domingo, 21 de setembro de 2014
Ministério Público e Polícia Federal investigam agora na Operação Lava-Jato os bancos que fizeram vista grossa a transações do doleiro Alberto Youssef
Depois de concluir a primeira etapa das investigações sobre as suspeitas relações de Alberto Youssef com políticos e empreiteiras com contratos com a Petrobras, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal deverão apurar as responsabilidades de bancos com a movimentação ilegal de dinheiro da organização do doleiro. Investigadores da Operação Lava-Jato têm indícios de que alguns bancos, entre eles dois dos maiores do País, fizeram vistas grossas a transações financeiras do doleiro e de suas empresas. Dirigentes de bancos serão chamados a dar explicações sobre falhas dos departamentos de "compliance" na fiscalização que são obrigados a fazer sobre movimentações financeiras de seus clientes. Segundo um dos investigadores, fiscais de um banco chegaram a fazer uma visita a um endereço de uma das empresas do grupo de Youssef e, mesmo com todas as evidências de se tratar de um caso típico de empresa de fachada, não tomaram qualquer providência para coibir irregularidades e nem avisaram as autoridades monetárias. "Alguns bancos acham que basta enviar para o Coaf comunicados sobre movimentação acima de R$ 10 mil ou de R$ 100 mil. Não é assim. O banco tem a obrigação de conhecer os clientes e se cercar de alguns cuidados", disse um procurador. Os bancos serão chamados para explicar ações que, para os investigadores, ajudaram Youssef a reconstruir uma das maiores máquinas de lavagem de dinheiro ilícito no País. O doleiro, que teve os negócios destroçados pelos processos que respondeu no caso Banestado na década passada, voltou a operar no mercado clandestino e montou uma estrutura de lavagem mais abrangente que a anterior sem ser incomodado pelos bancos nos quais movimentava parte de seu dinheiro. Na época, o juiz Sérgio Moro concedeu delação premiada ao doleiro. Como ele voltou a praticar crimes, Moro, que coordena os processos sobre a Lava-Jato, anulou o benefício e condenou na semana passada o doleiro por crime de lavagem. Pela lei, os bancos devem conhecer a fundo seus clientes e alertar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras e o Banco Central sobre movimentações suspeitas, como recebimentos ou pagamentos fora do padrão ou acima da capacidade financeira do titular da conta. Esta é uma tarefa que cabe aos chamados departamentos de "compliance", que os bancos criaram na esteira de uma campanha internacional contra lavagem de dinheiro. Mas o sistema financeiro clandestino do doleiro, que já teria se gabado de ter US$ 150 milhões em conta, vicejou e só foi descoberto de forma casual em uma investigação da Polícia Federal sobre uma transação entre Youssef e o doleiro Carlos Habib Chater. Para mostrar as facilidades do grupo de Youssef, o Ministério Público Federal deverá destacar, de cada ação por lavagem contra o doleiro e seus cúmplices, casos de descuidos dos bancos. Em uma das dez ações transformadas em processos, os procuradores descrevem parte da movimentação de empresas como a CSA Project e Angel Serviços Terceirizados. Para o Ministério Público Federal, as duas empresas não tinham estrutura operacional, mas puderam ser usadas para movimentações bancárias de Youssef e do ex-deputado José Janene (PP-PR). Em um depoimento à Polícia Federal, o advogado Carlos Alberto Pereira disse que a GFD Investimentos, uma das principais empresas de Youssef, foi criada em uma operação internacional com a colaboração do banco americano Merryl Lynch. Foram abertas duas contas, uma para receber um empréstimo do banco. A outra para receber uma remessa de mesmo valor que Youssef faria do Exterior como garantia do empréstimo. “O dinheiro teria ingressado com uma titularidade e saído com outra”, explicou Pereira. O advogado foi administrador da GFD até ser preso em 17 de março deste ano na Lava-Jato. Nas investigações, procuradores e delegados identificaram pagamentos de grandes empreiteiras para empresas de Youssef e dele para outras pessoas. Só entre junho de 2011 e março deste ano, o grupo do doleiro teria mandado R$ 444,6 milhões para o Exterior. "O grupo movimentava muito dinheiro em espécie. De onde vinha esse dinheiro? — questiona um dos investigadores. Para eles, não há dúvida que bancos fizeram vista grossa. Os procuradores reclamam das facilidades de empresas de fachada para simular importação e mandar dinheiro para o exterior. Só o Labogen, ligado a Youssef, teria remetido R$ 130 milhões. Pela lei, a empresa pode enviar dinheiro para o exterior sem especificar o produto a ser adquirido e prazo de chegada ao país. A empresa teria cinco anos para completar a operação. A força-tarefa deve sugerir que as CPIs da Petrobras tenham propostas para dificultar fraudes no câmbio.
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