Em um dos depoimentos da delação premiada, o doleiro Alberto Youssef disse que empreiteiras acusadas de desviar dinheiro da Petrobras fizeram pagamentos mensais de até R$ 70 mil à defesa dos ex-deputados José Janene (PP-PR) e Pedro Corrêa (PP-PE) no processo do Mensalão do PT. Os pagamentos foram intermediados pelo próprio Youssef. A revelação do doleiro indica que, num gesto de extrema ousadia, réus investigados na Operação Lava-Jato usaram um esquema de corrupção para escapar à punição em outro processo por corrupção. Youssef falou sobre o assunto em dos depoimentos da delação premiada no dia 11 do mês passado. Um dos investigadores perguntou se o doleiro conhecia o advogado Eduardo Ferrão. O tema eram as relações entre o advogado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE). Youssef disse que nada sabia dos vínculos entre Eduardo Ferrão e Renan Calheiros, mas conhece muito bem o advogado. Segundo ele, Ferrão fazia a defesa de Janene e Pedro Corrêa, réus no Mensalão do PT. "Que questionado se conhece o escritório Ferrão, o declarante afirma que conhece, pois se trata de um escritório do advogado Eduardo Ferrão, que era advogado de José Janene no caso do Mensalão e que também advogava para o Partido Progressista e para deputados deste partido", disse Youssef. Para completar a afirmação, o doleiro disse que "fez vários pagamentos em dinheiro vivo, proveniente das empreiteiras, para pagar honorários que o advogado Ferrão cobrava tanto do Partido Progressista quanto de José Janene e Pedro Corrêa". Youssef disse ainda que os pagamentos eram feitos no escritório do advogado em Brasília. "Que era entre 40 mil e 70 mil reais por mês", sustenta. O doleiro foi chamado a prestar depoimento em fevereiro, depois da longa série de depoimentos da delação premiada do ano passado, para explicar detalhes sobre o envolvimento de parlamentares com fraudes na Petrobras. Na primeira série de depoimentos, o doleiro falou dos parlamentares de forma genérica. Pelas investigações da Lava-Jato, Youssef era um dos chefes da distribuição da propina relacionada às fraudes em contratos de empreiteiras com a Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, empreiteiras se socorriam do doleiro para fazer o dinheiro chegar a políticos, que davam apoio aos diretores e a outros funcionários corruptos da estatal. Ferrão confirmou os pagamentos mencionados por Youssef, mas disse que não conhece o doleiro. O advogado sustenta que foi advogado do PP de 2003 a 2007 e que, de fato, atuou na defesa de parlamentares do partido nos processos do Mensalão do PT no Supremo Tribunal Federal e no Conselho de Ética da Câmara. Neste período, ele recebia valores mensais. No início eram R$ 30 mil. Depois, os pagamentos chegaram a R$ 70 mil. "Quem me pagava era o PP, de quem eu era advogado desde 2003. Se o dinheiro vinha dele (Youssef) eu não posso saber. Eu emitia notas para o PP", disse Ferrão. O advogado disse que defendeu vários deputados bancados pelo PP. Na lista dos ex-clientes está também o ex-deputado Vadão Gomes. Ferrão não soube dizer, no entanto, como eram feitos os pagamentos. Esta parte estaria a cargo de uma outra pessoa. "Não sei se eram transferências bancárias, cheque ou dinheiro vivo. Mas não teve nenhum pagamento que não teve nota emitida para o PP", disse o advogado.
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