Menos de duas semanas antes do acordo nuclear entre Brasil, Turquia e Irã, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou em uma carta a Lula que o acerto da troca de combustível nuclear com Irã criaria confiança no mundo. Um dia após o acordo, os Estados Unidos receberam com ceticismo o acordo, contrariaram os pedidos brasileiros e apresentaram uma resolução por sanções ao Irã na ONU. A agência de notícias Reuters recebeu trechos do documento, enviado há 15 dias. Nela, Obama retoma os termos do acordo que o Grupo de Viena havia proposto no ano passado, cujos principais elementos constam no acerto entre Brasil, Turquia e Irã, como Lula ressaltou. “Do nosso ponto de vista, uma decisão do Irã de enviar 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento para fora do país geraria confiança e diminuiria as tensões regionais por meio da redução do estoque iraniano” de urânio levemente enriquecido, diz Obama. “Nós observamos o Irã dar sinais de flexibilidade ao senhor e outros, mas, formalmente, reiterar uma posição inaceitável pelos canais oficiais da Agência Internacional de Energia Atômica”, acrescentou o presidente dos Estados Unidos. “O Irã continua a rejeitar a proposta da AIEA e insiste em reter seu urânio de baixo enriquecimento em seu próprio território até a entrega do combustível nuclear”, afirmou Obama na carta. O Brasil, que mediou com a Turquia o acordo com o Irã, alega que a carta de Obama inspirou a maioria dos pontos da Declaração de Teerã, por meio da qual o Irã concorda em depositar os 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5% na Turquia. Em troca, o país receberia 120 quilos de combustível para um reator de pesquisas médicas localizado na capital iraniana. Após o anúncio do acordo, no entanto, os Estados Unidos anunciaram que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Reino Unido, França, China, Rússia) concordaram com um esboço de resolução contendo novas sanções à república fascista Islâmica, por seu programa nuclear. Os Estados Unidos disseram que o Irã apenas assinou o acordo para evitar as sanções e ressaltaram que as sanções só seriam canceladas se o país provasse os fins pacíficos de seu programa nuclear e interrompesse de vez o enriquecimento de urânio a 20%. Segundo a Declaração de Teerã, o Irã se compromete a notificar à AIEA, por escrito, por meio dos canais oficiais, sua concordância com os termos do acordo em até sete dias a contar da data do documento. Esse prazo se expira nesta segunda-feira. Após o anúncio do acordo mediado por Brasil e Turquia na segunda-feira, autoridades iranianas afirmaram que o país manterá suas atividades de enriquecimento de urânio, ao que Estados Unidos e outras potências ocidentais se opõem. Diz o jornalista Reinaldo Azevedo: "O título que está na Folha Online, com base em informações vazadas à Reuters, é este: “Antes de acordo, Obama disse a Lula que tratado nuclear com Irã criaria confiança”. É o Itamaraty trabalhando. Cartas trocadas entre presidentes só vazam com a concordância do remetente e/ou do destinatário. Como não foi Obama que a tornou pública, então foi Lula, por intermédio de Celso Amorim e sua turma. A idéia, como se nota, é caracterizar Obama como contraditório e sugerir que ele incentivava o “acordo” porque, sei lá, talvez não estivesse acreditando na sua viabilidade. Prestem atenção, no entanto, ao que vai em negrito no post abaixo. De antemão, o presidente americano deixa claro o que consideraria inaceitável nas negociações com o Irã: a possibilidade de o país continuar a enriquecer urânio. Ora, qual é o sentido da “troca”? Fazer fora do país o que se considera inaceitável que se faça dentro. Sem essa interdição, a troca é só um truque para enganar trouxas. Onde o governo brasileiro está tentando vender uma contradição existe, na verdade, coerência e aviso prévio sobre os caminhos que o Irã não deveria percorrer. Em outubro do ano passado, o país já havia concordado com a troca; recuou porque não aceitou os demais termos da proposta. No que consistiu o grande “acordo” costurado por Brasil e Turquia? “Vamos esquecer os demais termos; limitemo-nos à troca”. Ora… A divulgação da carta é uma tentativa de ganhar a opinião pública, nada além disso. E, de certo modo, é também uma rendição aos fatos. Restou ao Brasil voltar à velha desculpa de manual: “A culpa é duzamericânu”. É como se Rússia, China e França, por exemplo, todos eles um tanto antiamericanos em graus variados e por diferentes motivos, fossem obrigadas a concordar com a Casa Branca. A defesa das sanções não é feita só pelos Estados Unidos, mas pelas cinco potências. Vazar a carta de Obama para tentar criar marola, como se o presidente americano estivesse faltando com a palavra empenhada, é só mais uma má-criação da diplomacia megalonanica. Já apontei a proximidade entre o cérebro e o fígado de Amorim. Agora, parece que trocaram de lugar".
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