Principal indutora da indústria nacional, a Petrobras pisou forte no freio neste início de 2016. Segundo dados da ONG Contas Abertas, o investimento da estatal no primeiro bimestre ficou em R$ 9,137 bilhões, o menor desde 2008, em valores corrigidos. A cifra equivale a pouco mais da metade dos R$ 17,766 bilhões investidos nos dois primeiros meses de 2010, ano em que a estatal teve o maior dispêndio no mesmo período do ano. A retração, que é uma resposta à fragilidade financeira da companhia, tem impactos na economia como um todo e na indústria do petróleo, em particular. "Quando a Petrobras vai mal, a economia vai mal também, dado o enorme peso que a empresa tem sobre o restante da indústria", diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura. Ao comentar a queda do PIB em 2015, a consultoria Tendências afirmou que a estatal e as empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato foram responsáveis por dois terços da queda de 14,1% do investimento, com o adiamento ou paralisação de grandes obras. A queda dos investimentos da Petrobras é resultado do plano de resgate financeiro da empresa, que em um ano anunciou três cortes em seu orçamento. Da última vez, em janeiro, reduziu a estimativa de gastos no plano de negócios para o período 2015/2019 para US$ 98,4 bilhões, US$ 32 bilhões a menos do que a projeção anterior. O ajuste tem como objetivo principal resguardar o caixa para o pagamento de parcelas de sua dívida que vencem durante o ano. A dívida total era, no final de 2015, de R$ 492,8 bilhões. A empresa diz que a redução dos investimentos "reflete os ajustes do portfólio de projetos", que definiram o foco em gastos que garantam o aumento da produção de petróleo e gás. "Nas demais áreas de negócios, os investimentos foram destinados, basicamente, à manutenção das operações existentes", completou a empresa, em nota. De fato, não há hoje grandes obras de refino ou gás natural em curso e, mesmo na área de exploração, os gastos têm sido mínimos. De acordo com dados da empresa americana Baker Hughes, por exemplo, havia, em março, 50 sondas de perfuração de poços marítimos de petróleo no Brasil, pouco mais da metade das 97 verificadas um ano antes. Pires diz temer que a falta de investimentos eleve o risco de sucateamento dos fornecedores da indústria do petróleo, cujo parque se expandiu nos anos de bonança. Além disso, acredita que a empresa terá dificuldades de manter as projeções de crescimento da produção. A estatal já cortou no início do ano sua meta para 2020, passando de 4,2 milhões para 2,8 milhões de barris por dia. "Neste ritmo, chegaremos a 2020 com uma produção igual à atual", diz.
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