Até o início da década de 80, no Rio Grande do Sul, impunha-se a figura do vice-imperador do Estado, o empresário Breno Caldas Jr, poderoso proprietário da Empresa Jornalística Caldas Jr, dona do jornal Correio do Povo, da Radio Guaíba e TV Guaíba. Embora já estivesse decadente e ultrapassado, Breno Caldas Jr. protagonizava um espetáculo anual de beija-mão no aniversário do Correio do Povo, ao qual acorriam todas as autoridades civis, militares e eclesiásticas. Era quase um ritual de mais de meio século. Então, abalada pela maxidesvalorização do dólar, a Empresa Jornalística Caldas Jr definhou. E chegou ao ponto em que Breno Caldas precisou se ajoelhar ao lado do governador Amaral de Souza e implorar por empréstimo de papel da Corag (Companhia Riograndense de Papel) para continuar imprimindo o jornal Correio do Povo. Diante da negativa do governador em atender seu pedido, Breno Caldas Jr. teve seu último arroubo. Publicou um editorial violento, com o título "O anão moral", contra Amaral de Souza. Pouco tempo depois, a Companhia Jornalística Caldas Jr. entrou em colapso e paralisou todas suas atividades. Breno Caldas refugiou-se no Haras do Arado, no Belém Velho, zona rural do sul de Porto Alegre, onde vivia. Acabava assim um império da comunicação no Brasil. Consagrava-se outro império, o da RBS, que passou a reinar sozinha sobre o Rio Grande do Sul. O orgulho e a prepotência dos controladores da RBS chegou ao limite no dia em que o empresário Nelson Sirotsky anunciou o arremate da estatal de telefonia CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações) junto com a Telefonica de Espanha. Parecia o lançamento espacial da RBS, rumo a um futuro cada vez mais poderoso. Pois aquele foi o momento da sua inflexão e definitivo declínio. Abandonada logo depois pela Telefonica, que preferiu concentrar sozinha os negócios telefônicos em São Paulo, a RBS viu-se afundada em endividamento que a comprometeu definitivamente. E o último comprometimento foi na Operação Zelotes. Então sofreu o esgoelamento final pela Rede Globo. Assim, nesta segunda-feira, inapelavelmente, foi anunciado no começo da tarde o acordo entre os acionistas da RBS e os empresários Lírio Parisotto e Carlos Sanchez, do Grupo NC, juntamente com outros investidores, para a compra das operações de televisão, rádio e jornal que atuam sob a marca RBS em Santa Catarina. A conclusão do negócio está sujeita à condição suspensiva de aprovação prévia do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e dos demais órgãos regulatórios do setor, bem como ao cumprimento de determinadas condições precedentes usuais para estes tipos de transações. Com esse movimento, a RBS fica embretada no Rio Grande do Sul, sem qualquer perspectiva futura. O valor do negócio deve superar 1 bilhão de reais. Lirio Parisotto é um bilionário que cresceu vendendo CDs com trilhas de novelas da Rede Globo. É íntimo amigo de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho e dos irmãos Marinho, que controlam a Rede Globo. O empresário Carlos Sanchez é o dono do laboratório de remédios genéricos EMS, que manda no mercado nacional. Eles são, na verdade, ventriloquos da Rede Globo. com isso, acabou a brincadeira da RBS. Seus dirigentes ajoelharam como Breno Caldas Junior. Na verdade, há muitos anos a RBS vivia ajoelhada diante do altar do petismo. Não resolveu nada, foi o seu altar do suplício. Jornalismo sem independência dá nisso, na total desimportância e na morte dos veículos.
Um comentário:
Lamento. Foi a empresa e graças ao Diretor que tive a época, obtive resultados que ainda representam no país novas direções, quanto a circulação e comercial.
porém, assim como todo o processo da época, fomos todos dispensados. E sabíamos destes fatos desde 1996.
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