terça-feira, 29 de julho de 2014

MOODY’S CRITICA USO DA PETROBRAS PARA CONTROLAR A INFLAÇÃO

O uso político da Petrobras para segurar a inflação, com o congelamento de preços de combustíveis, representa um forte obstáculo para a rentabilidade da companhia e um elevado risco aos investidores. O contundente alerta foi emitido nesta terça-feira, 29, pela agência de classificação de risco Moody’s , reforçando a desconfiança do mercado com a condução da estatal. O relatório também reforça a pressão pelo aumento da produção da companhia, condição para aliviar seu fluxo de caixa a partir de 2017 “na melhor das hipóteses”. Após a divulgação do relatório, as ações da companhia fecharam em queda superior a 2% na Bolsa de Valores. A análise encaminhada aos investidores abordava a deterioração do crédito para as estatais de petróleo da América Latina. No cenário, a brasileira figura como a companhia com as menores margens de lucro operacional, o maior saldo devedor, os maiores custos de produção, além de “substanciais riscos políticos”. “O governo utiliza rotineiramente a empresa para ajudar a cumprir os seus objetivos políticos como, por exemplo, a construção de refinarias em regiões não econômicas, para estimular seu desenvolvimento, e o controle da inflação, mantendo os preços da gasolina e do diesel abaixo do valor de mercado”, indica o relatório assinado pelas analistas Nymia Almeida e Kijana Mack. Para a Moody’s, a desaceleração econômica do País levou o governo a “depender mais pesadamente da Petrobras para controlar a política econômica”. A estatal estaria “cerceada” também em seu Conselho de Administração, formado majoritariamente por executivos indicados pelo governo. Segundo o relatório, um pedido de reajuste dos combustíveis foi negado em junho. Fontes próximas ao conselho confirmaram o pedido, tema considerado "recorrente" no colegiado. “Os preços domésticos para a gasolina e diesel, que variaram entre 10% a 20% abaixo do preço internacional (dependendo da taxa de câmbio), coloca um obstáculo significativo na rentabilidade da Petrobras”. A continuidade desta política, segundo o relatório, terá forte impacto sobre a área de refino e abastecimento, que já registrou perdas de R$ 4 bilhões no primeiro trimestre. Na comparação com empresas da Venezuela, Argentina, México e Colômbia, a estatal brasileira também sai perdendo nos indicadores econômicos, como os níveis de endividamento e alavancagem, além do pagamento de lucros. “Todas as empresas que estudamos, exceto a Petrobras, têm fortes indicadores de lucros antes de impostos”, indica o relatório. Para a Moody’s, os níveis de endividamento da Petrobras vão continuar a subir até 2016 e uma melhora sustentável no fluxo de caixa da companhia ainda está “a alguns anos de distância, na melhor das hipóteses”. A situação não é pior pois a estatal possui bom caixa, com US$ 35 bilhões registrados em março, e assim consegue boa cobertura das dívidas. Ainda assim, a análise reforça a pressão sobre o aumento da produção, uma vez que condiciona um melhor fluxo de caixa e redução de indicadores de alavancagem ao sucesso do pré-sal: “A empresa continuará a gastar dinheiro e levantar quantias substanciais de dívida até que a produção do pré-sal comece a gerar significativo fluxo de caixa em 2016 e 2017". Apesar da ressalva, a Moody’s destaca o crescimento esperado para a produção da empresa, entre 5% e 10% anualmente, até 2017, atingindo um total de 3 milhões de barris de óleo equivalente por dia. O problema, segundo a Moody’s, são os riscos e os altos custos operacionais relacionados à exploração em águas profundas. “A produção offshore da companhia pressiona suas margens, enquanto a depreciação do real, a inflação e os custos brasileiros de equipamentos, serviços e mão de obra restringem a rentabilidade”, indicam as analistas. “Mas esperamos que a taxa de aumento de custos desacelere com as iniciativas de cortes da empresa”, completa. O relatório analisou a situação da Ecopetrol, sediada na Colômbia, da PDVSA, da Venezuela, a mexicana Pemex e ainda a YPF, da Argentina. Os destaques foram para a Colômbia, com estabilidade regulatória e boas condições fiscais, e para o México, que corre para abrir seu mercado a investidores estrangeiros. A Moody’s ressalta que nos próximos dois anos, as cinco empresas estatais gastarão mais de US$ 100 bilhões anualmente para financiar seus projetos. “As companhias vão usar dívidas para financiar esses programas agressivos de investimento, colocando riscos adicionais aos seus investidores”, alerta a agência.

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