O Jornal Nacional teve acesso à denúncia da Procuradoria Geral da República contra o ex-presidente Lula. Ele é acusado de obstrução à justiça no caso da Lava Jato que envolve o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. A Procuradoria-Geral da República partiu das delações do ex-senador Delcidio do Amaral e de seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, para buscar provas materiais, como extratos bancários, telefônicos, passagens aéreas e diárias de hotéis. E chegou à conclusão de que eles se juntaram ao ex-presidente Lula, ao amigo dele e pecuarista, José Carlos Bumlai, e o filho, Maurício Bumlai, e atuaram para comprar por R$ 250 mil o silêncio do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. O “Jornal Nacional” teve acesso à íntegra da denúncia da Procuradoria-Geral da República. O primeiro pagamento, de R$ 50 mil, foi feito por Delcidio, em maio de 2015. Ele recebeu o dinheiro de Maurício Bumlai num almoço. A quebra de sigilo mostra que Maurício Bumlai fez dois saques de R$ 25 mil dias antes. A operação foi em uma agência bancária da Rua Tutóia, São Paulo, cidade onde ocorreu o repasse dos valores a Delcídio do Amaral. Segundo a denúncia, o ex-chefe de gabinete de Delcidio, Diogo Ferreira, fez os pagamentos que restavam em outras quatro datas entre junho e setembro de 2015, sempre recebendo o dinheiro sacado por Bumlai na agência da Rua Tutóia, conforme os extratos bancários. A denúncia detalha a participação do ex-presidente no planejamento desses repasses. A Lava Jato quebrou o sigilo de e-mails do Instituto Lula e comprovou que Lula e Delcidio se reuniram cinco vezes entre abril e agosto de 2015, ou seja, antes e durante as tratativas e os pagamentos pelo silêncio de Nestor Cerveró. Uma das reuniões foi no Instituto Lula, no dia 8 de maio, dias antes de Delcídio fazer o primeiro pagamento. Delcídio afirmou em delação premiada que, no encontro, o ex-presidente expressou grande preocupação de que José Carlos Bumlai pudesse ser preso por causa de delações na Lava Jato e que Bumlai precisava ser ajudado. Segundo Delcidio, o motivo para a intervenção na delação de Cerveró era evitar que viessem à tona fatos supostamente ilícitos envolvendo ele mesmo, José Carlos Bumlai e Lula. A Procuradoria Geral da República também aponta como provas telefonemas entre Lula e José Carlos Bumlai como no dia 7 de abril, um mês antes dos pagamentos — Lula e Bumlai se falaram quatro vezes. E, no dia 23 de maio, um dia depois do primeiro pagamento, Lula ligou para José Carlos Bumlai. Conversaram duas vezes nesse dia. No final da denúncia, a Procuradoria conclui que Lula “impediu e ou embaraçou investigação criminal que envolve organização criminosa, ocupando papel central, determinando e dirigindo a atividade criminosa praticada por Delcídio do Amaral, André Santos Esteves, Edson de Siqueira Ribeiro, Diogo Ferreira Rodrigues, José Carlos Bumlai e Maurício de Barros Bumlai” e pede a condenação dos denunciados por obstrução da Justiça. Em nota, o Instituto Lula declarou que, no depoimento à Procuradoria Geral da República, o ex-presidente já esclareceu que jamais conversou com o ex-senador Delcídio do Amaral com o objetivo de interferir na conduta do condenado Nestor Cerveró ou em qualquer outro assunto relativo à Operação Lava Jato. A defesa de José Carlos Bumlai negou as acusações. Afirmou que ele nunca pagou qualquer valor a Cerveró. E que o ex-senador Delcídio do Amaral está vendendo informações falsas em troca da liberdade. Os advogados de Maurício Bumlai só vão comentar depois de ter acesso à denúncia inteira. A defesa de Diogo Ferreira confirmou os pagamentos, mas disse que foram feitos a mando do ex-senador Delcídio do Amaral. O advogado de Edson Ribeiro declarou que ele nem sequer conhece Lula e Bumlai e que jamais participou de qualquer ato de obstrução à Justiça. A defesa de André Esteves declarou que ele não cometeu nenhuma irregularidade. O JN não teve resposta dos advogados de Delcídio do Amaral.
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