quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O ditador Nicolas Maduro diz, sobre os problemas econômicos da Venezuela: "Deus proverá"


Deus deve andar muito assoberdado por reivindicações de alguns países da América Latina, desses administrados por governichos bolivarianos. Não bastasse o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, ter evocado a brasilidade de Deus como saída para a crise energética no Brasil, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, agora também colocou na conta divina os anos de erros que arrastam a economia venezuelana para o fundo do poço. Em mensagem anual, transmitida pela TV direto da Assembléia Nacional, ao longo de cansativas três horas, o presidente da Venezuela reconheceu os problemas agravados pela queda no preço do petróleo, mas tentou tranquilizar a população: “O barril caiu de 96 para 40 dólares, mas não nos faltarão recursos. O petróleo nunca voltará aos 100 dólares, mas Deus proverá. Jamais faltará à Venezuela”. O pronunciamento foi feito na noite de quarta-feira, seis dias depois do prazo máximo previsto na Constituição, mas esse detalhe pareceu menor diante das expectativas de que anunciasse medidas concretas para enfrentar as dificuldades de economia que tem no petróleo sua maior fonte de divisas. Em quase três horas de falatório, Maduro mencionou a possibilidade de aumentar o combustível mais barato do mundo, dizendo que a gasolina é quase dada de presente e que é preciso começar a cobrar por ela. Na Venezuela, é possível encher o tanque de 60 litros de um modelo sedan por menos de um dólar. O presidente já havia rejeitado várias vezes a idéia de aumentar o preço do combustível por ser uma questão muito sensível para os venezuelanos, mas está ficando sem opções. “Se vocês quiserem, crucifiquem-me, matem-me”, disse, anunciando um debate sobre o tema. Ele acrescentou que encaminhará uma proposta nos próximos dias ao seu vice, Jorge Arreaza, mas puxou o freio ao declarar: “Não há pressa”. A desvalorização deve aumentar a pressão sobre os preços na Venezuela, que já é o maior das Américas (64% em 2014). Alguns economistas temem que a mudança represente uma medida paliativa de efeito rápido, mas que não soluciona os problemas econômicos estruturais. “No geral, o registro histórico é bastante extenso e claro ao indicar que sistemas com várias taxas cambiais são muito difíceis de administrar e acabam em colapso”, disse Alberto Ramos, da Goldman Sachs. Evitando a todo momento a palavra desvalorização (apesar de tudo indicar que esse será o resultado), ele também anunciou uma mudança no complexo sistema cambiário do país, que tem quatro marcadores do preço do dólar americano. Uma das cotações, de 6,30 bolívares por dólar, é destinada a compra de alimentos essenciais e medicamentos. Outra, de 12 bolívares (chamada de Sicad I), é usada para a cobrança de consumo no Exterior e importações não prioritárias. O Sicad II, correspondente a 50 bolívares por dólar é usada no leilão de quantidades limitadas de divisas para indivíduos e empresas. Há ainda o preço de 175 bolívares encontrado no mercado negro. Maduro anunciou que vai manter o dólar a 6,30 bolívares para o que chamou de “importações prioritárias” e unificará as taxas do Sicad I e II. Mais do que apresentar soluções, o que o presidente fez em seu pronunciamento foi propaganda eleitoral em um ano considerado crucial para o chavismo. No segundo semestre serão realizadas eleições parlamentares e o oficialismo quer manter o controle da Assembléia Nacional. Para isso, no entanto, terá de lidar com a queda na popularidade de Maduro, resultado do desastre na economia e também dos abusos contra opositores e manifestantes durante a onda de protestos que tomou conta do país no ano passado. Junto com a manutenção de programas assistenciais – mantidos com o dinheiro do petróleo – o chavista anunciou um aumento de 15% no salário mínimo e nas pensões a partir de fevereiro e de mais de 100% nas bolsas destinadas a estudantes do ensino médio (de 200 para 500 bolívares por mês). Também prometeu construir 400.000 habitações populares e inspecionar distribuidoras e comercializadores para evitar o represamento de produtos, controlando ainda mais a cadeia de comércio já estrangulada pela fiscalização imposta pelo governo para tentar conter a crise de abastecimento – decorrente, na verdade, da péssima gestão econômica do país. O pacote de promessas paliativas inclui ainda a inauguração de mais de trinta unidades Pdval, a rede de supermercados dependente da estatal petrolífera. As medidas pinceladas não vão significar uma mudança no modelo bolivariano, fez questão de ressaltar o presidente. “Não enfrentaremos esta crise com as fórmulas do Fundo Monetário Internacional nem com um governo de direita”, esbravejou, sem deixar de criticar adversários políticos e se dizer vítima de um complô para derrubá-lo. Ao lado de uma foto gigante do antecessor Hugo Chávez, previu, confiante, que “2015 será o ano da vitória e do renascimento econômico”. Só mesmo uma intervenção divina para tirar a Venezuela do atoleiro.

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