quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
TERCEIRO ANO DE INFLAÇÃO ACIMA DA META CONFIRMA DIFICULDADE DE DILMA EM RETOMAR O CONTROLE DOS PREÇOS
O governo petista de Dilma Rousseff recebeu com uma certa cautela o resultado do IPCA-15 de dezembro, de 0,69%, que confirmou reajustes de preços disseminados por toda a economia. A taxa, segundo o economista Luiz Otávio de Souza Leal, do Banco ABC Brasil, ficou acima tanto do 0,54% de novembro, quanto do 0,56% do mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, a prévia do índice oficial de inflação ficou em 5,78%, abaixo dos 6,56% de 2011, mas muito longe dos 4,5% definidos como meta pelo Conselho Monetário Nacional. Foi o terceiro ano seguido em que o indicador ficou distante do objetivo perseguido pelo Banco Central. Leal chama a atenção para um fato importante: apesar de o grupo alimentação continuar a ser a maior responsável individual para o índice geral (0,23%), acabou contribuindo com apenas 0,03% da aceleração de 0,15% na comparação mensal do IPCA-15. "Na frente dos alimentos, tivemos o grupo despesas pessoais, com contribuição de 0,08%; habitação, com 0,06%; e transportes, com 0,05%", afirma. Ou seja, já não há mais a desculpa para o Banco Central dizer que o País teve que acomodar choques de preços dos alimentos, movimento que começou com a forte seca dos Estados Unidos. A inflação realmente está presente em todos os grupos de preços que compõem o indicador. No caso das despesas pessoais, destaca o economista, houve aumento dos cigarros, de 2,66% em dezembro, com contribuição de 0,02% para o índice geral. Do lado dos transportes, novamente o item passagens aéreas foi o destaque, com variação de 17,08%, contribuindo diretamente com 0,09% (13% do total) para a disparada do IPCA-15. Não à toa, o 0,69% ficou acima da mediana estimada pelo mercado, de 0,64%, e das projeções de Leal, de 0,67%. "Além das passagens aéreas, que conseguiram subir mais do que os 11,80% apurados em novembro, tivemos como surpresas para cima a resiliência dos vestuários em desacelerar e a variação de 0,82% dos empregados domésticos", ressalta. Na visão de Leal, se o 0,69% não foi bom tanto pelo nível, por ter vindo acima do esperado, os resultados analíticos também não podem ser considerados auspiciosos. "No caso dos serviços, tivemos uma variação de 0,88%, uma bela aceleração com relação aos 0,71% de novembro, sendo o maior resultado desde o 1,38% de fevereiro deste ano quando, sazonalmente, temos o impacto do aumento das mensalidades escolares", destaca. Segundo Leal, desconsiderando esse mês (ou seja, não considerando fevereiro em nenhum ano), um resultado tão alto só havia ocorrido em janeiro de 2011 quando variou exatamente 0,88%. "Com isso, o acumulado em 12 meses para os serviços passaram de 7,76% para 8,16%, o maior resultado desde os 8,83% de janeiro deste ano", frisa. Portanto, ressalta o economista do ABC Brasil, devemos lembrar que, a partir de fevereiro, houve uma mudança de metodologia que puxou o resultado para baixo. "Se, no caso dos serviços, podemos considerar que o resultado está muito contaminado pela variação das passagens aéreas (o resultado sem esse item seria ao redor de 0,50%) no caso dos núcleos isso não pode ser usado como desculpa. A média das metodologias ficou em 0,59% (7,2% anualizado), o maior resultado desde abril de 2011, levando o acumulado em 12 meses a 5,70% " explica. No entender de Leal, a trajetória da inflação parece ser de alta seja qual for o ângulo utilizado para análise. "Obviamente, que o resultado de dezembro, especificamente, está contaminado pelo impacto das passagens aéreas, mas considerando que o IPCA-15 fechou o ano em 5,78%, não devemos ficar aliviados com o fato desse número ser menor do que os 6,56% de 2011", diz. Ele acrescenta que, usando o IPCA-15 para projetar o IPCA de fechamento do ano, as perspectivas não são das mais favoráveis. "Mesmo considerando uma certa estabilidade do grupo alimentação, mudamos o nosso intervalo de variação para o IPCA de dezembro, de 0,65% a 0,70%, para 0,70% a 0,75%, de modo que o IPCA fecharia 2012 entre 5,75% e 5,80%", conclui.
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