A Polícia Federal tem um inquérito aberto para investigar empréstimos do BNDES, com a intervenção do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Entre as obras investigadas estão a do Porto Mariel, em Cuba. Documentos mostram que os investigadores apontam que “o ex-presidente Lula atuava como verdadeiro lobista da construtora Odebrecht nos países visitados, defendendo os interesses da empresa e promovendo-a junto aos governos estrangeiros e ao BNDES”. Para os investigadores, há “indícios de que, ao longo dos anos de 2011 e 2014, o poderoso chefão Lula teria recebido vantagens econômicas indevidas, direta e indiretamente, do conglomerado Odebrecht, a pretexto de influir em atos praticados por agentes públicos estrangeiros, notadamente na República Dominicana, Cuba e Angola, além de facilitar e/ou agilizar o trâmite de procedimentos de financiamentos de interesse do conglomerado referido no âmbito do BNDES”. Ainda segundo a documentação, os investigadores indicam que Lula “incorreu em conduta tipificada no código penal, pois teria usado do seu prestígio político e da sua condição de ex-presidente para influenciar governos estrangeiros e interferir nos procedimentos de financiamento do BNDES, tudo em prol da Odebrecht, fazendo-o também em interesse próprio, visto que foi muito bem remunerado, direta e indiretamente (através de familiares e pessoas próximas), pelos serviços prestados”. Sobre a atuação no BNDES, escreveram os investigadores: “São fartos os elementos que apontam no sentido de que Lula também influenciava a atuação do BNDES, facilitando a concessão de financiamentos aos países que contratariam a Odebrecht”. Segundo levantamento apresentado à Justiça, em um período de quatro anos o então presidente do BNDES, Luciano Coutinho, teve “oito eventos públicos registrado em sua agenda, sendo que, desses, apenas um não contou com a presença ativa de diretores do Instituto Lula. Nesse lapso temporal, o mandatário do BNDES compareceu cinco vezes ao Instituto Lula para tratar de ‘conjuntura econômica’ com seus diretores”. A Polícia Federal cruzou informações colhidas nesta investigação com a delação de Delcídio do Amaral. Diz o documento: “Esta interferência explícita do governo e de Luiz Inácio Lula da Silva e pessoas ligadas a ele nas decisões do BNDES transparece em trechos da delação premiada do senador Delcídio do Amaral”. Foi em meio a esta apuração mais completa que a Polícia Federal fez operação na manhã desta sexta-feira (20/5). Foi pedida a quebra de sigilo fiscal e bancário de investigados. Para a Justiça Federal, Taiguara Rodrigues dos Santos, “pessoa próxima e do convívio familiar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, foi contratado para prestar serviços especializados (como sondagens, perfurações, serviços de topografia), “sem experiência anterior e sem a demonstração inequívoca de capacidade técnica, o que indica a ocorrência de irregularidades e dissimulação de valores de origem ilícita”. Para a Justiça, “tais elementos são convincentes e estão bem delineados” em representação feita pela Polícia Federal. Ainda segundo os documentos, “restou comprovada nos autos a rápida ascensão financeira de Taiguara”. Taiguara foi contratado, segundo a apuração, para fazer obra para Joana Cordeiro. Segundo a Polícia Federal, usando fontes abertas, seria uma pessoa com ligações com o Trade Link Bank. Os investigadores apontam que o banco foi usado – de acordo com reportagens – pelo publicitário Marcos Valério para repasses de US$ 900 mil para off-shore de Duda Mendonça, publicitário da campanha de Lula em 2002. “A contratação de empresa de Taiguara (Projetai) por Joana, pessoa que recebeu valores de banco ligado ao PT, a Marcos Valério e utilizado para pagar marqueteiro que atuou na campanha de Lula, revela que ex-presidente realmente movimentou-se para propiciar negócios para seu ‘sobrinho’ em Angola. O pacto levanta até mesmo suspeitas de configurar apenas artifício para transações bancárias irregulares no interesse do Partido dos Trabalhadores". Segundo documentos, os investigadores apontam que Lula viajou para realizar “palestras” (as aspas constam dos documentos). “Percebe-se, no conteúdo de alguns telegramas, a atuação de Lula no intuito de beneficiar a construtora, fazendo ‘lobby’ a seu favor”. Segundo os documentos, Lula recebeu R$ 372.935,54, a título de palestras na República Dominicana. A partir de dados fornecidos pelo BNDES, os investigadores apontam que os empréstimos do BNDES à República Dominicana aumentaram “consideravelmente nos anos de 2013, 2014 e 2015”. Conclui o documento: “Houve, portanto, substancial aumento da atuação do BNDES na República Dominicana após a visita de Lula ao país”. A comitiva de Lula ao país entre 31/5 a 2/6/2011 foi recepcionada por José Dirceu e Marcelo Odebreht. Ainda segundo os documentos, chamou a atenção dos investigadores mudança de posicionamento do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio em relação a um projeto de interesse da Odebrecht em Cuba. Diz um trecho: “Em meados de 2012, é assertivo em afirmar que a Odebrecht não obteria, pelo menos até o final de 2013 (final das obras do Porto Mariel), recursos para outros projetos e em abril de 2013 já prepara informação ao COFIG para aprovar financiamento ao aeroporto de Havana”. Os investigadores apontam que o financiamento para a modernização do aeroporto foi aprovado pelo COFIG em 29/05/2013, “poucos meses após a visita de Luiz Inácio Lula da Silva”. A Polícia Federal diz que diálogos reproduzidos de outra visita de Lula a Cuba mostram “claramente a atuação de Lula em prol da Odebrecht, inclusive com intervenção junto à presidente Dilma Rousseff”.
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