Até março passado, Lia Cecília da Silva Martins sabia muito pouco sobre a história da guerrilha do Araguaia. Agora, faz parte dela. É, muito provavelmente, filha dela. No último dia 11 ficou pronto o laudo que aponta fortes coincidências nas características genéticas pesquisadas em Lia, de 35 anos, e nos seis irmãos e irmãs do guerrilheiro Antônio Teodoro de Castro, o Raul, desaparecido na aventura terrorista montada pelo PCdoB no final da década de 60 no Araguaia. Antonio Teodoro de Castro morreu em 1974. Relatos no Araguaia indicavam que Raul teve uma filha ao final da guerrilha com uma camponesa conhecida por Regina. A criança jamais apareceu. Os parentes de Raul acreditam agora, com base no laudo genético e na história de sua vida, tê-la encontrado. Responsável técnico do laboratório Biocroma Clínica de Exames de DNA, de Goiânia, Ricardo Goulart Rodovalho ressalta que, para atestar a paternidade, teria que ser investigada a composição genética da mãe ou de seus parentes. Mas isso não o impediu de dizer à família haver 90% de possibilidade de Lia ser a filha perdida de Raul, tal o número de coincidências constatadas. "O que observamos nesse caso é que, na análise de 21 marcadores de DNA, achamos 18 coincidentes", explica ele. "Os outros três não foram excluídos. Apenas nos faltou informação para poder estimar um índice", diz ele, classificando de "posição conservadora" o que escreveu no laudo. Raul sumiu na selva amazônica em 1974, aos 25 anos, com a aventura militar terrorista do PCdoB já desarticulada. Desde 1980 a família busca seus restos mortais. Em 2009, ao percorrer mais uma vez o sudeste do Pará e o norte de Tocantins, a advogada Mercês Castro, de 49 anos, irmã de Raul, falou a jornalistas sobre o relato que recebera de um ex-guia dos militares: o guerrilheiro tivera uma filha com Regina, moradora da região, morta por ter aderido aos comunistas. O ex-guia disse ainda que militares levaram a menina e mais sete crianças que os guerrilheiros tiveram ao longo dos anos que passaram na região. Uma reportagem foi lida por um amigo de Lia, que viu semelhanças com os relatos que ouvira dela. Lia disse que foi criada na capital paraense por um casal que mantinha o semi-internato Lar de Maria. Segundo lhe contou o casal, que já morreu, ela foi levada ao abrigo com poucos meses de vida por um delegado e um soldado. O delegado teria falado que o bebê fora sequestrado em Goiás. Os responsáveis pelo orfanato se afeiçoaram à criança e a adotaram. O sobrenome dado é o mesmo da família. A data de nascimento, 1º de julho de 1974, foi inventada.
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