"O mensalão revelou a ponta do iceberg dessa organização criminosa que hoje estamos investigando". A frase sobre o petrolão – escândalo de corrupção na Petrobras revelado pela Operação Lava Jato foi dita nesta sexta-feira (22) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante palestra em Cambridge, nos Estados Unidos. Janot participa de evento organizado por estudantes brasileiros da Universidade Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT) que reuniu empresários, políticos e pensadores para discutir o futuro do Brasil. "No mensalão, houve 40 denunciados e 25 réus condenados. Se vocês fizerem a comparação do que é hoje a Lava Jato e o que foi o mensalão, o mensalão foi brincadeira", disse Janot, arrancando risos da platéia. Ele ressaltou a importância daquela investigação para revelar o esquema, que ele considera ser um só. "Ainda há partes do iceberg que precisam ser descobertas", afirmou. O procurador-geral voltou a citar números da Lava Jato: 1.177 procedimentos investigatórios instaurados em primeira instância, 574 mandados de busca e apreensão, 93 condenações e 5 prisões. No STF, afirma, houve 47 inquéritos judiciais, 118 mandados de busca e apreensão – sendo que um deles atingiu o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – , 5 prisões preventivas – incluindo a do senador Delcídio do Amaral, então líder do governo no Senado –, e 9 denúncias contra 2 pessoas. O procurador-geral também foi questionado sobre as investigações sobre o presidente da Câmara: "Nós oferecemos duas denúncias ao STF. Há seis inquéritos em andamento, dos quais dois estão bem avançados". De acordo com ele, esses inquéritos devem se tornar duas novas denúncias e serão encaminhadas em breve ao STF: "No ano passado, o Ministério Público pediu o afastamento de Eduardo Cunha, agora depende do Supremo julgar o pedido". Janot refutou a tese de que o Ministério Público prende pessoas primeiro para forçar a realização de acordos de delação premiada. "No Brasil circula essa informação falsa. Mas dos 65 acordos de colaboração premiada, 51 foram feitas com pessoas em liberdade e 13 com pessoas presas", disse. O procurador-geral afirmou que recebeu uma recomendação de uma embaixadora italiana sobre a Lava Jato, baseada na Operação Mãos Limpas, que investigou casos de corrupção no país italiano. "Ela disse: 'Ou vocês encerram essa investigação, ou terceiros irão encerrá-la. Então é bom que vocês se organizem para manter controle do processo'." Para Janot, é necessário fazer uma avaliação do custo-benefício da operação, pois ela envolve recursos financeiros e humanos com os quais o Ministério Públio não estava preparado para arcar. Ele falou ainda sobre o papel do Ministério Público no combate à corrupção, que caracterizou como "endêmica" no Brasil e ressaltou a importância da autonomia do órgão, que, afirmou, permite aos procuradores conduzir investigações como julgarem adequado para elucidar os fatos. Questionado se um eventual governo Temer influenciaria nessa independência, respondeu, rindo: "Cada dia com sua agonia". Janot lembrou que a estrutura de autonomia e independência do Ministério Público é constitucional e que qualquer mudança nesse papel teria de ser feito por meio de PECs: "Toda vez que você deixa o processo político contaminar o processo técnico, o resultado não é bom. Temos que fazer nosso trabalho sem nos deixar envolver pelo clamor da rua". Para ele, as manifestações populares devem influenciar a política, não o trabalho do Ministério Público. Sobre a votação do impeachment, Janot brincou: "O nome de Deus foi invocado tantas vezes que é impossível que uma pessoa que foi citada tantas vezes não mereça ser investigada".
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