O governo vai propor um cálculo alternativo para a aposentadoria àquele que foi aprovado pela Câmara e que certamente será referendado pelo Senado: 85/95. Por essa fórmula, mulheres se aposentariam quando a soma entre contribuição e idade alcançasse 85, e os homens, 95. Para receber o teto da aposentadoria, elas teriam de ter contribuído por pelo menos 30 anos, e eles, por 35. E que alternativa seria essa? Qualquer uma. O governo não havia pensado no assunto, eis o busílis. O fator foi criado em 1999, no governo FHC, quando os gastos com a Previdência ultrapassaram a arrecadação. Criou-se uma fórmula para desestimular as mulheres de se aposentar antes dos 60, e os homens, antes dos 65. Dado o modelo aprovado na Câmara, um homem que começasse a trabalhar aos 17 poderia se aposentar aos 56. Por quê? Simples: aos 56 anos, ele teria contribuído por 39 anos. Trinta e nove mais 56 somam 95. Começando aos 17, uma mulher se aposentaria aos 51: contribuiria por 34 anos, que, somados aos 51, resultam em 85. Vale dizer: para quem começasse a trabalhar aos 17, a aposentadoria ocorreria nove anos antes em relação ao modelo que está em vigor. O fator previdenciário foi criado por necessidade, não por boniteza. Estima-se que, de 1999 até agora, a Previdência já economizou R$ 55 bilhões. O PT e a CUT, então, fizeram um escarcéu danado. A mudança foi uma das peças de resistência da campanha eleitoral de Lula em 2002. Inventou-se a canalhice de que FHC teria chamado os aposentados de vagabundos. E que se note: em 13 anos no poder, os companheiros, mesmo com maioria esmagadora no Congresso, não mudaram as regras. Ora, se o governo FHC havia criado o fator só por maldade, por que o PT, que é bonzinho, não acabou com ele? Porque quebraria a Previdência. Pode faltar caráter aos valentes, mas burros não são. O governo criou um fórum com as centrais sindicais para debater o assunto. Estava cozinhando o galo. Agora, vai ter de se virar. Michel Temer, com a tarefa quase impossível de ser coordenador do governo, pede um prazo de 60 dias. Já há espertalhões ao redor de Dilma querendo adotar a fórmula aprovada na Câmara e pronto. Afinal, calculam, o custo nessa gestão será pequeno. Na ópera bufa planaltina, cada um cumpre o seu papel: Joaquim Levy, por exemplo, já falou em aumentar impostos… O PSDB votou unanimemente em favor da proposta aprovada na Câmara. É curioso que setores da imprensa lhe cobrem coerência, não? A falsa questão: se um governo tucano criou o fator, por que o partido vota agora para, na prática, extingui-lo? A pergunta só pode ser piada. De fato, o governo FHC criou o cálculo atual, o que concorreu, diga-se, para que perdesse a eleição em 2002. Os petistas sempre disseram que era possível fazer diferente. Ora, os companheiros estão no poder. Pois que se faça, então, diferente. Queriam o quê? Que o PSDB, depois de ter arcado, na eleição de 2002, com o custo da criação da atual fórmula, ajudasse agora seus adversários a manter o modelo, enquanto Lula sai por aí a fazer proselitismo em sindicato, acusando o Congresso de votar contra os trabalhadores? Esse episódio revela a bagunça que tomou conta do governo Dilma. Nove petistas, incluindo o vice-líder do governo na Câmara, Carlos Zarattini, que também foi relator da MP 664, votaram contra a orientação do Planalto. Ele entregou o posto de vice-líder. No Senado, o PT já deixou claro que vai liberar a bancada para votar em favor do novo cálculo. Dilma convidou Michel Temer para ser coordenador político do governo. Ele não tem como ser coordenador político do PT, especialmente quando Lula decidiu, na prática, sabotar o esforço fiscal porque quer o seu partido na rua prometendo generosidades. Ah, sim: oficialmente, o PT combate o fator previdenciário há 16 anos. Nos últimos 13, era só de mentirinha. Tanto é assim que a emenda que institui o novo cálculo é de Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), não de Vicentinho (PT-SP), ex-presidente da CUT. A farsa desses caras poderia ser verdadeiramente épica se eles não fossem tão vulgares. Por Reinaldo Azevedo
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