segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Deem um copo de sangue a Gilberto Carvalho! Ele está com sede!
Dilma Rousseff é a presidente reeleita do Brasil. Os que me conhecem podem dizer quantos chutes no cão eu dei por isso: nenhum! Quantos murros na mesa eu dei por isso: nenhum! Quantos chiliques eu dei por isso com quem trabalha comigo: nenhum! Quantas piadas eu deixei de contar por isso? Nenhuma! Quantas ironias ou autoironias deixei passar: nenhuma! Quem está bravo, quem está rancoroso, quem está irritado, quem está com o sangue nos olhos, quem está com o espírito envenenado, quem está com fome de fígado, quem revela o desejo de partir para a porrada — o que é sempre mais fácil quando se conta com seguranças aos montes, pagos pelo dinheiro público — é o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. Eu não disputo eleições; o partido do ministro, sim. Eu não ganho nem perco nada, o ministro, sim. Vença Dilma ou não, a minha vida segue a mesma, trabalhando muito, com três empregos — a menos que as gestões do sr. ministro surtam algum efeito e eu os perca. Preocupados estavam aqueles que aprenderam, ao longo destes 12 anos, a viver das prebendas estatais; preocupados estavam aqueles que dependem do capilé público para comer o seu caviar. Enquanto Dilma Rousseff, de terninho branco, fazia uma chamamento à união e à paz, apesar de seus planos amalucados de plebiscito e reforma política, Carvalho concedia uma entrevista ao UOL e anunciava a sua disposição de ir para a guerra. Afirmou o ministro, entre outros mimos: “Ninguém mais do que nós vai defender permanentemente a liberdade de imprensa”. Mas emendou: “A meu juízo, o excesso de editorialização, de adjetivação e o colunismo que acabou ganhando um peso enorme na imprensa brasileira têm feito, na minha opinião, um estímulo a esse ódio que nós vimos nos últimos tempos”. Vale dizer: o ministro é a favor da liberdade de imprensa, desde que ele concorde com as opiniões emitidas. Se elas forem contrárias ao que ele pensa, aí ele acredita estar diante de um problema. O político que diz ser contra o ódio pertence ao partido que sugeriu que o adversário era alcóolatra e espancador de mulheres. O político que que diz ser contra o ódio pertence ao partido que espalhou nas ruas panfletos acusando o oponente de querer acabar com o Bolsa Família e com os programas sociais. O político que diz ser contra o ódio estimulou, na prática, que milícias de vagabundos e desocupados atacassem uma empresa de comunicação porque não gostaram da notícia veiculada. Na entrevista, o ministro elogiou a Folha: “Eu até destaco aqui particularmente a Folha, que eu acho que é um periódico dos mais equilibrados, mas infelizmente há jornais que se transformaram em panfletos nessa campanha”. E emendou um novo ataque à VEJA: “O excesso de editorialização da imprensa, a meu juízo, capitaneado nesse episódio vergonhoso final da revista Veja é a ponta avançada a mim da principal conspiração contra a verdadeira liberdade de imprensa”. Vergonhosa é sua fala, ministro! Seus entrevistadores decidiram não refrescar a sua memória, mas eu refresco: a Folha de S.Paulo, que pertence ao mesmo grupo de comunicação ao qual pertence o UOL, deu a mesma notícia publicada pela VEJA, senhor ministro, no dia seguinte. E que se coloquem, uma vez mais, os pingos nos is: VEJA NÃO ANTECIPOU EDIÇÃO NENHUMA! A data estipulada para a revista que está nas bancas era sexta-feira. A publicação não tinha como adivinhar que Alberto Yousseff fizesse a sua confissão na terça anterior. Gilberto Carvalho anunciou que o governo quer conversar com os veículos de comunicação. Disse ele: “O que nós queremos é sentar com vocês, com gente séria da imprensa, para a gente fazer uma análise de como é que o Brasil está sendo passado para as pessoas, de como a realidade é traduzida efetivamente”. Isso, ministro, sente mesmo com gente séria. Aliás, gente séria não senta, metaforicamente falando, no colo de ministros de estado, veja lá, hein. Carvalho agora está ocupado em Eatacar o que ele chama “pregadores do ódio”. Certamente ele não está se referindo àqueles que, financiados por estatais e pela administração direta, atacam a imprensa livre, os líderes da oposição e figuras do Judiciário. Ah, não! Esses, são todos defensores do amor, não é mesmo? Diz ainda o ministro: “O que não dá para aceitar é a gente ser considerado como aqueles que inventaram a corrupção no Brasil”. Claro que não! Eu, por exemplo, nunca disse isso. Mas digo, sim, que é o PT é o único partido que chama corrupto de “herói do povo brasileiro”. Enquanto Dilma pregava o amor, Carvalho emitia sinais de que vai dar início a uma nova temporada de caça às bruxas. O partido já fez uma lista negra de jornalistas. Pelo visto, pretende ampliá-la ou partir para a execução dos sentenciados. Encerro assim: Dilma quer um pouco de paz? Comece por botar na rua Gilberto Carvalho. O diabo é que ela não pode fazer isso. Porque é ele o chefe dela, não o contrário. O PT foi notavelmente violento nesta campanha e partiu para a baixaria. Ocorre que só quem posa de vítima pode atacar os adversários e os discordantes sem obedecer a qualquer limite ou ética. E é este o lugar que ele reivindica: o da vítima. Carvalho acaba cometendo um ato falho. Diz ele, para evidenciar o caráter popular do governo, que vai retomar o diálogo com as pessoas. Afirmou: “Nós fizemos mais de 260 reuniões plenárias pelo país afora, com 300, 400, 500 militantes”. Tomo a conta pelo topo: o ministro conversou, portanto, com, no máximo, 130 mil militantes. Ocorre que 51.041.155 votaram em Aécio, e 32.277.085 não quiseram votar em ninguém. Juntos, eles são 83.100.453, bem mais do que os 54.501.118 que a escolheram Dilma. Certa feita um adversário de Marat, o porra-louca da fase do Terror da Revolução Francesa, referiu-se a ele nestes termos: “Deem um copo de sangue a este canibal; ele está com sede”. Gilberto Carvalho está com sede. O ministro não se conforma que seus 130 mil militantes não consigam mandar na vontade de mais de 83 milhões. Carvalho não se conforma que o PT não tome, enfim, o lugar da sociedade. Dizer o quê para encerrar? Isto: “Não passarão!” Por Reinaldo Azevedo
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