sábado, 22 de outubro de 2016

Policial do Senado diz que chefe tentava "blindar" parlamentares


Paulo Igor Bosco Silva, de 29 anos, o policial legislativo que deu origem à Operação Métis ao informar à Polícia Federal sobre as atividades suspeitas da Polícia do Senado no sentido de proteger parlamentares, enviou à Polícia Federal uma carta de dez páginas em que denunciou o seu superior, Pedro Ricardo Carvalho, por supostamente estar "tentando impedir, ou pelo menos embaraçando a investigação", em referência à Operação Lava Jato e "outras investigações criminais". "A intenção das medidas determinadas pelo noticiado (o chefe da Polícia do Senado, Pedro Carvalho) era blindar tais pessoas de medidas destinadas a esclarecer eventuais ilícitos por elas praticados de investigações legítimas conduzidas pelos órgãos federais de persecução criminal", escreveu Paulo Igor Bosco Silva. Não há registros, nos autos do inquérito da Polícia Federal, de que Paulo Igor Bosco Silva tenha feito algum acordo de delação premiada – ele teria agido apenas como o autor de uma "notícia-crime", e com ela pediu a abertura de um inquérito policial. "Pedro Ricardo Araújo Carvalho, atual diretor da Polícia do Senado, determinou medidas para impedir diligências investigativas até mesmo em relação a ex-senadores da República. O que demonstra de forma inequívoca a desvinculação entre a ordem por ele emanada do intuito de proteção das atividades parlamentares", afirmou o policial legislativo. Paulo Igor Bosco Silva disse que pessoalmente advertiu o então chefe do Serviço Jurídico da Polícia do Senado "para a possibilidade de existirem escutas ambientais e outras diligências legalmente autorizadas" e que tais varreduras poderiam atrapalhar uma eventual investigação federal. Contudo, disse não saber o resultado de seu alerta. Paulo Igor Bosco Silva afirmou que, ao regressarem de uma varredura realizada em São Luís (MA) na casa de um genro do ex-senador Edison Lobão Filho, os servidores da Polícia do Senado "externaram publicamente, diante de vários colegas do setor, extrema preocupação por terem cumprido a diligência". O policial afirmou que o serviço foi realizado "no período em que o senador Lobão Filho estava sendo alvo de investigações" da Polícia Federal. "A Polícia do Senado não possui atribuição para realizar medidas de contra-inteligência fora das dependências da Casa Legislativa, muito menos em ambientes não relacionados às atividades parlamentares", escreveu o policial. Em depoimento prestado à Polícia Federal, Paulo Igor Silva reconheceu a autoria do ofício, disse que atravessou "um dilema moral" ao decidir fazer a denúncia e que sempre procurava "escapar dessas ordens" de varredura, pois as considerava ilegais. Ele dizia aos seus superiores que não sabia operar os aparelhos de rastreamento. As maletas apreendidas pela Polícia Federal são o famigerado sistema Guardião, de interceptação de ligações telefônicas. Eles fazem grampos telefônicos, cada maleta por interceptar centenas de ligações simultâneamente. O sistema Guardião é fabricado em Florianópolis. Pela lei, somente a Justiça pode ordenar a execução de interceptações telefônicas. Sendo assim, por qual motivo o Senado Federal tem 12 maletas do sistema Guardião? Quando foi que o Senado Federal pediu autorização judicial para grampear alguém?

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