Eu não estou nem aí, pouco me importa e pouco importa ao País, se Júlio Camargo, ex-cliente de Beatriz Catta Preta, é o homem que acusa Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. O que me interessa é que uma advogada, na posse perfeita de suas faculdades mentais e profissionais, disse ao Brasil, no Jornal Nacional, que está sendo ameaçada por integrantes da CPI do Petrolão. Não só ela. Também a sua família estaria em risco, disse. E aí fez o anúncio espetacular: vai até deixar a advocacia por isso. Mas quem ameaça? Como? Isso ela não contou. Se outros perderam o senso de proporção e de limite, estou entre os que não perderam. A acusação, como foi feita, sem nomes, pesa contra um dos Poderes da República, de que a CPI é um dos mais caros instrumentos. Existe alguma prova, algum indício, algum elemento circunstancial? Foi por intermédio de telefonema, SMS, mensagem pelo WhatsApp, e-mail, uma pomba com a cabeça arrancada deixada na caixa do Correio? Foi recado de alguém, amigo ou inimigo? De quem? Foi a simples convocação para a CPI que fez a doutora mudar até de profissão — ela ainda não anunciou qual será a sua nova ocupação? Sugiro a Escolinha do Professor Raimundo de Roteiristas da Globo… Pois bem. o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse no sábado, por intermédio do Twitter, que vai acionar a Procuradoria Parlamentar da Casa para interpelar judicialmente Beatriz. É o mínimo que ele tem de fazer, ainda que não se chamasse Eduardo Cunha, mas J. Pinto Fernandes. Trata-se de um dos Poderes da República, caramba! Imaginem se alguém diz no Jornal Nacional que está sendo ameaçado pela Presidência da República. Acontece o quê? Ou pessoalmente pela presidente? E que se note: ela não disse o nome de Cunha, mas tudo era claro demais. Tem de interpelar, sim! Ela tem de dizer os nomes. “Ah, gente! Cunha já tem uma lista imensa de cadáveres nas costas; é preciso tomar cuidado!!!” Mas ele tem? Se há partidos e lideranças com cadáveres no armário (há?), certamente não são o PMDB e o presidente da Câmara. Se ele cometeu crime e recebeu propina, que se dane, a exemplo de outros ladrões nessa história. Mas a produção de provas há de seguir caminhos mais ortodoxos do que esse, não é? Beatriz é penalista e deve saber a enormidade que praticou ao conceder a entrevista, pressionada sei lá por quem ou por quê. Escreveu Cunha: “A acusação atinge a CPI no seu conjunto e a Câmara como um todo, devendo ela esclarecer ou ser responsabilizada por isso”. Irretocável! É isso mesmo. Eu havia escrito pelo menos quatro textos contra a convocação de Beatriz pela CPI — antes de ela conceder aquela entrevista. Depois dela, agora eu sou um ferrenho defensor de sua ida à comissão. Não para revelar quanto ganha e a origem do dinheiro dos clientes, mas para dizer quem a ameaçou e como se deu a ameaça. Cunha negou ainda que organize uma pauta-bomba para a volta do recesso: “A tentativa de colocar nas minhas costas uma chamada pauta-bomba para prejudicar as contas públicas não tem o menor sentido. Tenho absoluta consciência do momento de crise econômica e sempre me pautei por posições contrárias ao aumento dos gastos públicos”. Ele criticou ainda a incapacidade do governo de cortar gastos: “Mesmo que para a economia isso não fosse tão significativo, o exemplo seria um importante sinal para a sociedade”. Beatriz se encalacrou. Ou revela nomes e arca com as consequências, ou diz que estava apenas contando uma mentirinha no Jornal Nacional, numa entrevista que foi usada para passar dois recados:
a: não vai fugir do Brasil;
b: vai deixar a advocacia.
Recados enviados a quem? Àqueles que supostamente a ameaçaram? Não pode ser? A seus admiradores? Não pode ser. Seria ao Ministério Público, com quem trabalhou com tanta intimidade nesses dias? Aguardamos o depoimento. Por Reinaldo Azevedo
Um comentário:
Vez por outra fico pensando: onde está a cabeça de determinadas pessoas que se dispõem a ficar destruindo depoimentos alheios fundamentado seus argumentos em suposições pessoais? Será que é possível se ameaçar alguém sem se cometer um crime? Será que é possível se insinuar que seus filhos estão em perigo e ao mesmo tempo se oferecer como um amigo preocupado que quer colaborar com a segurança deles? Será que o mundo sutil é uma ficção que não resiste ao objetivismo de determinadas mentes? Sugiro ao nosso prezado articulista que leia "Assassinato de Reputações", pois lá estão descritos alguns métodos de intimidação sem que crimes sejam cometidos. Acho que falta nas suas crônicas, prezado Reinaldo, uma brisa de humildade, pense nisso.
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