O número de mortes de baleias jubarte encalhadas na costa brasileira é recorde neste ano, com 23 animais encontrados sem vida só no primeiro semestre. A marca supera – e muito – a média anual de casos desde 2002, quando começou o monitoramento do Instituto Baleia Jubarte. A situação tem intrigado estudiosos da espécie. As explicações, por sua vez, não são unanimidade. As hipóteses passam pelas mudanças climáticas, pelo fenômeno El Niño, pela ação humana com as redes de pesca e até pelo fato de a população da espécie ter aumentado nos últimos anos. No país, o maior índice de mortes de jubartes, com seis casos, havia ocorrido em 2011. Quase quatro vezes menos que no primeiro semestre.
"A maior parte dos encalhes acontece entre agosto e setembro, mas neste ano começou bem mais cedo e cremos que vai ser o pior dos últimos anos", afirmou Milton Marcondes, coordenador de pesquisas do instituto. Um dos piores casos monitorados ocorreu no início deste mês em Aracruz, no Espírito Santo. Uma baleia adulta foi encontrada morta, estrangulada no abdômen por uma possível corda de pesca. Dos 23 casos registrados até junho, seis foram em São Paulo. O Estado contabilizava no máximo um por ano, quando isso ocorria. As jubartes nascem principalmente em Abrolhos, no litoral da Bahia, entre julho e novembro. Elas migram pelo litoral brasileiro para a Antártida para se alimentar no verão. Depois reiniciam a rota migratória de 25 mil km. O crescimento da população de jubartes no País teve um ritmo elevado na última década. Eram 3.400 no início da pesquisa, em 2002, chegando a 17 mil atualmente. "A população está aumentando, então os encalhes podem ser normais. Há uma influência nesse número que temos de analisar, como a pesca e os efeitos do El Niño", afirma Marcondes. O fator climático, entretanto, pode ter afetado a oferta de alimentos. Dessa forma, as baleias adiantam o período de migração e ficam mais fracas. Os encalhes mais comuns são de animais jovens, de até quatro anos. O efeito do El Niño, intenso desde o ano passado, pode ter afetado a disponibilidade do krill, um tipo de camarão pequeno e base da alimentação desse animais. Na opinião do oceanógrafo Hugo Gallo, a pesca é um dos motivos mais prováveis para o fenômeno. Ele preside o Instituto Argonauta, que atua na preservação marinha no litoral norte. As redes de espera, usadas para pesca sem a presença dos pescadores, são as principais vilãs. "Está claro para mim que a mortandade é ligada à pesca. Temos uma grande quantidade de tainhas aqui. O pescador coloca mais rede, as baleias se enroscam mais", afirma. A hipótese tem como base recentes proibições do governo de Santa Catarina, que limitou a pesca comercial da espécie no litoral do Estado. Uma das preocupações do Ibama é com as atividades da Petrobras na região do pré-sal, com o uso do método sísmico. São canhões de ar lançados ao solo oceânico que geram sons para detectar a existência de petróleo e gás. Ainda não há, no entanto, dados para comprovar a ligação entre os eventos e uma desorientação das baleias. De acordo com André Barreto, da Universidade do Vale Itajaí (SC), que coordena um projeto de monitoramento em nível nacional, as incertezas são ainda grandes. "Temos visto muitas se enrolando em redes de pesca, mas o porquê de elas terem nadando tão próximas da costa é algo que estamos buscando entender. Raramente a natureza tem um fator só". O mar do litoral norte de São Paulo é favorável para baleias, principalmente por causa dos dias mais frios e da presença abundante de alimento, como os cardumes de tainhas. De acordo com números compilados pelo instituto Argonauta, de Ubatuba, neste ano ocorreram 13 observações do animal. Seis foram encontrados mortos nas praias do Estado. Números de anos anteriores são escassos, mas o oceanógrafo Hugo Gallo Neto, presidente do instituto (que monitora as baleias no litoral norte), diz que é possível afirmar que os encontros estão mais frequentes. A suspeita é que as baleias estão passando mais tempo na região. Segundo Gallo Neto, dois fatores podem estar retendo mais os grandes cetáceos perto da costa. "Os cardumes de peixes, como as tainhas, estão aparecendo mais. Eles são importantes fontes de alimentação. Por isso, as baleias tendem a ficar mais tempo por aqui", diz o especialista. O outro fator é climático. A presença do El Niño, que muda o padrão do tempo e, neste ano, fez os dias frios voltarem ao litoral paulista, têm facilitado a vida dos animais. É normal a ocorrência deles nesta época do ano. "Elas estão migrando das regiões mais ao sul para o arquipélago de Abrolhos" afirma o oceanógrafo de Ubatuba. A espécia mais vista, segundo os registros dos técnicos do instituto, é a jubarte. Barcos do grupo saem quatro vezes por semana para mapear o litoral. Os encontros têm sido mais fáceis entre Ilhabela e São Sebastião. "Foi surpreendente. Estava observando alguns golfinhos se alimentarem, quando uma Jubarte apareceu", conta Leandro Saadi. No dia 30 de junho, o fotógrafo e ambientalista estava fazendo seu trabalho mensal de vistoria da área de proteção que existe entre as praias da Baleia e do Sahy. Foi entre as duas praias, às 14 horas, a uns 200 metros de altura, com o seu paraglider motorizado, que Saadi conseguiu enquadrar na lente de sua câmera a jubarte. A nota triste é que a baleia estava ferida: "Ela não tinha o lado direito da cauda". Possivelmente o animal estava mutilado por ter se enroscado em uma rede de pesca. "O pesquisador que viu as fotos descartou ser ataque de tubarão ou mesmo de outra baleia maior", conta Saadi. Na recente edição da Semana de Vela de Ilhabela, no início de julho, alguns competidores que estavam no mar também foram brindados com a exibição de uma baleia jubarte, que chegou a saltar ao lado de uma embarcação.
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