domingo, 14 de julho de 2013

SANTA MARIA É UMA BELLA FESTA

À esq, Felipão (motorista de Schirmer); de óculos, Alexandre Brasil; de costas, Clênio Pozzobom
O escritor norte-americano Ernest Hemingway achava que o destino do homem era enfrentar o perigo, a morte, e vencer. Recluído em Cuba, onde estava morando, ele começou a escrever o livro "Paris é uma festa" no outono de 1957 (equivale à primavera no hemisfério sul). Levou três anos para concluir este livro melancólico, mordaz, cruel mesmo. O enredo é real, os personagens eram reais, eram os escritores e artistas com os quais ele havia convivido em Paris no período de 1921 a 1926. O livro retrata aquele período de loucura pós 1ª Guerra Mundial, que era então tratada como a Guerra das Guerras. Havia muita loucura no ar, muito sentimento de urgência, muita necessidade de atordoamento das consciências. Era como se, naquele período, estivessem todos se preparando para o inferno que viria a seguir, e que foi a 2ª Guerra Mundial. Ernest Hemingway sabia o que era isso, porque tinha servido como enfermeiro e correspondente de guerra no primeiro conflito mundial. Depois, foi novamente correspondente na Guerra Civil Espanhola. Daquela turma dos atordoados da década de 20, em Paris, fazia parte gente de primeirissimo escalão na produção artística, como Gertrude Stein, James Joyce, Ezra Pround, F. Scott Fitzgerald. Pode se dizer que, agora, reedita-se em Santa Maria, mas sem qualquer requinte artístico, cultural, literário, aquela clima de festa permanente, de fim de festa, como se todos estivessem em grande urgência. Isto ocorre após uma sequência de tragédias que abalaram a cidade. A primeira foi a operação político-policial comandada pelo peremptório petista Tarso Genro, a famigerada e ilegal Operação Rodin, que liquidou com a vida acadêmica da cidade, abalou a Universidade Federal de Santa Maria e destruiu as duas fundações de apoio à instituição, a Fundae e a Fatec. Homens de pequeno perfil moral emergiram de dentro da universidade, com suas ambições mesquinhas, e prestaram-se ao papel de delatores incógnitos para dar origem à investigação político-policial. Centenas de milhões de reais foram perdidos em pesquisas científícas. O prejuízo material, hoje, poderia ser apontado como não inferior a um bilhão de reais, só considerando a Universidade Federal de Santa Maria, suas fundações, suas pesquisas, seus projetos, e na perda de renda e de produção acadêmica de estudantes e pesquisadores. Milhares de empregos foram liquidados. Como à passagem de uma bêsta apocalíptica se sucede outra, Santa Maria foi novamente atingida pela morte na madrugada de 27 de janeiro deste ano. O incêndio da boate assassina Kiss, a segunda bêsta apocalíptica, matou 242 jovens, grande parte deles estudantes da Universidade Federal de Santa Maria. Desta vez, contribuiu de novo para esta segunda grande devastação, a figura do peremptório petista Tarso Genro. Grande beneficiário da Operação Rodin, com a qual ganhou o governo do Rio Grande do Sul sem qualquer oposição, ele manteve e mantém em estado de total penúria o Corpo de Bombeiros. A corporação deveria ter tomado providências para impedir que permanecesse em funcionamento a boate Kiss, uma arapuca com mais de 1.000 frequentadores na fatídica noite de 27 de janeiro, quando no máximo poderia receber 600 pessoas. E a irresponsabilidade de um governo que não faz, como o do peremptório petista Tarso Genro, ficou agora explícita à exaustão durante o incêndio do Mercado Público de Porto Alegre, quando faltaram carros e outros equipamentos para o combate ao gigantesco incêndio. O acaso (o incêndio da boate Kiss) expôs também a postura indecentemente omissa da administração pública em Santa Maria. A começar pelo seu prefeito, Cezar Schirmer (PMDB), o qual demonstrou uma paralisia aterrorizante diante da tragédia que abateu a cidade. Mas, Santa Maria é uma Bella Festa, não é mesmo? Pensa que os homens da administração municipal se assustaram? Nada disso. Continuam em festa. Lembram das cenas do governador do Rio de Janeiro, comemorando com o empresário Fernando Cavendish e seus asseclas em riquíssimo restaurante em Paris, em uma dancinha com guardanapos na testa? Pois é, Santa Maria também tem disto. Homens públicos atualmente são tão indecentes que postam no Facebook as fotos de seus festas, os seus arreganhos bestiais, enquanto tanto gente geme de dor e luto diante da tragédia, ainda machucadas pela falta adicional de Justiça. Pois bem, em Santa Maria, os principais assessores do prefeito Cezar Schirmer prosseguem esbaldando-se em festas. E repetem Sérgio Cabral e Fernando Cavendish. Só que, na festinha escárnio de Santa Maria, os braços de Cézar Schirmer dançam de mãos dadas em rodinhas, como se fossem crianças da pré-escola: "Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...." Os mais entusiasmados são Alexandre Brasil, secretário substituto de Obras. O titular é Tubias Calil. Na "ciranda cirandinha" também entra o motorista do prefeito Cezar Schirmer, conhecido como "Felipão" (tudo demonstra ser uma grande "familia"). E lá está também alguém que, aparentemente, não tem nada a ver com a prefeitura de Santa Maria, mas é muito ligado ao esquema dominante. É o dono de loja de carros usados Clênio Pozzobom. Ele e o secretário de Obras, Tubias Calil, são grandes amigos. Tubias Calil também é o homem que providenciou advogado para defender o prefeito Cezar Schirmer nas incríveis omissões da prefeitura no caso da boate Kiss. E completa o rol das figuras em festa o presidente do PMDB em Santa Maria, Robson Zin. Ele foi nomeado procurador da Câmara Municipal, aquela mesma onde gravação flagrou vereadores integrantes de CPI discutindo o destino das investigações sobre a tragédia da boate assassina Kiss, e nada de maneira republicana. Para completar, a mulher do secretário de Obras é dona de empresa de eventos, que se chama sintomáticamente de "Bella Festa". Muito adequado à realidade atual de pura fantasia oficial.

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