Ai, ai… Lá vamos nós. O Senado está prestes — e eu ainda alimento esperanças de que se faça a coisa certa — a referendar o nome de Luiz Edson Fachin para o Supremo. Ele pensa o que pensa. Deu nó no verbo para se dizer, hoje em dia, um defensor da família e da propriedade privada, sem, no entanto, renunciar ao que escrevera e propusera antes. Que os senhores representantes do povo pensem bem. E que pensem ainda melhor nos quadros que a presidente Dilma anda escalando para ocupar alguns postos-chave do estado brasileiro, não do governo. Nesta quinta, a Comissão de Relações Exteriores do Senado sabatinou dois nomes: os indicados para a embaixada da França e para a OEA (Organização dos Estados Americanos): respectivamente, Paulo Cesar de Oliveira Campos e Guilherme Patriota. O primeiro foi aprovado por unanimidade: 13 a zero. Vai para a França com o consenso dos senadores que participaram da sabatina se for aprovado pelo plenário. O outro, Patriota, passou raspando: 7 a 6. E, vocês verão, deveria ter sido recusado com todos os méritos. Pois é… O sobrenome não lhes é estranho: Guilherme é irmão de Antonio Patriota, ex-ministro das Relações Exteriores, demitido por Dilma em 2013 — oficialmente, pediu para sair. Guilherme se tornou relativamente conhecido por aqueles que acompanham o tema porque se descobriu, no ano passado, que a Missão Permanente do Brasil na ONU havia alugado para ele, em Nova York, um apartamento ao custo mensal de US$ 23 mil, na nobilíssima região do Upper West Side. Sim, leitor, é uma dinheirama mesmo para Nova York. Querem algo ainda mais interessante? Ele era apenas o número dois da missão. Quem era o número um? Ora, Antônio, seu irmão. Depois de demitido, Dilma o nomeou para a chefia da Missão Permanente na ONU. Parece que o doutor preza pelo conforto do maninho. Sigamos. Eu sei que ando aqui a estimular o Senado a tomar decisões duras, mas fazer o quê? À Câmara Alta não caberá apenas recusar o nome de Fachin. Agora há outro: Guilherme Patriota. Não poderia haver pessoa mais inadequada para o cargo na OEA. Chega a ser quase uma provocação para quem acompanha a área. Entre 2010 e 2013, ele foi assessor especial para Assuntos Internacionais — vale dizer: o número dois de Marco Aurélio Garcia, que é o verdadeiro responsável por boa parte dos desastres da política externa brasileira nas gestões petistas. Aliás, durante a sabatina, Patriota cantou as glórias de Marco Aurélio. Não custa lembrar que uma das contribuições recentes do Brasil na área, que assombraram o mundo, foi o discurso de Dilma na ONU propondo diálogo com o Estado Islâmico. Não só isso: o candidato a uma vaga na OEA também se disse uma espécie de discípulo de Emir Sader, que muita gente ainda toma como um “intelectual”. Até aí, poderia ser só uma questão de gosto ou de falta de leitura. Ocorre que o dito “professor” é um dos mais entusiasmados defensores do bolivarianismo. Sim, isto mesmo: aquele que Dilma escalou para ser o nosso homem na OEA — o cargo está vago há quatro anos — é, ele também, um entusiasta do regime venezuelano, que matou 40 pessoas nas ruas no ano passado. Admirador do socialismo bolivariano, sim, mas ele gosta de morar bem. O lulo-petismo tem a fantasia estúpida de substituir a Organização dos Estados Americanos pela Unasul nas questões que dizem respeito apenas à América do Sul. Na OEA, resolveu estabelecer uma ridícula política de confrontação com os americanos e de alinhamento automático com uma ditadura asquerosa como a da Venezuela — país colocado na lista dos que representam ameaça para os EUA. Num momento em que o regime de Nicolás Maduro opta pela ditadura escancarada, Dilma tem o topete de indicar um “filobolivariano” para a OEA. O Senado só tem uma coisa a fazer: recusar o seu nome. A única notícia boa é que, qualquer que seja o embaixador, o Brasil dispõe de um imóvel em Washington, para onde irá o aprovado. Não vai precisar pagar aluguel milionário. O Brasil precisa escolher com quem falar no mundo, quais são seus interlocutores privilegiados, quem são seus parceiros. Guilherme Patriota, escoltado pelo pensamento do bolivariano Emir Sader e do exótico Marco Aurélio Garcia, tem de ser recusado. Ah, sim, senhores senadores: Guilherme Patriota foi um dos palestrantes do 19º Encontro do Foro de São Paulo, ocorrido na capital paulista, em 2013. Vocês devem saber que o tal “Foro” é a reunião de partidos de esquerda da América Latina e Caribe, cuja tara principal é pensar mecanismos para superar a democracia representativa. Na palestra, o homem deitou e rolou em defesa dos descalabros da política externa brasileira. A CONSTITUIÇÃO NÃO ATRIBUI AO SENADO A MISSÃO DE APROVAR OU REPROVAR OS EMBAIXADORES PARA QUE ELE DIGA SEMPRE SIM. O placar apertado na Comissão de Relações Exteriores mostra que há uma chance de fazer a coisa certa.. Por Reinaldo Azevedo
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