Casou uma enorme surpresa a nota do grupo RBS (Grupo Brasil Sul de Comunicações), publicada na página 18 do jornal Zero Hora, admitindo que o sargento brigadiano César Rodrigues de Carvalho espionava pessoas a seu serviço. O reconhecimento público da RBS é inédito na imprensa brasileira e tem efeitos devastadores para a credibilidade do grupo jornalístico do Rio Grande do Sul. É inacreditável que um grupo de comunicação reconheça que incentivava uma prática de violação constitucional de direitos das pessoas que eram espionadas pelo sargento a seu serviço. Mais inacreditável, ainda, que a RBS admita que "privatizava" os serviços de segurança do Estado para satisfação de seus interesses, não interessa de que tipo. Jamais a RBS informou a seus leitores que utilizava esse tipo de fonte para rechear as suas reportagens. No texto, diz a nota de RBS: "Rodrigues era fonte de informações à imprensa”. Ou seja, usa um eufemismo, troca “RBS” por “imprensa”. E então admite as relações permissivas que mantinha com o sargento. Os dados informados pelo sargento para a RBS referiam-se a pessoas envolvidas em ocorrências, inquéritos policiais e processos judiciais, com a finalidade de embasar matérias jornalísticas. Agora fica faltando que a RBS admitia os tipos de relações carnais que entretém com a Polícia Federal e com o Ministério Público Estadual. Quanto à Polícia Federal, no mínimo em duas oportunidade os veículos de comunicação do grupo jornalístico foram avisados para dar cobertura a ações policias que estavam em curso: na Operação Rodin, para que fossem fotografadas algemadas pessoas de grande destaque público, as quais foram providencialmente desembarcadas do camburão na frente do prédio da Superintendência do órgão, na Avenida Ipiranga, a poucos metros da sede do Grupo RBS, e agora durante o desenrolar da operação de investigações no Banrisul, quando os repórteres da RBS puderam fazer providenciais gravações da operação de apreensão de documentos na agência de publicidade SLM. No outro caso. No caso do Ministério Público Estadual, parece que ele "terceirizou" suas operações mais espetaculosas em benefício da RBS. Muitas dessas operações são derivadas de atuações de promotores da "área do grampo", ou seja, especialistas em operação do "Guardião", sistema de escuta de gravações de telefonemas, torpedos e e-mails. E ainda tem mais: esta RBS, assim como o Ministério Público Estadual, mostram uma grande seletividade na escolha de seus alvos. Por exemplo: investigam e "escracham" um sargentinho da Brigada Militar, mas deixaram, deixam, de investigar o major brigadiano Fábio Duarte Domingues, que bisbilhotava para o PT durante a CPI do Detran, em 2009, na Assembléia Legislativa. Os grandes beneficiários imediatos da arapongagem do major, cedido pela Brigada Militar para a coordenadoria do PT, eram os deputados estaduais petistas Bohn Gass e Stela Farias. É insuportável esta situação para os gaúchos. Mas os tempos são muito estranhos, tão estranhos que a OAB se acumplicia com esta desídia do Ministério Público, com seu tremendo silêncio. O Brasil já viveu uma ditadura. Muitas das pessoas que aí estão na área pública viveram no tempo da ditadura militar e a combateram. Mesmo quando havia gigantescas dificuldades para se fazer qualquer movimento de oposição, as pessoas encontravam brechas para se opor à ditadura. Hoje, impera a total canalhice, da imobilidade geral. E são fatos como esse que solapam a democracia todos os dias no País.
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