa assumiu ter assinado um documento com o governo americano e o aval da Procuradoria-Geral da República, que ainda será aprofundado. Já Pedro Barusco afirmou que os acordos no Exterior estão sendo negociados em sigilo. Novamente, todas as testemunhas afirmaram que não tinham conhecimento sobre o tríplex no Guarujá atribuído a Lula, tema da denúncia contra o ex-presidente, nem se ele recebeu vantagens indevidas. Houve novos momentos de tensão entre os advogados de Lula e o juiz Sergio Moro, como na primeira audiência. Os advogados reclamaram do "pré-julgamento" de Moro, que indeferiu pedidos e questionamentos da defesa e chegou a negar a palavra a um dos advogados durante uma discussão. "Vossa Excelência disse há pouco que a defesa não tinha argumentos e que estava tumultuando. Ao nosso ver, isso mais uma vez configura pré-julgamento, e por isso pedimos sua suspeição", disse o advogado Cristiano Zanin Martins, que depois reclamou do tom de voz de Moro contra os defensores. "É interessante, Vossa Excelência implica com as perguntas da defesa. Com o Ministério Público, tudo bem, faca quente na manteiga", reclamou o advogado José Roberto Batochio. Moro rebateu: "Não há argumentos processuais. A defesa coloca a questão, o juiz resolve, e a defesa quer arguir, arguir, arguir a mesma questão". Para ele, a postura era "inadequada" e "tumultuava a audiência".
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