A Petrobras decidiu adiar as licitações planejadas para este primeiro semestre. Em meio aos escândalos de corrupção e à troca de todo o comando da estatal no início deste mês, a companhia tem reavaliado o cronograma para tentar voltar a licitar apenas a partir do segundo semestre, mas ainda sem datas definidas. De acordo com fontes do setor, saíram do radar projetos orçados em pelo menos US$ 4,1 bilhões (cerca de R$ 11,8 bilhões) o que inclui a construção de plataformas para o pré-sal, diversos tipos de embarcações de apoio e obras envolvendo refinarias e uma unidade de fertilizantes. Segundo uma fonte ligada à estatal, que passou a ser comandada por Aldemir Bendine no início deste mês em substituição a Maria das Graças Foster, o objetivo é tentar preservar ao máximo o caixa da empresa, que já sofre com queda na produção e, com isso, uma menor geração de caixa. Em janeiro, a produção de petróleo no Brasil somou 2,192 milhões de barris por dia, uma queda de 0,9% em relação a dezembro do ano passado, depois de apresentar alta por quase todo o ano passado. Em relação a janeiro de 2014, porém, houve avanço de 14%. "O objetivo agora da Petrobras é revisar os contratos em andamento para tentar, de uma vez por todas, acabar com a farra dos aditivos. Com isso, as novas licitações que estavam previstas foram jogadas para a segunda parte do ano", disse uma fonte. Entre os principais projetos reprogramados estão a licitação das plataformas P-72 e P-73, que já havia sido postergada de dezembro de 2014 para abril deste ano e, agora, terá outra data ainda a ser marcada. A idéia da estatal é contratar apenas uma empresa para fazer a fabricação do casco, dos módulos e sua integração. Cada unidade está avaliada em pelo menos US$ 1 bilhão e será destinada ao campos do pré-sal na Bacia de Santos, contou um fornecedor da estatal. Também não há uma data ainda para a licitação da fabricação de módulos e integração das P-70 e P-71, que até o ano passado estavam a cargo do estaleiro Jurong Aracruz. Segundo um analista, a Petrobras, que está revisando seu plano de negócios, vai enfrentar ainda um ano difícil em termos de produção, já que haverá um número maior de paradas programadas em 2015 em relação ao ano anterior. Como reflexo, a companhia deixará de produzir cerca de 50 mil barris por dia, bem mais do que os 30 mil barris diários reduzidos em 2014. É por isso que o fluxo de caixa vai cair de US$ 25 bilhões para algo entre US$ 8 bilhões a US$ 12 bilhões. O adiamento das licitações inclui embarcações de apoio, cujos preços oscilam, em média, de US$ 25 milhões a US$ 60 milhões. A norueguesa Siem Offshore, por exemplo, informou que a estatal reprogramou do início deste ano para dezembro uma licitação para embarcações AHTS (que transportam âncoras). Mas há mais casos. Após cancelar o contrato de afretamento de dois PSVs (que transportam cimento, tubos e lama), que estavam sob responsabilidade da Astromarítima e do Eisa, a estatal decidiu colocar o projeto também para o fim do ano. Também estaria sendo reavaliada a licitação de sísmica 3D no fundo marinho para a área de Libra, no pré-sal, processo já iniciado. Além dos problemas envolvendo o fluxo de caixa futuro, a Petrobras sabe que muitas licitações podem ter problemas, já que há, até o momento, 23 empresas proibidas de serem contratadas por suposta formação de cartel. O número pode aumentar após a delação premiada de Pedro Barusco (ex-gerente da estatal) à Justiça Federal, que citou uma série de estaleiros e construtoras — diz uma outra fonte. Entre os polêmicos empreendimentos que foram alvo de propina, segundo o depoimento de ex-funcionários da Petrobras à Justiça no âmbito da Operação Lava-Jato, a Refinaria Abreu e Lima teve o lançamento de sua segunda unidade adiada, mesmo estando com 91% das obras concluídas. Além de Abreu e Lima, o Comperj, no Rio de Janeiro (com 81% das obras concluídas), também terá investimentos reduzidos, conforme divulgado pela estatal, que vai paralisar as obras e as novas contratações até finalizar a revisão de seu planejamento para o ano de 2015. Também não há previsão para concluir a construção de sua Unidade de Fertilizantes em Três Lagoas (Mato Grosso do Sul) cujo contrato com Galvão Engenharia e Sinopec foi cancelado. A Petrobras disse que avalia seu Plano de Negócios e Gestão para 2015-2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário