terça-feira, 30 de setembro de 2014

Escala de navios para exportar milho do Brasil cai 66% ante 2013

A escala de navios para embarcar milho nos portos brasileiros nas próximas semanas está dois terços menor que a registrada um ano atrás, mostram dados de uma agência marítima, indicando uma menor demanda pelo cereal em um momento em que o país precisa escoar um grande excedente do mercado interno. Atualmente, a programação de embarques tem 24 navios previstos para carregar 1,28 milhão de toneladas de milho em outubro, incluindo dois navios ainda sem data marcada, segundo dados da agência Williams. No fim de setembro de 2013, a escala tinha 69 navios, totalizando 3,73 milhões de toneladas, incluindo embarcações sem data marca, e com agendamento para outubro e até para novembro. "Este ano a fila está menor. O carregamento de milho foi mais que o dobro nesse mesmo período do ano passado. Isso indica que a procura de milho está sendo menor", disse o analista de mercado da Williams, Tiago Cardoso. A escala ainda deve receber mais embarcações e não representa as exportações defintivas do mês. Mesmo assim, indica que o país pode ter dificuldades para escoar todo o volume disponível. O país acaba de colher uma safra de inverno recorde que, somada ao volume da colheita de verão, totalizou 79,9 milhões de toneladas em 2013/14, apenas 2 por cento abaixo do recorde de 2012/13. Como o mercado doméstico não tem capacidade de absorver boa parte deste milho, o Brasil precisaria repetir nos últimos meses de 2014 uma performance de exportações semelhante à vista no fim de 2013, período em que o mundo ainda se recuperava de uma quebra de safra nos Estados Unidos, maior produtor e exportador global. Só assim seria possível enxugar os grandes suprimentos domésticos, que, em parte, pressionam os preços e afetam a rentabilidade dos produtores. "Esse cenário segue preocupando vendedores, já que, com o fim da colheita, os silos estão cheios, compradores estão abastecidos e a demanda externa apresenta ritmo muito lento", disse o Cepea, órgão de pesquisa da Universidade de São Paulo, em um relatório. Um dos maiores entraves para o Brasil no momento é ampla oferta global, já o mundo deverá terminar a safra 2014/15 com um dos maiores estoques de passagem dos últimos anos, com a ajuda de duas safras recordes consecutivas nos Estados Unidos.
A colheita da nova safra norte-americana está na fase inicial e deverá chegar ao mercado nos próximos meses. Nas primeiras três semanas de setembro, o Brasil exportou 121 mil toneladas por dia do cereal. O ritmo ficou abaixo do visto uma ano atrás, de 164 mil toneladas/dia. Considerando-se o ano comercial estabelecido pelo governo federal, que para o milho começa em 1º de fevereiro, o Brasil já embarcou na temporada 7,28 milhões de toneladas do cereal. Para que seja cumprida a projeção de embarque de 21 milhões de toneladas na temporada feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), seriam necessários embarques de cerca de 3,4 milhões de toneladas entre outubro e janeiro, um ritmo semelhante ao registrado na temporada passada. Na sexta-feira, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) projetou que o país deverá deverá embarcar entre 2 milhões e 2,7 milhões de toneladas de milho nos próximos meses até o fim do ano. Há fatores que podem contribuir para uma aceleração do fluxo de embarques nos próximos meses, disse o analista Marcos Rubin, da Agroconsult. "No momento o milho brasileiro é o mais competitivo do mercado, mais barato que o americano, argentino e ucraniano. O câmbio também tem ajudado nos últimos dias, disse o especialista em no chat Trading Brazil, da Thomson Reuters, nesta segunda-feira. "É claro que o milho norte-americano deve ficar mais barato conforme o andamento da colheita, mas atá lá temos oportunidade de aumentar o 'line-up'." A Agroconsult estima exportações de 21 milhões de toneladas de milho no ano de 2014 (janeiro a dezembro). Com pouco mais de 10 milhões de toneladas embarcadas de janeiro a setembro, restariam cerca de 10 milhões a 11 milhões de toneladas para exportação nos três últimos meses do ano.

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