Marta Suplicy, a agora ex-ministra da Cultura, continua um pote até aqui de mágoa. Mesmo tendo recebido a pasta como prêmio de consolação, o ressentimento por ter sido preterida na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 2012, não passou. Mas há algo estranho. Foi Lula, não Dilma, quem impôs Fernando Haddad na base do dedaço. Ainda assim, Marta chegou a esboçar um movimento “Volta, Lula”, quando a presidente não ia muito bem das pernas. Aí quem ficou magoada foi Dilma. A senadora se demitiu por carta, quando a presidente está fora do País, em viagem ao Catar. Não é um jeito muito elegante de fazer as coisas. Em favor de Marta, tenho ao menos uma coisa positiva a dizer: ela não sabe fingir. Carrega, ademais, um traço, digamos, de classe, meio senhorial. Se é para demonstrar descontentamento, demonstra mesmo. Fim de papo! O tom da carta também surpreende. Leiam este trecho:
“Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país. Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera”.
As palavras fazem sentido. Marta está dizendo que a atual equipe não é nem independente nem competente, no que tem razão — convenham! — e que a confiança e a credibilidade estão em baixa, o que não requer comprovação porque autoevidente. Ela volta ao Senado para mais quatro anos de mandato. Qual será o seu papel? A esta altura, não está claro. Não vive às mil maravilhas com Rui Falcão, presidente do partido, que já foi seu aliado. Tem, sim, a pretensão de disputar com Fernando Haddad o lugar na chapa do PT para a Prefeitura em 2016 — e é evidente que ele vai concorrer à reeleição, já que conta com 98% dos votos nas redações e com o apoio arreganhado de amplos setores da imprensa, o que confere sempre uma boa largada. Jornalistas são bichos criativos e conseguem até achar bicicletas na sua única obra de vulto: as ciclofaixas… Se Haddad parecia jogar a favor da renovação de quadros em São Paulo, Alexandre Padilha pode ter demonstrado o contrário. Marta vai tentar disputar cargos executivos, sim! Fossem outras as circunstâncias, poder-se-ia dizer que está voltando para o Senado para enfrentar uma dupla paulista de peso: José Serra e Aloysio Nunes. Mas não parece — não por enquanto ao menos — que ela esteja reassumindo seu posto com uma delegação de Dilma. É grande a chance de Dilma devolver o Ministério da Cultura a Pablo Capilé, aquele notório rapaz que diz coisas incompreensíveis sobre assuntos a respeito dos quais não sabe nada, mas com grande eloquência. Ele é o chefão do tal “Fora do Eixo”, que recebe farto financiamento de estatais e, entre outras delicadezas, chega a confessar que explora uma modalidade de trabalho análogo à escravidão. Capilé tem o que poderia ser definido como um “laranja político”: é Juca Ferreira, atual secretário da Cultura da cidade de São Paulo, que já foi ministro. O saliente Capilé apareceu na propaganda eleitoral de Dilma, é claro, revelando que nunca foi o que nunca foi: só um militante independente da cultura. É… A tal “Mídia Ninja” anda meio por baixo. Precisa mesmo do capilé estatal. Por Reinaldo Azevedo
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