Nas eleições de 2010, além de eleger sua candidata, a então ministra Dilma Rousseff, o ex-presidente e alcaguete Lula (denunciava companheiros para o Dops paulista durante a ditadura militar, conforme Romeu Tuma Jrt) ditou outra prioridade ao PT: ampliar sua bancada no Senado, a Casa Legislativa que lhe impôs derrotas cruciais ao longo do mandato – a maior delas, o fim da cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, o extinto imposto do cheque). Na época, o X9 Lula tinha como obsessão derrotar desafetos como Arthur Virgílio (PSDB-AM), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Heráclito Fortes (ex-DEM-PI). O esforço deu certo: há quatro anos, o PT elegeu 8 senadores, formando uma bancada de 14 cadeiras – naquela eleição, duas cadeiras por Estado estavam em disputa. Quatro anos depois, pelo menos na largada da corrida eleitoral, a situação é diferente. Vinte e sete das 81 cadeiras do Senado Federal estão em jogo nessas eleições. Dezesseis delas pertencem a partidos aliados à presidente Dilma Rousseff; nove, a oposicionistas. De acordo com as pesquisas de intenção de voto, a situação pode se inverter: se o cenário atual se mantiver até outubro, pelo menos dezesseis adversários do PT serão eleitos.
Nessa conta estão integrantes do bloco PSDB-DEM, aliados do presidenciável Eduardo Campos e peemedebistas considerados rebeldes. Em apenas seis Estados há uma vantagem clara para o candidato dilmista. O PT está à frente em somente um deles: Pernambuco, onde João Paulo Lima, ex-prefeito do Recife, é o mais cotado. A potencial conquista não compensaria as três cadeiras que o partido perderá com o fim da atual legislatura. Hoje, o PT possui treze senadores. O PMDB, a maior bancada, tem dezenove.
O panorama não é definitivo e, como apenas um terço das cadeiras do Senado serão renovadas, o impacto dessas eleições é relativo. Os parlamentares aliados do PT continuam sendo ampla maioria dentre os 54 senadores que têm mais quatro anos de mandato a cumprir. E pode haver outras mudanças na composição do Senado porque seis senadores com mandato estão disputando outros cargos. Se forem bem sucedidos, deixarão seus postos nas mãos dos suplentes, que frequentemente são filiados a outras legendas. Além disso, ainda faltam quase dois meses para as eleições, e o panorama pode mudar. Feitas todas as ressalvas, a verdade é que o cenário atual é ruim para o PT. A situação em alguns Estados importantes dá uma amostra das perspectivas dessa eleição.
Em São Paulo, por exemplo, o problema é a falta de nomes: o senador Eduardo Suplicy (PT) ocupa o cargo há 23 anos e quer mais oito anos de mandato. As pesquisas até aqui mostram que o eleitorado paulista prefere José Serra (PSDB).
Antônio Anastasia (PSDB), ex-governador de Minas Gerais, tem o caminho livre para chegar ao Senado. Em Santa Catarina, Paulo Bornhausen (PSB) é o primeiro colocado nas pesquisas. No Rio Grande do Sul, o estreante Lasier Martins (PDT) tem uma pequena vantagem diante de Olívio Dutra (PT). Lasier pertence a um partido aliado de Dilma, mas integra uma coligação com o DEM no Estado. Na Bahia, quem lidera as pesquisas é o peemedebista rebelde Geddel Vieira Lima, aliado do DEM no plano estadual. O Ibope divulgou na última semana um levantamento apontando Ronaldo Caiado (DEM) como favorito à conquista de uma cadeira em Goiás.
A articulação petista parece ter deixado de lado o Senado para priorizar as candidaturas aos governos estaduais em meio a turbulências, como a queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff, os desentendimentos entre PT e PMDB, a consolidação da candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência e o surgimento de uma terceira via capitaneada por Eduardo Campos (PSB). ”Em vários Estados PT e PMDB não conseguiram articular uma coligação. Isso foi um problema em 2010, mas em 2014 virou um algo muito maior” diz o professor David Fleischer, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.
Ainda há tempo para muitas reviravoltas, mas o começo da corrida eleitoral ao Senado deve colocar os petistas em alerta: os planos de obter a maior bancada da Casa agora parecem distantes da realidade. O exemplo do Ceará é simbólico: o mesmo Tasso Jereissati derrotado em 2010 agora tem uma larga vantagem sobre os outros candidatos, segundo pesquisas. É cedo, mas pode ser o primeiro sinal de que alguns rumos mudaram.
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