Uma parte significativa da propina paga a parlamentares com recursos desviados de contratos superfaturados de empreiteiras com a Petrobras foi transportada em jatinhos e em voos domésticos, segundo a investigação da operação Lava-Jato e informações do doleiro Alberto Youssef. Desde o dia 24 de setembro ele presta depoimentos diários de até seis horas a um delegado da Polícia Federal e a um procurador da República no âmbito da delação premiada celebrada com o Ministério Público Federal. A Lava-Jato já tinha conhecimento de que a prática era comum e que Youssef era o responsável pela logística de distribuição da propina a agentes políticos. As interceptações telefônicas judicialmente autorizadas permitiram aos investigadores identificar os responsáveis pela entrega de malas de dinheiro. Os diálogos captados nas escutas telefônicas mostram que o doleiro preocupava-se em assegurar que as "encomendas" chegassem a seus destinatários. Ouvido na condição de testemunha de acusação em ação penal resultante da investigação federal na Petrobras, um agente da Polícia Federal detalhou como os executores do esquema Youssef transportavam o dinheiro vivo: "Ocultado no corpo ou, nós temos conhecimento, que por algumas vezes eles tinham disponibilidade de aviões particulares. Mas por algumas vezes a gente conseguiu identificar que esse dinheiro era embarcado em um voo doméstico, um voo comum, provavelmente no corpo, em alguma valise e era transportado por eles". A testemunha também contou que parte da propina era entregue com o uso de veículos blindados."Eu ouvi relatos de que eles disponibilizavam de um veículo blindado na cidade de São Paulo e que por diversas vezes foi transportado em malas, maletas dentro do carro. Dinheiro em espécie", afirmou. O policial disse também que a investigação indicou que os pagamentos eram feitos em dólares e reais, sempre em dinheiro vivo, para "ocultar a transferência" e dificultar o rastreamento da propina.A PF deverá cruzar dados sobre decolagens e pousos de jatos no eixo São Paulo - Brasília com informações obtidas pelos inquéritos da Lava-Jato e relatadas por Youssef em seu termo de delação premiada. O pedido sobre a frequência das operações com aviões particulares terá de ser encaminhado à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Com os detalhes esmiuçados pelos relatos de Youssef, a Polícia Federal espera obter novas evidências sobre o volume de propina pago a políticos. Com o detalhamento de informações, a expectativa é que a possibilidade de identificação de políticos subornados se multiplique. No entanto, eventuais quebras de sigilos fiscais e bancários só poderão ser consideradas no âmbito do Supremo Tribunal Federal, já que senadores e deputados federais contam com privilégio de foro. A homologação da delação premiada de Youssef, assim como a de Paulo Roberto Costa, será ser conduzida pelo ministro relator do caso no STF, Teori Zavascki. Ainda não se sabe como o relator dará prosseguimento à Lava-Jato na Corte. Em sua delação, Costa teria nominado e indicado provas do recebimento de propinas por pelo menos 32 parlamentares.(Valor Econômico)
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