Por Reinaldo Azevedo - Dilma Rousseff, a “presidenta” afastada, encaminhou a sua defesa a um tribunal cuja legitimidade, na prática, ela não reconhece. Assim, de saída, antes mesmo que o Senado a condene, ela opta pela autocondenação. Escolheu o suicídio. Apelemos à história: julgados costumam não reconhecer a legitimidade de tribunais em regimes ditatoriais. O Brasil é uma democracia. De todo modo, a Afastada mandou a sua defesa, lida, pateticamente (ele não se cansa) por José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União, convertido em advogado pessoal de Dilma. Lá está escrito, por exemplo: “Saibam todos que vocês estão julgando uma mulher honesta, uma servidora pública dedicada e uma lutadora de causas justas. Tenho orgulho de ser a primeira mulher eleita Presidenta do Brasil. Nestes anos, exerci meu mandato de forma digna e honesta. Honrei os votos que recebi”. Bem, a honestidade pessoal desta senhora não está em questão, como sabe todo mundo. Não é essa a acusação que há contra ela. Os crimes de responsabilidade, previstos no Artigo 85 da Constituição, que ensejam o impeachment, regulado pela Lei 1.079, não tocam nesse aspecto. Se Dilma fosse ladra, seria acusada de crime comum e julgada pelo Supremo, não pelo Senado. Entre os crimes de responsabilidade especialmente graves está “atentar contra a lei fiscal” — Incido VI do Artigo 85. Foi o que ela fez com as pedaladas e com os decretos autorizando gastos suplementares ao arrepio do Congresso. Afirma Dilma: “Errar, por óbvio, é uma decorrência inafastável da vida de qualquer ser humano. Todavia, dentre estes erros, posso afirmar em alto e bom som, jamais se encontrará na minha trajetória de vida a desonestidade, a covardia ou a traição. Jamais desviei um único centavo do patrimônio público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros”. Se o Brasil fosse presidido por um anjo e se anjo tivesse feito o que Dilma fez com a contabilidade pública, teríamos de botar o dito-cujo pra correr. É evidente que a Afastada não reconhece o processo que a julga, Afirmou: “Sou alvo dessa farsa porque, como presidenta, nunca me submeti a chantagens. Não aceitei fazer concessões e conciliações escusas, de bastidores, tão conhecidas da política tradicional do nosso país. Nunca aceitei a submissão, a subordinação e a traição dos meus eleitores como preço a pagar pelos acordos que fiz. É por ter repelido a chantagem que estou sendo julgada”. Bem, aceitou, sim. Os desvios na Petrobras e em toda parte são fruto, entre outras coisas, do loteamento descarado do governo. Ou aquela canalha que roubava a Petrobras estava lá em razão do talento e de capacidade de gerir a empresa? O governo só foi para o vinagre em razão das trocas escusas. Isso é verdade até na economia: de forma escusa, Dilma ignorou a sanidade financeira da Petrobras para conter o preço dos combustíveis e segurar a inflação, que era estimulada por sua política econômica amalucada. Dilma quebrou o setor elétrico para fazer populismo econômico. Não! Não está sendo deposta por isso. Mas fez trocas escusas, sim. E, para escândalo da lógica, seu texto insiste na tese de que só foi afastada para que se interrompesse a investigação da Lava Jato, o que é piada. Depois que ela caiu, o PMDB entrou pra valer na mira da operação, e três ministros nomeados por Michel Temer foram demitidos. Em razão da… Lava Jato!!! A propósito: Marilena Chaui, a grande pensadora do partido de Dilma, diz que Sergio Moro é um agente dos EUA que tem o objetivo de desestabilizar o Brasil. Os petistas precisam decidir se o PMDB deu um golpe na Lava Jato ou é um instrumento da Lava Jato. É patético! Ah, sim, Dilma voltou a seu passado de suposta heroína da democracia: “O destino sempre me reservou grandes desafios. Alguns pareciam intransponíveis, mas eu consegui vencê-los. Já sofri a dor indizível da tortura, já passei pela dor aflitiva da doença, e hoje sofro a dor igualmente inominável da injustiça. O que mais dói neste momento é a injustiça. O que mais dói é perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política”. Olhem aqui: é evidente que a tortura é indefensável, como é o terrorismo, ao qual ela aderiu no passado. Acontece que isso não está em questão. Foi a ditadura que tratou Dilma como uma prisioneira não pode ser tratada. No momento, quem a está afastando da vida pública é a democracia. Se alguém tinha dúvida sobre o desprezo que Dilma tem pelo Senado, acredite na voz de um senador petista que sempre fala demais. Lindbergh Farias (RJ) explicou por que Dilma não foi à comissão: “Não vou agredir ninguém. Mas as pessoas têm de saber por que ela não veio. Aqui não estamos discutindo critérios jurídicos, só políticos. Aqui, é um jogo de cartas marcadas. Quem ela iria convencer aqui? Para não legitimar esse golpe, aconselhamos que ela venha só no plenário do Senado para fazer a sua defesa”. O senador se esquece de que a comissão é uma instância do Senado. Não reconhecê-la é não reconhecer a Casa. Agora a defesa e a acusação entregarão suas alegações finais. A comissão só volta a se reunir agora no dia 2 de agosto. Antonio Anastasia (PSDB-MG) apresentará então seu relatório final, opinando se Dilma deve ou não ser cassada. Estima-se que o julgamento possa ser efetuado entre 25 e 27 de agosto. A presidente afastada sabe o que a espera e já se antecipou: optou pelo suicídio no texto enviado à Comissão.
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